O ano de 2013 poderia ter sido um marco na questão ambiental do Estado. Mas nem passou perto. Poderia, se tivessem sido tratadas com seriedade as discussões para minimizar a poluição do ar da Vale e ArcelorMittal, pela primeira vez com a participação da sociedade civil. E, mesmo assim, ainda faltaria um logo e sinuoso caminho a percorrer. A história, porém, acabou do jeitinho de sempre, com negociatas e acordos a portas fechadas. Tudo minimamente orquestrado, como manda o figurino.
Depois de não sei quantas reuniões, realizadas durante quase um ano, para se chegar a um consenso sobre os novos padrões para as emissões de poluentes na Capital, assim como ocorreu em São Paulo, prevaleceu o retrocesso.
Ao mesmo tempo em que o vereador de Vitória, Serjão Magalhães (PSB), que puxou a discussão à frente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara, com o Grupo de Trabalho Interinstitucional (GTI) Respira Vitória, fazia pose de o mais novo defensor do meio ambiente, articulações eram firmadas “nas internas” com a secretária de Estado de Meio Ambiente, Diane Rangel.
A manobra consistia no seguinte: ao invés de restringir as mudanças para Vitória, onde a responsabilidade por criar uma lei nesse sentido seria do prefeito Luciano Rezende (PPS), o governo Renato Casagrande viu diante dele uma possibilidade de ouro: dar um cala-boca no clamor dos moradores da Grande Vitória, cansados de respirar poluição. Mas teria que, acima de tudo, manter vivas as relações com as poluidoras.
O resultado veio do jeito que a classe política gosta: solenidade, fotografias e declarações na imprensa a perder de vista. Ao lado de Casagrande e Diane, o vereador Serjão e os deputados Claudio Vereza (PT) e Luzia Toledo (PMDB). Vereza, sabemos bem, está fechado com as poluidoras; Luzia caiu lá de paraquedas, não milita na área.
Todos unidos em torno do mesmo propósito: vender uma imagem de responsabilidade ambiental que não condiz com a realidade. No bom português, propaganda enganosa mesmo.
Para quem não conhece a área, parece uma grande notícia estabelecer novos parâmetros para a emissão de poluentes no Espírito Santo. Mas o decreto do governo é o famoso “para inglês ver”. Não tem prazos para as poluidoras “baterem as novas metas”, com base nos índices da Organização Mundial de Saúde (OMS), muito menos estabelece punição a elas no caso de descumprimento. A proposta do GTI também não era a ideal, mas tinha prazos. Conseguiram piorar.
Agora, com essa conversinha, o governo vai fazer essa jogada do decreto render horrores. Já fala, por alto, em 12 anos para se chegar ao resultado. Até lá, as empresas ampliarão suas atividades, o que significará ainda mais poluição, e por aí vai…
Logo de largada, as poluidoras já estarão presentes na eleição de 2014, com aqueles gordos financiamentos que custam a cara omissão da classe política. Casagrande tem interesse nisso, assim como Serjão, que pode ser candidato a deputado estadual, e a própria Luzia, que tentará a reeleição. Vereza tem dito que não vai encarar o pleito, veremos adiante.
No final das contas, Serjão, o governo e Cia, fizeram mesmo foi hora com a cara dos representantes dos movimentos sociais, que tanto se empenharam na questão. Não à toa, eles ficaram pé da vida e vão continuar a cobrar respostas. É, de fato, só o que nos resta: bocar a boca no trombone e incomodar. Pelo menos, assim, as máscaras caem.
* Saio de férias por alguns dias. Até breve!
Manaira Medeiros é mestre em Políticas Públicas e Desenvolvimento Local e especialista em Gestão e Educação Ambiental
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