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Por trás das cortinas

Recordações e reflexões provocadas por um Tesla branco

Escondida atrás da cortina, vejo o vizinho chegar em um carro Tesla branco e estacionar na frente da casa, onde um pequeno poste elétrico foi instalado – enquanto ele dorme ou assiste a um jogo de beisebol na TV, o carro está sendo alimentado – sem danificar o já tão danificado meio ambiente? Por que não um ambiente por inteiro?

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O hábito de espiar por trás das cortinas remonta aos tempos de gregos e troianos, que por mais inimigos que fossem, eram vizinhos e tinham até parentes lá entre eles. Todos conhecem a história de um certo cavalo de pau… Por trás das cortinas do palácio do rei Priamo, a bela Helena fica na espreita, “Esse cavalo está parecendo coisa do Menelau…”

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Helena era a mais bela das mulheres, mas o carro elétrico da Tesla é feio e dizem que desconfortável. Mesmo assim, a cada dia um número maior deles circula pelas avenidas e highways. O futuro é o carro elétrico, garante Mr. Musk, mas seu Tesla é mais um a impregnar o ar que respiramos com baforadas de gás carbônico. Ou seja, um poluidor mais requintado. A melhor opção é o carro flex, garantem os entendidos.

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Houve outrora um carro elétrico brasileiro, quem ainda se lembra? O Itaipu, fabricado pela Gurgel. Era bom, mas o peso da bateria o tornou inviável. A Gurgel teve seus dias de glória, exportando carros com nomes bem brasileiros para vários países. Foi devorada pela invasão estrangeira, beneficiada pelo governo. Nos States of America, as empresas nacionais são protegidas contra o ataque alienígena; no Brasil as estrangeiras são as protegidas. E a Gurgel virou sucata.

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O mesmo aconteceu com a Fábrica de Linhas Estrela, do empreendedor e visionário Delmiro Gouveia, cuja saga já foi tema de um ótimo seriado da Globo. Delmiro foi assassinado e a autoria do crime nunca foi desvendada. Não estou acusando ninguém, pois essa guerra comercial aconteceu em 1917 e eu não estava lá, mas o adversário jogou no rio São Francisco todo o maquinário da fábrica Estrela, que produzia 216 mil carretéis de linha por dia, além das linhas de bordar e crochê. O tempo apaga as tragédias, e as Linhas Corrente ainda hoje costuram nossas roupas.

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Chegou a vez do boi, esse desditoso responsável pelo nosso churrasco. Indiferente aos desastres ecológicos, a venda da picanha continua em alta, apesar do preço. Uma vaca magricela grita na fachada do fast food de frango: “Comam mais frango!”. Ruminando tranquilo no pasto, o boi tem sido acusado de ser o maior emissor de gás carbônico. Não mais!

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Vozes mais esclarecidas absolveram o boi desse crime ignaro: o coitado não polui. “Comam mais carne”, grita o frango de volta. Quem são os verdadeiros vilões do efeito estufa? China (29,2%), Estados Unidos (11,2%), Índia (7,3%), União Europeia (7%). O Brasil ficou para trás (2,4%). Ser o primeiro nem sempre ganha a medalha de ouro.

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