A educação brasileira, que já não estava boa, piorou muito
Para mensurar o estrago da pandemia na educação, é fundamental estar no chão da escola pública.
Foram dois anos de embustes, sem retenção, que alguns especialistas falam até em 10 a 15 anos para recuperar. No chão da escola, a percepção é dramática. O alunado está matriculado dois anos à frente de sua real posição em nível de conhecimento, discernimento e responsabilidade. As professoras e professores estão se desdobrando em trabalho e criatividade para amenizar a situação, mas é como enxugar gelo.
Tomarei por referência o Ensino Médio, onde atuo e penetro mais o ambiente. Os ingressantes de 2022 chegaram sem os dois últimos anos do fundamental, exatamente aqueles que os prepararia para uma nova etapa, mais amadurecida, com a redução do lúdico e a inserção em um universo mais acadêmico. O resultado disto é um verdadeiro caos.
Um Ensino Médio infantilizado, semianalfabeto, que como o efeito de uma onda, recebeu assim o alunado do fundamental e precisa prepará-los para a universidade, com entrega de conteúdos e amadurecimento pessoal para a vida e o mercado de trabalho, com senso crítico, cidadão e protagonismo. Esta que sempre foi uma tarefa árdua para educadoras e educadores, agora, recebendo alunas e alunos despreparados, não dispondo de recursos materiais e tempo para recuperá-los, acaba reduzindo as exigências e passando o problema para a nova etapa.
Ainda há um outro grande problema, que é a evasão escolar. As escolas estão vazias, muitos jovens não retornaram, e os que retornaram estão sendo, de certa forma, mimados para ali permanecerem, até por que a categoria de educadores tem sempre o assombro do desemprego pelo fechamento de turmas. Por exemplo, não é incomum professoras e professores terem que conviver com estudantes grudados no celular durante as aulas.
Salvo exceções, a onda os entregará para as universidades, que precisarão também reduzir o nível de exigência, para entregá-los ao mercado em quatro a seis anos como profissionais formados.
Me parece que, nos próximos 10 ou 15 anos, aquela vala fétida da mediocridade estará ainda mais lotada.
O sistema educacional brasileiro não dá conta sozinho desta demanda. É preciso que estudantes e suas famílias integrem uma força-tarefa, bem assessorada por técnicos em educação, que debrucem sobre a questão e ofereçam propostas efetivas de acertos, numa tarefa para ontem, antes que a onda siga. Afinal, já foram para as faculdades estudantes que só cursaram o 1º ano do ensino médio e o concluíram na pandemia.
Para valorizar a educação, no sentido da entrega do mundo aos que chegaram, dentro dos conceitos de autoridade, responsabilidade e “amor mundi”, descritos por Hannah Arendt em seu texto A crise na Educação (1957 e tão atual), é fundamental que não se atropele os propósitos em nome do mercado e da velocidade do aprendizado imposta à revelia da efetiva formação.
Afinal, só uma educação (principalmente pública) de qualidade pode trazer esperança de dias melhores, com redução das desigualdades e inclusão social.
O tempo urge, a hora de agir é agora!
Everaldo Barreto é professor de Filosofia