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Romance Carioca

Centenárias, as canções “Carinhoso” e “Rosa”, do Pixinguinha, são ainda lembradas e constantemente renovadas na modernidade

Isolada em prisão domiciliar por tempo indeterminado, ando revivendo músicas antigas. Ou melhor, ‘velhas valsas, valsas tristes’, como cantava Orlando Silva. Músicas que estavam na moda muito antes da minha chegada a esse vale de lágrimas, como era moda se qualificar o mundo que habitamos. Foi o auge das canções trágicas, como os tangos de Gardel, sempre lamentando algum amor perdido, mas nunca esquecido. Todos sofriam amargamente por serem abandonados e jamais se recuperavam da ingratidão. 

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Vicente Celestino: “Tornei-me um ébrio e na bebida busco esquecer / aquela ingrata que eu amava e que me abandonou.” Vai ver, tratava mal a amada, que se mandou e ainda ganhou a pecha de ingrata. Variando esse discurso, entre as velhas canções de antanho, Carinhoso e Rosa, do Pixinguinha, são ainda lembradas e constantemente renovadas pelos deuses da modernidade, como Caetano e Marisa Monte. No entanto, são senhoras centenárias, e se Rosa tem uma letra um tanto ou quanto embolada, embora bela, Carinhoso poderia ter sido composta por Chico ou Roberto – Perfeita!
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As bolachas de vinil dessa época tinham uma canção apenas de cada lado, e Orlando Silva comentou em entrevista: Carinhoso e Rosa em um mesmo disco, já pensou? Para minha surpresa – e nesses tempos ariscos é difícil ainda ter surpresas – encontro Carinhoso lost in translation em Hollywood. No filme “Nancy goes to Rio, de 1950, que no Brasil ganhou o título de Romance Carioca, Jane Powell canta Carinhoso com o título traduzido para Love is like this. E temos que concordar, isn’t it? Quem não poderia faltar no elenco lá estava: Carmem Miranda e o Bando da Lua. Opinião de um crítico do respeitado site IMDb: Por mim, o ponto mais alto do filme é o número interpretado por Carmem Miranda. Acho que foi um dos melhores que ela teve em Hollywood (e um dos últimos).
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Um dos maiores compositores que o Brasil já teve, Pixinguinha deixou sua Rosa na gaveta por 20 anos, porque na época as músicas tinham três partes e Rosa apenas duas. Para os padrões de hoje ela é muito longa. Tão bela canção merecia mesmo um certo mistério: há controvérsias sobre a autoria da letra, rebuscada e non sense. Diz a lenda que Pixinguinha estava em um botequim e encontrou um mecânico que gostava tanto da música que até criou uma letra… Alguns críticos garantem que ela parece ser romântica mas não é, e a rosa endeusada na canção não é uma mulher, mas a flor. Jamais saberemos.
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Carinhoso também tem seus mistérios, pois Pixinguinha nunca revelou ao certo quando a compôs. Talvez na mesma época que Rosa, em 1917. A charmosa letra de Braguinha completou a harmoniosa melodia, e a voz inigualável de Orlando Silva a eternizou, tal como Rosa. Ambas vão continuar encantando as multidões por mais 100 anos. Quanto à Carmem Miranda, comprovando seu prestígio na poderosa Metro Goldwyn Mayer, o contrato estipulava que nenhum diálogo poderia interromper ou intercalar os números musicais da Pequena Notável. E dizem que o Brasil tem memória curta.

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