A partir do momento em que o advogado Gustavo Bassini anunciou que se lançaria candidato à presidência da subseção da Ordem em Vila Velha, passou a enfrentar um turbilhão de problemas.
O primeiro grande obstáculo para Bassini foi conseguir entrar no processo. Inicialmente sua inscrição foi indeferida pela Ordem. Motivo: o advogado sofreu uma punição equivocada em processo disciplinar que tramitava na OAB paulista. Graças a uma liminar, Bassini conseguiu restabelecer na Justiça o direito de disputar o pleito.
Se entrar no processo foi difícil, se manter foi mais ainda. O processo eleitoral foi tumultuado do começo ao fim. Bassini se queixava que o presidente da Ordem, Homero Mafra, estaria privilegiando o candidato Ricardo Ferreira Holzmeister, tornando a disputa em Vila Velha anti-isonômica.
Finalizada a eleição, vencida por Holzmeister por uma diferença de 314 votos (928 a 614), Bassini pediu a impugnação do pleito, alegando fraude. A recontagem dos votos foi feita e a Justiça não confirmou a suspeita levantada pelo candidato derrotado, mas durante a instrução acabou se defrontando com outras irregularidades.
Basicamente o juiz relacionou três graves irregularidades, qualquer uma delas suficiente para anular o pleito de Vila Velha. São elas: falta de rubricas nas cédulas; mudança das regras referentes à “boca de urna” às vésperas da eleição; e a vulnerabilidade das urnas, que não estavam devidamente lacradas.
Da ação de Bassini para cá, muita água passou por debaixo da ponte. Pelas suas posições, muitas delas polêmicas, o advogado tem sido tachado de “encrenqueiro”.
Em junho deste ano, Bassini acabou indo parar atrás das grades. O cumprimento do mandato de busca e apreensão resultou na prisão truculenta do advogado. A operação, comandada pelo delegado Danilo Bahiense, foi cercada de arbitrariedades. O advogado foi chamado de “moleque” pra baixo pelo delegado.
Mesmo em meio às polêmicas que envolvem o advogado, com a passagem pela prisão e tudo o mais, o juiz federal Roberto Gil Leal Faria foi imparcial e manteve o foco na ação sobre o processo eleitoral da subseção da OAB em Vila Velha.
Leal Faria provavelmente sofrerá muitas críticas, aliás, já começou a sofrer tão logo anunciou a decisão. Advogados ligados ao grupo do presidente da Ordem e o próprio Mafra, que apostavam que o juiz fosse julgar o caso de Bassini com pré-conceito, ficaram aturdidos com a decisão
Muitos devem ter recebido a notícia sobre a anulação da eleição em Vila Velha com surpresa. Quem poderia esperar que o magistrado fosse acatar parcialmente a ação de Bassini e anular a eleição da OAB-Vila Velha?
Logo após a eleição, quando o advogado derrotado pediu a impugnação do pleito, os próprios colegas alertaram que era perda de tempo, que juiz nenhum teria peito para mexer no resultado do maior colégio eleitoral de advogados do Estado.
Se a hipótese já era remota após o encerramento das eleições, se tornaria completamente improvável após a prisão do advogado. Quem poderia imaginar que o juiz anularia a eleição e convocaria uma nova mantendo na disputa o advogado que havia passado 35 dias no cárcere?
Leal Faria, no entanto, mostrou que a Justiça deve ser imparcial. O juiz decidiu pela anulação do pleito pautado unicamente na análise dos fatos. Prevaleceu para o juiz apenas o senso de Justiça.