quinta-feira, outubro 10, 2024
23.3 C
Vitória
quinta-feira, outubro 10, 2024
quinta-feira, outubro 10, 2024

Leia Também:

Vício em bets e limites publicitários

Estamos prontos para enfrentar o impacto do vício em apostas?

O Brasil enfrenta uma nova epidemia. O vício nas apostas online cresceu exponencialmente e a semelhança com a crise do tabagismo no passado é inegável. Assim como o cigarro, a propaganda das bets explora a vulnerabilidade emocional e financeira de milhões de pessoas. O que antes era um hábito de lazer, agora ameaça devastar famílias, compromete orçamentos domésticos e estimula um vício cada vez mais difícil de combater.

A inteligência artificial desempenha um papel decisivo neste cenário, alimentando algoritmos que controlam tanto a experiência dos usuários quanto as campanhas publicitárias. O uso da IA permite personalizar anúncios, segmentar públicos e intensificar a relação emocional entre o apostador e o jogo. Essa tecnologia incentiva mais apostas e contribui para um ciclo vicioso que parece impossível de romper.

Por trás da sedução das campanhas publicitárias, a IA se revela uma arma de precisão. Ao monitorar padrões de comportamento, ela ajusta as estratégias de marketing em tempo real, tornando a experiência de apostas mais envolvente. Exemplo disso é o uso de algoritmos preditivos, que sugerem novos jogos com base nas preferências individuais dos usuários. Essa personalização cria uma falsa sensação de controle, convencendo os apostadores de que podem prever o futuro dos jogos, quando, na verdade, são manipulados por mecanismos que lucram com suas perdas.

A regulamentação da publicidade surge como uma possível solução para minimizar os danos, mas enfrenta desafios. Embora a experiência brasileira com restrições à propaganda de cigarro tenha sido bem-sucedida, faltam medidas concretas para lidar com o impacto das bets. A França, por exemplo, proibiu celebridades esportivas de promoverem apostas. No Reino Unido, o uso de cartões de crédito para bets foi vetado. São respostas que buscam proteger o público, mas que ainda não chegaram ao Brasil com a força necessária.

O Brasil já falhou em se antecipar à crise das apostas e, agora, corre contra o tempo. A regulamentação é uma corrida atrasada e o país precisa de mais do que apenas limitar o marketing. A experiência de outros países mostra que é possível reverter esse quadro, mas requer um esforço conjunto e estratégias robustas. Será que, desta vez, conseguiremos agir antes que seja tarde demais?

A inteligência artificial, que alimenta o vício das bets, precisa ser parte da solução. Implementar sistemas que monitorem sinais de vício, criar restrições dinâmicas baseadas no comportamento do jogador e garantir transparência nos algoritmos são caminhos possíveis. Se continuarmos a ignorar o papel da IA neste processo, corremos o risco de enfrentar uma geração devastada por um novo tipo de vício, tão insidioso quanto o cigarro foi um dia.

O Brasil precisa reagir, e rápido. A questão não é apenas sobre regulamentar, mas entender os mecanismos ocultos que movem esse mercado e proteger a sociedade de suas consequências devastadoras.

Flávia Fernandes é jornalista, professora e pós-graduanda em Inteligência Artificial e Tecnologias Educacionais pela PUC-MG.

Instagram: @flaviaconteudo

Emal: [email protected]

Mais Lidas