A política de massacre contra os pobres exercida pelo governo Bolsonaro para agradar o insaciável Mercado é uma tragédia antidemocrática sem paralelo na história do Brasil.
E vai sendo feita com gosto pelo presidente da República e seus defensores – agentes do mercado financeiro, redes de TV e rádio, empresários, pastores, militares da ativa, da reserva e da clandestinidade.
Essa perigosa conexão está levando o busão ladeira abaixo com todos os assentos ocupados, muitos de pé no corredor e outros tantos no bagageiro sem cinto de segurança nem seguro contra terceiros.
Fica cada vez mais claro que está em curso no Brasil um projeto econômico, político e cultural visando destruir conquistas construídas a partir da Constituição de 1988.
Nunca houve disso com essa intensidade no Brasil. O ódio e o desprezo nos governam, fazendo lembrar o filme Meu Ódio Será Tua Herança, de Sam Peckinpah, com William Holden, de 1969, cujo título original é The Wild Bunch/O Bando Selvagem. Faz sentido?
Notícias recentes informam que essa história será refilmada por Mel Gibson com um elenco novo. Com seu deslumbramento pró-ianque, o governo brasileiro poderia abrir as portas do país para esse “remake”. Do sul ao norte, de leste a oeste, há no Brasil cenários a escolher para um western desse quilate. O ministro do Turismo e da Cultura poderia recepcionar Mel Gibson como Orson Welles foi recebido no Brasil no início dos anos 1940. Faz sentido?
Nesses dias sombrios, o obscurantismo ocupa espaços estratégicos dentro das instituições públicas, e o mais assustador é que conta com a ajuda qualificada de servidores treinados para atender positivamente os cidadãos mas que, por oportunismo, aderiram à prática do mal, ofendendo o interesse público. Até quando?
São esses servidores que, mancomunados com ocupantes transitórios de cargos-chave, dão forma legal a decretos, leis e medidas provisórias enviados ao Congresso, que esperneia um pouco antes de aprovar quase tudo que emana do Palácio do Planalto. Até quando?
Como vêm lembrando diversos articulistas em blogs e sites de redes sociais, há um desmanche deliberado de políticas ambientais, mecanismos culturais, universidades, instituições de pesquisa e programas sociais. Isso se faz mediante uma política de arrocho monetário que condena a economia à estagnação.
O déficit do orçamento federal poderia ser eliminado com a redução do serviço da dívida federal, a tributação de lucros e um imposto sobre ativos. Mas o governo adotou o caminho do fortalecimento do sistema financeiro em prejuízo da maioria da população.
No médio prazo, promove-se a entrega de ativos a países estrangeiros, sobretudo aos Estados Unidos. A Embraer foi entregue à Boeing por pouco mais de US$ 4,4 bilhões, um valor mais ou menos equivalente ao da Vale do Rio Doce vendida em 1997 por US$ 3,3 bilhões.
Tudo isso é fichinha perto do que acontece com a Petrobras, o maior legado do presidente Vargas. A alienação do patrimônio nacional está expressa na entrega dos campos de Lapa e Iara à francesa Total, que pagou pouco mais de 2,5% do valor estimado das reservas de petróleo e gás contidas naqueles campos.
O desmonte da capacidade produtiva do país é explicitado no caso da construção civil. No período de três anos, entre 2015 e 2018, a receita líquida das maiores construtoras brasileiras caiu de R$ 71 bilhões para R$ 10,6 bilhões. Ou, seja, reduziu-se em quase sete vezes a atividade da construção pesada de infraestrutura. OK, os capos estavam roubando nos contratos, mas por que penalizar as empresas e seus empregados? Ora, foi para favorecer construtoras americanos que ganharam de mão beijada a chance de operar dentro do Brasil.
A miopia do governo ficou clara no esvaziamento do programa Minha Casa Minha Vida. Em 2013, foram contratadas 912,9 mil unidades habitacionais pelo MCMV. Em 2016, o número de contratações caiu para 380,4 mil. Para o ano de 2019 foi destinada a menor dotação orçamentária do Programa desde a sua criação, em 2009: R$ 4,4 bilhões. Para 2020, a previsão orçamentária é ainda menor: R$ 2,7 bilhões. Faz sentido?
Os investimentos públicos previstos no orçamento de 2020 do governo federal (R$ 19,3 bilhões) representam menos de 20% do gasto real de 2014 (R$ 103,2 bilhões), lembram os assistentes sociais Felipe Brito e Helena Cardoso, ambos professores no Estado do Rio.
O agregado de investimentos públicos dos estados brasileiros e respectivas capitais caiu de R$ 19,49 bilhões, no primeiro semestre de 2015, para R$ 9,21 bilhões, no primeiro semestre de 2019.
Há muitos outros exemplos de desmanche de políticas que representam desprezo pela cidadania e, principalmente, pelos pobres. Infelizmente, a maioria do povo elegeu em 2018 um governo que se compraz em agir como um bando selvagem.
LEMBRETE DE OCASIÃO
“Hoje em dia, no Brasil, só há um extremismo: é o dos sujeitos extremamente conservadores” (Millor Fernandes em 1978).