São nítidos os movimentos do governador Paulo Hartung (PMDB) no sentido de praticar política na esfera nacional e com ambiciosas pretensões que vão de A a Z. Mas que podem, conforme o tamanho do pulo almejado, exigir-lhe um mandato de senador que possa lhe garantir livre trânsito pela “capital do poder”. Esse caminho, porém, o tiraria da disputa para o governo em 2018.
Mas tudo vai depender naturalmente como vão comprar suas ideias por lá. A sua mercadoria em exposição não deixa de conter certa atração. Principalmente quando ele se apresenta como o único governador que soube lidar com a enorme crise que quebrou os estados, credenciando-se até como solução plausível a uma classe política nacional em plena fase de despejo da vida pública.
Trajando a condição de inquilino ideal, ele se apresenta como um governante que, em menos de um ano – com medidas duras das quais sequer poupou os funcionalismo público – tirou o Espírito Santo de uma “quebradeira” sem precedentes que herdara do seu antecessor, o ex-governador Renato Casagrande(PSB).
Para os que o conhecem, a realidade é outra. Agora, que ele soube construir uma falsa afirmação para decolar com os seus delírios de poder, isso ele soube. Começa pela estratégia de comunicação, com a contratação de uma das melhores empresas do ramo no País para cuidar de sua imagem (esse serviço classe A custar uma grana).
Na complementação da estratégia de fazer negócios (ou negociatas) com grandes empresas, Hartung põe debaixo um Zé Carlinhos (José Carlos da Fonseca Júnior) debaixo do braço para ajudá-lo nessa tarefa de cruzar as divisas do Espírito e as fronteiras do País. Zé Carlinhos é um quadro de circulação nacional e internacional. A propósito, nessa segunda (28), os dois viajam para um primeira missão internacional para Holanda e Singapura.
Diplomata com rápida passagem pela política do Espírito Santo, Zé Carlinhos elegeu-se deputado federal. É do tipo que não tem dificuldades para jogar na defesa e no ataque, nas laterais direita e esquerda, chuta bem com os dois pés e sabe fazer gol de cabeça. Um talento quase completo. Como a vida não é só de glórias, tem umas broncas pesadas na Justiça. Bem feias, por sinal, que continuam pendentes. É verdade.
Mas deixando seus percalços judiciais de lado, ele é a dose certa para o momento de PH, que cruza caminhos complexos e cheios de calabouços. A trilha tortuosa não é mais para o bico de um Neivaldo Bragato, por exemplo, que imperou absoluto como “número 1” de PH nos seus dois primeiros governos.
Os tempos eram outros. A estratégia se resumia a intimidar e enquadrar políticos e empresários. Eminência parda, Bragato nunca soube como mexer em uma única pedra no tabuleiro político, algo que Zé Carlinhos faz de olhos vendados.
Estou a reconhecer condições de um quadro de origem inteiramente conservadora para o jogo que está sendo jogado no Estado e fora dele. O que mostra uma rara perspicácia de PH para dar suporte aos seus atuais delírio de poder. Agora, de sã consciência, não acredito que o governador irá lograr êxito nesse desvario em querer situar-se no andar de cima da política nacional.
Não acho que Zé Carlinhos, com toda a sua agilidade que tem em Brasília e lá fora, nacional, vai ajudar Hartung a chegar onde deseja. Creio que ele será eficaz aqui no Estado com a sua reconhecida habilidade. Aliás, foi a mão de Zé Carlinhos que acabou segurando a candidatura explosiva à prefeitura de Vitória do deputado estadual Enivaldo dos Anjos (PSD), que poderia causar muita dor de cabeça a Hartung.
Venhamos e convenhamos, a popularidade do governador está muita distante daquela ostentada nos primeiros mandatos. O Paulo Hartung real, não o que é enaltecido pela imprensa corporativista, está com o prestígio abalado junto à população, que o digam os servidores públicos.
A queda de popularidade interna justifica a iniciativa do governador em querer migrar para a política nacional. Disputar uma reeleição para o governo pode ser uma parada indigesta, ainda mais se ele tiver de enfrentar novamente Casagrande, em pleno processo de arregimentação de forças.
Para Hartung ter sucesso, vai depender, como sempre, de manobras rasteiras. Como, por exemplo, as ciladas que tenta armar na Assembleia Legislativa para tirar Casagrande da disputa de 2018. Pois o “filme” de PH, por aqui, já revela um político totalmente desfocado, esmaecido, sem condições de garantir uma impressão “limpa”.