O conceito de violência simbólica foi criado pelo francês Pierre Bourdieu para descrever o processo pelo qual a classe dominante impõe seu modo de pensar ao resto da sociedade. Quando se fala em classe dominante, não se deve restringir a idiea ao processo econômico, há também o domínio cultural e intelectual.
Neste sentido, para Bourdieu, a Escola tem um papel significativo na legitimação da violência simbólica. O conteúdo transmitido nas escolas atende a uma fatia muito específica da população. Ignora-se as experiências interpessoais dos alunos fora da sala de aula, a diversidade que compõe o espaço escolar é eliminado pela máxima das “oportunidades iguais para pessoas diferentes”.
A fala do secretário de Educação, Haroldo Correia Rocha, reforça essa visão. Ao dizer que o aluno da rede pública que não quiser ingressar na “Escola Viva” tem o direito de “escolha”. Ele pode “escolher” trabalhando para ajudar a família ou mesmo sustentá-la ou aderir ao projeto. Isso mostra um desconhecimento da realidade social do Estado.
Ainda mais se imaginarmos que o projeto que se coloca como de inclusão para o jovem carente, que pelas palavras do secretário teria acesso a uma educação de qualidade, que só a escola particular ofereceria. Desconectada das mais diferentes vivencias dos adolescentes capixabas, a Escola Viva é uma ferramenta de exclusão e não de inclusão, já que ela joga para o colo do aluno e da família a responsabilidade de aderir ou não a escola.
É claro que a educação no Espírito Santo precisa mudar. Mas, assim como a discussão sobre a violência, não dá para acreditar em fórmulas mágicas. O projeto de educação integral, com matérias optativas e orientação para os alunos, é um modelo, evidentemente, positivo. Isso não é novidade para ninguém.
Mas, aprovando apressadamente e sem discutir com os principais interessados na questão, os estudantes, não é assim que se constrói um modelo de educação libertadora. Desta vez, quem está dando aula são os alunos. Mostraram que não vão aceitar uma posição vertical e anti-democrática para um tema tão importante.
Fragmentos:
1 – A avaliação de algumas lideranças políticas é de que ao propor a audiência pública governo e Assembleia não esperavam uma repercussão tão grande sobre o Escola Viva. Foram surpreendidos com a presença dos alunos e professores.
2 – O desempenho do secretário Haroldo Correia deixou transparecer que não havia um conhecimento muito profundo sobre o projeto. Sobre a realidade dos estudantes do Estado, então, nem se fala. Durante sua fala várias vezes ele usou o diretor da Prodest, Renzo Colnago, como exemplo para a juventude.
3 – O Instituto de Corresponsabilidade pela Educação (ICE) que vai coordenar o projeto tem patrocínio no Estado de uma velha parceira de Paulo Hartung, a ONG Espírito Santo em Ação