O 1º de abril, nos tempos atuais, é disseminado nas redes sociais e sem nenhum compromisso
O dia da mentira, 1º de abril, nos tempos atuais, é disseminado pela tecnologia 5G nas redes sociais, todos os dias e com a finalidade de travar disputas eleitorais sem nenhum compromisso com o bem-estar do povo.
Devemos relembrar que Adolf Hitler, para executar uma das maiores tragédias da humanidade, eliminando seis milhões de judeus, no maior genocídio da história, o Holocausto, utilizou-se de um processo de disseminação de falsas verdades.
Todo aquele processo de ódio crescente aos diferentes, judeus, ciganos, homossexuais e divergentes políticos, era confirmado pelo então ministro da propaganda da Alemanha Nazista, Joseph Goebbels, com o objetivo de naturalizar o ódio aos diferentes, com a seguinte sentença: “Uma mentira dita mil vezes torna-se verdade”.
Assim, o ódio aos diferentes foi crescendo, quando Hitler ordena a execução de judeus fora da Europa, e as fases do Holocausto foram crescendo com fuzilamentos em massa, depois a utilização dos campos de extermínio com câmaras de gás, e o resultado foram seis milhões de judeus mortos.
Os fatos históricos, ocorridos na Alemanha Nazista, nos leva a refletir sobre a intenção das pessoas que divulgam e reproduzem as famosas fake news nas sociedades atuais, numa profusão que todos os dias são 1º de abril, todo dia é o dia da mentira. Vemos isso diariamente em todos os lugares, nas igrejas, no comércio, na política, na comunicação, no marketing…
O dia 1º de abril, como Dia da Mentira, surgiu de uma forma leve, para gerar brincadeiras, pegadinhas entre pessoas de um mesmo círculo de relacionamento.
Existem algumas versões sobre sua origem. Uma delas é a de que, por volta do Século XVI, na França, o ano novo era comemorado no dia 25 março, e essas festas duravam até o dia 1º de abril. No ano de 1564, o rei adotou como oficial o calendário gregoriano que passou o ano novo para 1º de janeiro. Como toda mudança gera desconforto e dificuldade de adaptação, alguns franceses resistiram e continuaram seguindo o calendário anterior, o que virou motivo de brincadeiras e ridicularizações, pois comemoravam uma data que já tinha mudado e, portanto, não era mais verdadeira.
Uma mentira leve pode passar como brincadeira, desde que não traga consequências negativas para ninguém, porém, quando é utilizada para enganar, tumultuar e prejudicar, passa a ser crime. Muitas vezes pessoas sem conhecimento dos fatos recebem uma mentira travestida de verdade, não checam sua veracidade e a reproduzem muitas vezes, então esta começa a ser recebida com se verdade fosse, gerando desinformação, disputas, lutas e decisões que podem causar muitos prejuízos a pessoas inocentes.
Nossa Constituição nos garante o direito de pensar e de expressar-se com liberdade, desde que haja respeito ao ser humano e aos seus direitos, sem nenhum tipo de preconceito e ou discriminação.
Para ilustrar o conflito que sempre há em nossa sociedade sobre a mentira e a verdade, podemos utilizar uma pintura de 1896 feita por Jean-Léon Gérome, pintor e escultor francês, que retrata uma parábola do Século XIX e chama-se “A verdade saindo do poço”.
“Segundo essa parábola, a Verdade e a Mentira se encontram um dia. A Mentira diz à Verdade: ‘Hoje é um dia maravilhoso!’ A Verdade olha para os céus e suspira, pois o dia era realmente lindo. Elas passaram muito tempo juntas, chegando finalmente ao lado de um poço. A Mentira diz à Verdade: ‘A água está muito boa, vamos tomar um banho juntas!’ A Verdade, mais uma vez desconfiada, testa a água e descobre que realmente está muito gostosa. Elas se despiram e começaram a tomar banho. De repente, a Mentira sai da água, veste as roupas da Verdade e foge.
A Verdade, furiosa, sai do poço e corre para encontrar a Mentira e pegar suas roupas de volta. O mundo, vendo a Verdade nua, desvia o olhar, com desprezo e raiva.
A pobre Verdade volta ao poço e desaparece para sempre, escondendo nele sua vergonha. Desde então, a Mentira viaja ao redor do mundo, vestida como a Verdade, satisfazendo as necessidades da sociedade, porque, em todo caso, o Mundo não nutre nenhum desejo de encontrar a Verdade nua”.
A mentira é uma afirmação de algo que se sabe ou suspeita ser falso, não contar a verdade ou negar o conhecimento sobre algo verdadeiro, é o ato de enganar, iludir.
A filosofia nos ensina que o que é verdade e mentira depende do nosso referencial, de nossos princípios e valores, o que atribuímos como verdade vai determinar o que são nossas mentiras.
Segundo René Descartes e Immanuel Kant, “A verdade é a correspondência do que está no pensamento com o que está no mundo, nas coisas, é a adequação do intelecto, do significado entendido e das coisas”. Tudo merece e deve ser checado, o que é pensado com a realidade das coisas.
Ser verdadeiro, divulgar a verdade, é uma das virtudes humanas, além de um hábito saudável que alimenta nosso bem-estar. Mentir adoece a nós mesmos e aos outros, física e mentalmente.
A verdade é o evidente, o visível, o comprovável, uma qualidade própria das coisas e das pessoas, e está presente nas coisas e nas pessoas.
“Conhecer é ver e dizer a verdade que está na própria realidade e, portanto, a verdade depende de que a realidade se manifeste” (Marilena Chauí,2000).
Os seres humanos comprometidos com os avanços sociais para construir uma sociedade de igualdade e equidade precisam sair de sua zona de conforto e não aceitar nenhuma informação sem comprovação com fatos da nossa realidade. É preciso buscar e aceitar a verdade nua e crua como realmente ela é.
A Verdade nua e crua contribui muito mais com o ser humano e com nossa sociedade do que a mentira muito bem travestida.