Pergunto e Alexa não sabe a resposta
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Sofreu morte dolorosa mas comum em seu tempo, mas que depois dele ganhou um significado grandioso. Os séculos correram, os tempos mudaram, e essa história humilde de abnegação e amor incondicional ainda se sustenta, apesar desses tempos de aridez espiritual e indiferença religiosa, egoísmo social e desprezo pelas crenças e tradições que moldaram nossa cultura. Nesse domingo de abril celebramos não a morte, mas a ressurreição do menino que nasceu em uma manjedoura, cresceu entre pobres e leprosos, e nos mostrou o caminho da luz.
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Um profeta entre seu povo, mas diz o ditado, santo de casa não faz milagres. O menino distribuiu milagres à mão cheia, mas nenhum dos beneficiados levantou a voz para defendê-lo. Onde estavam os leprosos que ele curou, os cegos que voltaram a ver, os aleijados que puderam andar, os doentes que sararam? Que tipo de vida viveu o morto que ele ressuscitou? Onde se escondeu o centurião cujo filho ele salvou da morte?
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O menino dessa história cresceu entre os párias. Tivesse ele nascido entre reis e vivido como um marajá, teria sido tão popular quanto esses que hoje chamamos de influenciadores? Pessoas que determinam o que usamos e sentimos. O menino de sandálias de couro não calçou tênis de marcas famosas revestidos de ouro, não viveu em palácios servidos por mil criados. Na cabeça uma coroa de espinhos, ao invés das coroas de pedras preciosas guardadas em cofres de alta segurança. Ao invés de andar em carro aberto cercado por seguranças, o menino cavalgou um burrico.
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Foram muitas as lições que o menino nos ensinou, mas não aprendemos. Continuamos louvando os ídolos de pés de barro, os astros que brilham nas telas, os bajuladores, os mais ricos, os mais bonitos, os deuses que vociferam mais alto as profecias mais baixas. O menino disse: Deixai vir a mim as criancinhas, que delas será o reino dos céus. Mas as crianças crescem e esquecem que foram crianças. O caminho para o reino dos céus não está no nosso GPS. Pergunto e Alexa não sabe a resposta.
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Nessa Páscoa, choramos pelas crianças assassinadas em Blumenau. Choramos as vidas que não viveram, o futuro que não tiveram. Choramos as verbas levadas na enxurrada da nossa persistente corrupção, deixando tantas crianças sem teto, sem escolas, sem leitos nos hospitais, sem alimentação suficiente, sem vida digna. Choramos por todas as crianças atingidas pela violência, pelas crianças que não foram preparadas para se tornarem cidadãos responsáveis. Choramos por todas as crianças sem direito à ressurreição.