O grande adversário do governador Casagrande (PSB), em verdade, não é o candidato Manato (PL), que não passa de um ventríloquo do presidente Bolsonaro (PL). Não bastasse, satisfaz em dizer que, irresponsavelmente, sob o ponto de vista orçamentário e econômico, o governo aprovou o uso do FGTS futuro – previsão de recursos que o trabalhador com carteira assinada terá no fundo caso continue empregado – para financiamento imobiliário. Afinal, esta é a oitava medida econômica lançada desde o início da disputa do 2º turno. Quase todas ações tomadas pelo presidente Bolsonaro estão colocadas na fatia do eleitorado com o qual ele tem o desempenho fraco.
Não é preciso ser advogado para identificar abuso e uso eleitoral da máquina pública. Em verdade, Bolsonaro torrou recursos públicos para, também, reduzir preços da gasolina e do diesel, mas não se lembrou de suspender a despesa extra, tudo em nome da reeleição. São despesas aleatórias sem proteção do orçamento. É a maior devassa feita na história orçamentária do país.
Pois bem. O discurso temeroso de Casagrande de que não está batendo de frente com o governo federal é inócuo. Ele está caindo na armadilha de Manato. Está ouvindo as vozes dos eleitores do interior do Estado, que ainda não conseguem avaliar que são medidas fugazes e de total irresponsabilidade e que amanhã vão pagar a conta de um país ingovernável. Ora, o governador tem obras para mostrar e corroborar que fez um bom governo, inclusive na própria pandemia. A meu ver, sua estratégia é equivocada quando pretende demonstrar que, se vencer a eleição, terá o apoio do governo federal.
Ninguém é bobo. Ele demonstra, com isso, paralelamente, a dúvida que Bolsonaro possa vencer o pleito. E essa incerteza cai no colo e no inconsciente do eleitor. Muitos políticos deveriam – como lembrava Ulisses Guimarães – adotar o conselho de Perón à Isabelita: “Fale muito sobre as coisas, pouco sobre as pessoas, nada sobre você”.
É fácil explicar: quando Manato percebe que esse é o medo de Casagrande, amplifica sua campanha em cima do tema. A campanha de Casagrande, em contrapartida, precisa mostrar que fez uma administração competente, sufocando a tese de que Manato não passa de um representante da mentira que assola o país.
Ora, a vitória de Lula (PT) no primeiro turno enlouqueceu o presidente. Ele está atirando para todo o lado. Em uma semana, foram queimados outros R$ 15,7 bilhões em novos benefícios, já que no mês de junho, o pacote de bondade já custava mais R$ 340 bilhões, incluindo o aumento do Auxílio Brasil, Auxílio Gás e antecipação do 13º dos aposentados. Em relação a isso, nada adiantou, já que tomou uma lambada no primeiro turno.
A grande verdade é que nem tudo beneficia a quem vive em situação de adversidade. É só ver que na outra “bondade” eleitoreira, o governo liberou empréstimos consignados para quem recebe o Auxílio Brasil e o benefício de prestação continuada. Resultado: nos próximos meses, produzirá uma legião de pobres asfixiados por um juros de 50% ao ano.
Ademais, é preciso saber com quem está lidando. Veja a viagem do ex-juiz Sergio Moro (União Brasil). Estarrecedoramente, serviu de coach de Bolsonaro no debate da Band. Depois de toda sua história na Lava Jato, abandonou a carreira de magistrado, ao assumir o Ministério da Justiça e Segurança Pública, saiu atirando no presidente, com declarações contundentes, e agora é o que se vê: um senador eleito serviçal de Bolsonaro.
Ora, ao ingressar na magistratura, contrai o juiz também obrigações de caráter social. Para com os valores do humanismo, do pluralismo e da participação, direcionados da consecução do bem comum. O Estatuto da Magistratura, em síntese, diz que o juiz consciente não transigirá jamais com a mediocridade. E por esta não se entenda a posição dos ungidos de glória e do reconhecimento dos contemporâneos, que a vida heroica não está apenas na realização dos feitos retumbantes e teatrais. O verdadeiro heroísmo, como a santidade autêntica, se manifesta muito mais no exercício obscuro das virtudes da vida cotidiana, do que na prática excepcional de ações que transcendem os limites da obscuridade.
Ética é fundamentar as ações morais. Digo isso porque Moro acusou Bolsonaro de interferir em investigações da PF para proteger seus filhos e amigos. Além disso, chamou o presidente de ladrão, afirmou que, se deixarem investigar, vão achar “muita coisa” no governo dele. Afinal, o que se vê é que seu objetivo sempre foi destruir Lula. Sua fixação! O processo ditatorial, autoritário, traz consigo o germe da corrupção. O que existe de ruim no processo autoritário é que ele começa desfigurando as instituições e acaba desfigurando o caráter do cidadão.
Não são os homens, mas as ideias que brigam.