Resistência e resiliência!
Aparte quaisquer ideologias construtivistas do pensamento humano – seja Platão, com a destinação positiva do ser humano cultivador do bem: bom, belo e justo, até chegar aos existencialistas, com a filosofia do absurdo, naturalmente passando pelo cristianismo, humanismo e materialismo dialético – o ser humano segue a vida às escuras.
Para este século, momento humano em que as realidades possíveis, construídas para nossa existência como em “Matrix” são diversas, às vezes contraditórias, mas se pretendem convincentes e estão ativas, qualquer análise de conjuntura à “evolução do pensamento humano” perde-se na falta de substância e sentido lógico.
O humano comum, aquele que paga suas contas e busca a felicidade, não é mais que um joguete nas mãos dos influentes e poderosos, frente à construção e estabelecimento das verdades coerentes com o andamento das coisas, na Matrix que a esses poderosos, donos da banca do destino humano, atende.
Para justificar a origem deste pensamento inevitável, mesmo que desagradável, quero transitar em assuntos que podem nos levar à desesperança, o que compreendo perigoso, mas ainda melhor que a ingenuidade inocente e servil. Vamos lá!
Talvez a ferramenta mais confiável que tenhamos para o esclarecimento do mundo, dos propósitos da vida e da melhor forma de viver em sociedade, seja a Ciência. Desde às primordiais investigações filosóficas dos naturalistas, das investigações aristotélicas na era socrática, até o amadurecido do discurso do método cartesiano, é na ciência que se ancoram nossas verdades.
Assistindo ao evento da carta assinada por Elon Musk e outros caciques das novas tecnologias, querendo que parem as pesquisas sobre AI, além de estranhar o fato de que exatamente os que sempre estiveram na vanguarda dessa pesquisa tomarem esta posição, me questiono: será que tem alguma coisa acontecendo? É possível parar? Ou já aconteceu?
– Por ora, só tem vaga para “bagrinhos” na ignorância mesmo. Quem sabe com o tempo a verdade, despida de intensões, apareça.
O problema proveniente da guerra, devido à invasão russa à Ucrânia, além do sofrimento dos povos diretamente envolvidos, atingiu todo o mundo, principalmente no abastecimento dos mercados de gás, cereais e fertilizantes. Contudo, vale refletir que o mundo nunca esteve sem guerras e que esta mesma comunidade internacional, hoje horrorizada com a invasão da Ucrânia, aceitou a invasão chinesa do Tibete, uma guerra de 20 anos no Vietnã, a invasão do Iraque e Afeganistão, e convive com naturalidade com a subjugação dos palestinos, da Faixa de Gaza, por Israel.
Me parece que toda a sensibilização do mundo, frente ao sofrimento do povo ucraniano, não passa de uma atitude egoísta de defesa de interesses atingidos pelo conflito.
Esta vulnerabilidade de propósitos e o casuísmo nas tomadas públicas de posição, que parecem passar à margem para o humano comum, pelo contrário, refletem no cotidiano da sociedade podendo ser observado com mais clareza na educação.
A violência nas escolas, em moda nos últimos tempos, revela que a educação não é mais um processo natural de recebimento do conhecimento, mas sim um produto da conjuntura. O campo de batalhas da realidade, em suas mais variadas construções ideológicas, alimentado pela velocidade da comunicação, disponível a todos, influencia diretamente o processo de ensino-aprendizagem.
A formação acadêmica básica das novas gerações, cada vez mais, não se dá na escola, estudantes não vão mais ali receber o mundo, pois já o têm nas telas. Por outro lado, educadoras e educadores são encurralados por patrulhamentos comportamentais, lhe exigindo cada vez mais a anulação de sua subjetividade, em nome de um tecnicismo pragmático e funcional, na construção dos autômatos sociais necessários à continuidade ao que podemos chamar caos social que vivemos.
Que nos salvem da manipulação, seja a era de aquários ou até mesmo o apocalipse, porque no plano físico, está cada vez mais improvável que essa “salvação” chegue.
Everaldo Barreto é professor de Filosofia