Onde esperar é preciso
Vendendo saúde ou doente do corpo ou da alma, todo mundo tem seu dia de ir ao médico. Seja para consertar o computador ou fazer um check-up. Com seguro ou sem seguro, com dinheiro ou sem dinheiro, ninguém escapa. Mesmo se os resultados forem satisfatórios, ninguém gosta. Desperdício de tempo e dinheiro, dizem uns; estressante e extenuante, dizem outros. Cansativos, assustadores e monótonos, dizem todos.
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Até que os médicos são simpáticos – apertam a mão e mostram o sorriso de quem já faturou só na parte da manhã o que não ganhamos no mês inteiro. Mas os guardiões dos labirínticos corredores das salas de espera quase nunca o são. Claro, o salário é igual ao nosso. Sem falar naqueles longos questionários preenchidos e nunca lidos, com perguntas que nada têm a ver com o corpo ou o estado de espírito do paciente impaciente, e servem apenas para encurtar o tempo de espera na sala de espera.
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Quando finalmente chegamos na etapa final dessa via crucis e somos recebidos pela autoridade máxima, ouviremos o diagnóstico que pode salvar ou acabar com nossas vãs esperanças: “Você tem o direito de procurar uma segunda opinião, mas eu acho…” O mundo desmorona bem ali, na frente do julgador supremo, que tem um nome a zelar e não vai arriscar a carreira sem ter certeza de que o paciente tem apenas mais uma semana de vida. Oh vida!
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Seja com um final feliz ou doloroso, o problema maior dessa maratona de saúde é o tempo de espera nas salas de espera – onde esperar é preciso. Lá ficamos, vulneráveis, sozinhos com nossas preocupações, por longas horas, que nem naquela música do Chico, esperando, esperando…a sorte ou a morte, o fim da linha ou a estação seguinte. O que fazer nessa derradeira etapa do dia desperdiçado com a saúde?
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As opções variam. Evitar ler os cartazes enfeitando as paredes – só falam em doenças. Uma boa ideia é ler livros, caso caibam no bolso ou na bolsa; fazer palavras cruzadas, sudoku, ou ambos e ao mesmo tempo. O celular é um manancial infindável, desde que esteja carregado. Esse é o melhor lugar para ler/responder todos os e-mails atrasados, ou fazer a lista de boas intenções para os próximos anos. Rezar também é recomendado, caso não haja próximos anos armazenados no DNA.
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Já que vamos ao médico para cuidar da saúde, melhor seria fazer exercícios físicos. Porque perdemos cada dia mais tempo nas salas de espera, o consultório médico do futuro será uma bem equipada academia, trocando o sentar e esperar por malhar e melhorar. Quando o doutor ou a doutora adentrar o recinto, nós, pacientes impacientes, estaremos tão cansados que nem vamos nos importar com o diagnóstico.