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Quem desdisse?

Reflexões sobre o bom e velho dicionário

Não faz tanto tempo assim o dicionário era o rei das bibliotecas e livrarias, lugar de honra nas estantes, senhor absoluto da fala e da escrita, e muitas vezes do imaginado. Próprio ou impróprio? As pessoas podiam duvidar e discutir por longas horas sobre um acento mal assentado ou um sinônimo sinuoso, mas o que o dicionário disse estava aceito e sacramentado. Tivemos um distinto presidente da nossa república que proclamou, “Filo porque quilo”. Todos correram para o dicionário: Isso existe ou o excelentíssimo está caducando?

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Os verbos nos confundem, mais das vezes por falta de uso ou não uso por falta de estilo. A elegância é tão importante na escrita quanto no vestuário. Em terra brazilis, se ouve mais I love you do que Eu te amo. Eu te amaria em qualquer língua… Tá me confundindo com a Maria? Aquela sirigaita? Algumas conjugações são um enrola-línguas – Íamos indo pois iríamos nos arrepender se não fôssemos. Que fossa! Vinhas pela vinha quando vínhamos virar o vinho.  Ah, não foi bem assim, nós viríamos caso vós viríeis. Eu mesma giro as minhas contas e pulo o meu carro… veja como brilha! E sempre me maquio.

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Nosso carnaval veio de Portugal, que rima com maioral. Com o tempo foi mudando de nome e de jeito: entrudo, tríduo momesco, cordões, ranchos, zé-pereira atrás da bananeira. Folia, desfile. E tinha o corso: desfile de carros com participantes fantasiados – virou desfile de escola de samba. Vinícius de Morais, “se o amor é fantasia, eu me encontro ultimamente em pleno carnaval.

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Vender dicionários era uma profissão rentável – Iria o Pierrot a batucar de porta em porta… e as pessoas convidavam a entrar, até proviam um licor de genipapo ou um cafezinho feito agora mesmo. Digo-o no masculino porque nunca viríamos  uma guapa colombina a bater de porta em porta em tal oficio. Só vendiam roupa com etiqueta da Glória e produtos Avon.

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Em sendo um acumulador de palavras, o dicionário também é chamado pelos eruditos de glossário, léxico, elucidário, léxicon, vocabulário. Na voz do povo é tira-teimas, tira-dúvidas, pai dos burros, Aurélio, cambalacho, sabe-tudo. Também alfarrábio, que significa livro velho e grosso. Do livro “Alfarrábio”, de José de Alencar, “Cahia a tarde. A borrasca, tangida pelo nordeste, desdobrava sobre o oceano o manto bronzeado. Cahia: caía; borrasca: tempestade; tangida: empurrada; nordeste: um tipo de vento, não um nordestino. Assim disse o dicionário!

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