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Os cem anos da Academia

Mais do que nunca, temos que homenagear a Academia de Letras do Estado
O governador Renato Casagrande, presumo, prevendo o discurso delirante do presidente Jair Bolsonaro na Organização das Nações Unidas (ONU), ofereceu uma resposta adequada: recebeu os membros da Academia de Letras do ES (AEL), na segunda-feira (20), no salão nobre do Palácio Anchieta, para comemorar o centenário da entidade. Sobre o tema, o escritor Pedro J. Nunes, com emoção, diz que se orgulha de pertencer “a essa casa e comungar com os meus confrades a crença num futuro melhor a partir da perspectiva da leitura”.

Por sua vez, José Roberto Santos Neves, emocionado, anuncia que “foi uma noite de encontros, reencontros e de celebração”. Como se não bastasse, Francisco Aurélio Ribeiro comunica, nas redes sociais, o lançamento do selo comemorativo do centenário da AEL.

A propósito, outro dia comentei nas redes sociais, digo isso sem supressão de qualquer outro nome, que o meu querido professor, na faculdade de Direito de Cachoeiro, magistrado e acadêmico da AEL, Renato Pacheco, era uma das pessoas mais extraordinárias a que conheci. Entusiasta da Academia – um enriquecia o outro -, apenas sussurrava timidamente: “Plantaram um buriti em minha porta, /e plácidas vacas pastam a meu lado. /A realidade não existe, então? / Céu e inferno estão em minha mente. /Mãos e pernas, tae-kwon-do, /o mundo cada vez fica menor, /juntando crianças brasileiras e lutas coreanas”.

Nele não havia lugar para qualquer exagero. O exigente jornalista Rogério Medeiros me perguntava: “Wilson, você conhece alguém melhor?”. Renato Pacheco. Era ele elegante no trato, de corpo inteiro, escancarando-nos sua alma, na conclusão de sua vida. Um belo exemplo para ontem, hoje ou amanhã. Já meio adoentado, fui fazer-lhe uma visita. E ele, de corpo inteiro, disse-me que se tivesse que fazer tudo de novo, faria exatamente como fez, apenas com um outro retoque, sem grande importância. Isto porque, no fundo, um eventual desencanto com qualquer luta na vida, fazia parte dela. E me perguntava: “Quantas vezes na história da humanidade o êxito pessoal, a vitória final, foram negados aos melhores ou aos maiores?”.

Ele e a Academia nunca foram contemplativos. Pássaros de imensa envergadura. Era uma luta histórica e digna. Lutaram, a seu modo, a favor do regime democrático. Prof. Renato tinha a estatura de Alceu de Amoroso Lima, e a Academia foi sua tribuna. Exatamente porque, em certos momentos, a sociedade tem a pretensão de agir sem a consciência; o resultado de tais inconsciências encontra-se registrado na história de todos os povos, em várias épocas de violência e preconceito. Assim também os descaminhos e abusos de regimes autoritários ficaram registrados, e deles a História do Brasil pedirá contas aos responsáveis.

Muitas vezes o próprio acadêmico não percebe que está fecundando a cultura e continua sendo, até o passado mais próximo, infinitamente mais importante do que seria permitido pressagiar diante da profundidade do seu espírito ou a importância de sua personalidade. Ao final, o perfil do professor Renato é desenhado em cores, que eu poderia dizer, com discrição, em cores suaves, como um misto de Dom Quixote, D’Artagnan e Cirano. É o retrato fiel do idealista que não se corrompeu.

Mais do que nunca, temos que homenagear os 100 anos da Academia. Sem esquecer da luta de todos.

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