A partir dessa “normalização gradual”, Renato Casagrande destoa de outros gestores públicos
Com a abertura, mesmo que gradual e alternada dos estabelecimentos comerciais, e maior rigor na aplicação das normas de fiscalização, na realidade a medida representa uma contradição com as recomendações das autoridades médico-sanitárias. Com isso, o risco de contaminação é ampliado, e, em consequência, reduz ainda mais a capacidade de enfrentamento da pandemia.
Não há normalidade, pois a ameaça é real e, para comprovação dessa afirmativa, basta assistir o noticiário nas TVs, ver os jornais e as redes sociais. O cenário é aterrorizante e mais trágico quando revela que o vírus atinge em maior escala a população mais vulnerável, exibindo a cruel face do capitalismo, agravada, no Brasil, com as atitudes desconectadas do presidente Jair Bolsonaro, que demonstra não estar nem aí para o problema.
O destaque fica para os meios de produção e circulação dos lucros, justamente de onde saem pressões que atingem os gestores públicos e os levam a adotar medidas desfavoráveis e altamente nocivas à maioria da sociedade. Atuam por meio de mecanismos avançados, com os quais causam impactos sociais, da forma como é demonstrada na “Dialética do Esclarecimento”, na qual o filósofo Theodor Adorno, em parceria com Max Horkheimer, afirma que o saber está intrinsecamente ligado a processos de dominação, ou seja, o poder está mascarado pelo saber.
Nesse contexto, poderosos lobbies envolvem setores governamentais e mudam o direcionamento das ações. Estão nessa relação, extensa e muito prestigiada, confederações, federações e associações patronais, cujo papel principal é exercer influência nos corredores e gabinetes do poder público. O objetivo é, de um lado, exercer influência em benefício próprio ou de grupos e, de outro, mostrar e expandir conhecimento, que, direta ou indiretamente, irá favorecer seus próprios interesses.
A partir dessa “normalização gradual”, o governador Renato Casagrande destoa de outros gestores públicos, entre eles os do Nordeste, de São Paulo e Rio Grande do Sul, que seguem com as medidas indicadas pela ciência e com maior rigor no controle das atividades consideradas normais do dia a dia, a fim de conter a contaminação.
A situação envolve vidas humanas e como tal deve ser tratada, inclusive com a possibilidade do uso dos recursos do Fundo Soberano, que deveria ser um fundo para emergências. Criado em 2019, seria uma válvula de escape para enfrentar dificuldades de setores mais atingidos. A volta à “normalidade” representa uma ameaça à sociedade e dessa forma deve ser encarada..