Dizer que o Instituto Nacional da Mata AtIântica (INMA) evitou que o túmulo do cientista “se mudasse” para outro município é como afirmar que o PT salvou o Brasil, e ainda por cima sem a ajuda de ninguém! Piada de mau gosto, ou falta de conhecimento cabulosa.
Para quem não sabe, parte das terras a serem transferidas para Santa Leopoldina incluíam a área de mata onde se encontra o túmulo do naturalista, que é de propriedade da Sociedade de Amigos do Museu Nacional do Rio de Janeiro (SAMN) – Universidade Federal do Rio Janeiro (UFRJ). Esses proprietários sequer foram comunicados a respeito da permuta de terras, nem pelo governo do Estado, nem pelo Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf), e muito menos pelo INMA, o que atropela questões ambientais, técnicas e legais, além de atropelar também o aspecto histórico que vem sofrendo diversos trancos no município de Santa Teresa.
Felizmente, o respeito ao cientista e a competência da SAMN com seu legado superam exponencialmente o INMA e a Sociedade de Amigos do Museu Mello Leitão (Sambio). Graças à Sociedade de Amigos do Museu Nacional, o túmulo de A. Ruschi permanecerá em sua cidade natal. Essa medida, por sua vez, agrega segurança futura à localidade para protegê-la de ideias esdrúxulas que possam comprometer aquela importante área de preservação.
Se a Estação Biológica estivesse inteiramente nas mãos do INMA, e não dependesse da UFRJ, acredito que a área já teria sido usada para outra coisa… ou, no mínimo, teria sido alienada para algum instituto. De fato, a parte de mata que era do MBML também foi repassada para o INMA, já que a Sambio sequer defendeu seus deveres estatutários.
A fase de enfraquecimento do legado do cientista alcançou seu apogeu recentemente, com a extinção institucional do Museu Mello Leitão, e a alienação de seu patrimônio ao Instituto Nacional da Mata Atlântica. Mas engana-se quem acredita que esse foi o fundo do poço. Na verdade, o INMA hoje representa um destruidor do legado do Patrono da Ecologia no Brasil, além de não atuar pelos mecanismos de luta do cientista contra ações depreciadoras do meio ambiente no ES e na Mata Atlântica como um todo.
Minimizando o cenário, podemos entender que a questão é muito mais séria – o INMA não cuida bem sequer das suas próprias florestas, ou de seus vizinhos, nem mesmo daquela onde se encontra a lápide do Patrono da Ecologia no Brasil, o mesmo cientista que criou o Museu recém-alienado que constitui o próprio INMA. Vejam bem, não é que Augusto Ruschi tenha feito uma contribuição, ou algo do tipo… ele criou tudo o que há lá dentro e muito mais, como a coleção de toras de madeira que “desapareceu” do Museu.
Nem mesmo a mídia que “acompanha” o caso tem enxergado a seriedade da questão, que ainda por cima tem sido decrescida por declarações institucionais do INMA cujos limitados e despropositados comentários omitiram variados patamares de incompetência.
Dotado de notoriedade ímpar, o cientista ilustrou a nota de 500 cruzeiros, que nomeia praças escolas e praças pelo país afora, e mesmo a sala de vereadores da prefeitura de Santa Teresa…até o aeroporto está visando seu nome.. mas o respeito esta lá em baixo, a começar pelo governo de seu Estado e sua cidade natal – que permitiram a alienação da instituição de pesquisa que criou.
O que o governo, o município, e muito menos o diretor do INMA não entenderam até hoje é que os espaços da reserva, como o próprio extinto museu, foram conquistados através de muita luta, doação de verbas, e trabalho duro nos últimos 80 anos. Não só o túmulo do Patrono da Ecologia no Brasil é de um Teresense ilustre, mas toda Estação em si faz parte do município de Santa Teresa.
Todos esses níveis de desprezo explicam o porquê também não fui consultado sobre a questão envolvendo o túmulo de meu pai, e infelizmente, isso sequer me surpreende em nada, afinal, conheço o INMA e a Sambio.
Mas essa não foi a primeira situação institucional a passar por debaixo do nariz da direção do INMA, e tão pouco será a última. Trata-se apenas de uma linha de coerência óbvia daqueles que insistiram em criar um instituto nacional à custa da irresponsável e desnecessária extinção institucional do Museu criado por A. Ruschi. Pode ter certeza de que outras trapalhadas com o legado do cientista acontecerão debaixo do nariz da direção do INMA! Perde o teresense, o capixaba e o brasileiro de bem que gostaria de ver um legado como o de Augusto Ruschi render seus frutos à máxima potência.
Quando era criança acreditava que meu pai tivesse escolhido ser enterrado próximo à cachoeira da Estação Biológica de Santa Lúcia apenas por ser a parte mais bela e que melhor representa a exuberância daquela floresta. Mas hoje está claro que a escolha também se deu porque ele tinha 100% de confiança na UFRJ – não é para menos que ele deixou claro no próprio estatuto do extinto Museu Mello Leitão que o Museu Nacional da UFRJ seria a instituição a receber todas as coleções biológicas caso o Museu Mello Leitão viesse a entrar em falência.