sábado, novembro 23, 2024
23.9 C
Vitória
sábado, novembro 23, 2024
sábado, novembro 23, 2024

Leia Também:

Os desclassificados

Quem, nos alegres carnavais de outrora, de máscara e sem vírus, se importava de onde vinha a música?

Não adianta chorar nem tentar se esconder, eles nos alcançam, não importa se os odiamos ou mesmo se clicamos naquele X que, garantem, fazem com que se dissolvam no poluído ar da Internet. Feito mágica! Mas esse não é o X do problema. Começaram timidamente, hoje invadem nossas telas sem cerimônia – “Estamos usando cookies…” e ninguém ousa recusar. Concordo, aceito, acho justo, mas não estou interessada e quero ir em frente. Outras vezes o X é invisível, você nunca acha. Qual é a letra mais usada no alfabeto?

*

Hoje é o Dia Internacional da Propaganda, seja ela enganosa, útil, fútil, ou idiota. Invasiva? Você decide. Estamos tomando toda sua tela? Estão, mas adianta reclamar? É via de mão dupla, precisamos de você tanto quanto você precisa de nós. Como? Esse dia ainda não existe? Propaganda, anúncio, classificados, marketing, seja lá que nome tenham, nasceram com a humanidade. Adão pôs uma folhinha de parreira e Eva não resistiu. Daí pra frente, nunca mais faltou um anúncio para nos convencer que isso é muito melhor que aquilo. No melhor do filme, no meio da novela, seja no trem ou no bonde… 

*

Veja ilustre passageiro, o belo tipo trigueiro que o senhor tem ao seu lado. E no entanto acredite, quase morreu de bronquite, salvou-o o Rum Creosotado. Isso em 1920. Observe as nuances gramaticais: o tipo trigueiro era homem ou mulher? Naqueles idos a gramática era seguida à risca – era do sexo feminino, mas o rum salvou o tipo trigueiro. E vamos nós acompanhando a evolução do monstro: lê-los, vê-los, absorvê-los ou absolvê-los? Sai da linha ou o trem te pega.

*

Outra propaganda brasileira que fez história: Miguel Gustavo criou um jingle para o Toddy Quem sabe, sabe / Conhece bem / Por isso Toddy/ Prova o que tem. Joel de Almeida e Carvalhinho a levaram para o Carnaval de 1956: Quem sabe sabe, conhece bem, como é gostoso gostar de alguém. Todo mundo gostou. Um anúncio da Brastel também virou a Marchinha da Banana. Quem, nos alegres carnavais de outrora, de máscara negra e sem vírus, tava se importando de onde vinha a música? Viva o Zé Pereira!

*

A propaganda faz sucesso porque mexe com a libido – uma espécie de hipnose coletiva. Basta repetir mil vezes, e acreditamos piamente. A mensagem fica registrada no inconsciente e na hora da compra – bumba! Vou levar esse que já conheço. Ou basta fazer bem feito: se gostamos da imagem e repetimos o refrão, absorvemos o veneno e o aceitamos como verdade verdadeira. Tal como as fake news – de tanto ir ao poço o balde já traz a água sozinho.

Mais Lidas