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A Folia de Reis ainda vive

Texto: Rogério Medeiros

Fotos: Gustavo Louzada (1, 2 e 5) e Leonardo Sá (3 e 4), – Agência Porã

A 67ª Edição do Encontro Nacional de Folias de Reis em Muqui, realizada no último sábado (12), contou com o registro de seu idealizador, o ex-senador Dirceu Cardoso, já falecido, que iniciou sua carreira política na região em consequência de ter fundado uma das principais escolas particulares à época.

Ele foi lembrado na referência feita pelo deputado estadual Hudson Leal (PTN, atual Podemos) a respeito da importância do encontro, que reúne grupos folclóricos não só do Espírito Santo, mas também dos estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Do contrário, o nome Dirceu Cardoso teria passado em branco.

A Folia de Reis tradicional acontece no dia de Natal, 25 de dezembro, nas comunidades de cada grupo. Dada o número significativo de folias, Dirceu Cardoso resolveu implantar esse encontro, relativamente fora de época, que é realizado desde a década de 1950.

Este ano, no entanto, a participação foi menor com apenas 50 grupos – quando antes era costume aparecerem mais de cem grupos. Uma situação que acontecia até a passagem do ex-prefeito Frei Paulão, que nesta edição foi festejado pela maioria dos integrantes quando apareceu na concentração dos grupos.

Isso não quer dizer que uma participação ampla possa ser recuperada pelo novo prefeito Renato Prúcoli (PTB) – que tomou posse no último dia 28 – e o vice, Thadeu Eliotério (PTdoB), que passaram bom tempo das festividades no local. Um fato que chamou atenção, já que as festividades são de tradição católica, diferente da religião do prefeito. Prúcoli até se pronunciou a favor da manifestação, quando da abertura do encontro que contou ainda com a presença do secretário estadual de Cultura, João Gualberto Vasconcelos.

Para quem acompanhou o cortejo das folias viu a continuidade da tradição das máscaras de palhaços, cada vez mais intimidatórias – principalmente para as crianças, que correm e se escondem durante sua passagem. A festa desse ano teve ainda uma particularidade: excesso de fotógrafos, como não se via antes.

Grande parte levada pelo fotografo internacional Ratão Diniz, que tem uma história de vida que impressiona. Ele se formou registrando cenas cotidianas da favela onde mora até hoje, a Favela da Maré, no Rio de Janeiro. Eram interessantes os movimentos de Ratão junto ao seu grupo de alunos, mostrando sempre os quadros que deveriam ser registrados.

A presença dele em eventos populares é constante no País, e como passou por Vitória, onde deu cursos, aproveitou para levar seus alunos para o local, assim como outros professores. Tornando o encontro também um congraçamento de fotógrafos em Muqui, que é berço de outro fotógrafo de destaque, Humberto Capai, dono de um grande acervo dessa manifestação folclórica.

Ainda chama atenção em Muqui, o descuido com a arquitetura da cidade, que sempre foi muito bonita, com casas muito bem conservadas, hoje ameaçadas com o surgimento de prédios acima da linha das casas de época, deformando o tradicional modelo arquitetônico que sempre foi uma grande atração para turistas.

Aqueles que lá estiveram, repararam esse deformação no Sítio Histórico de Muqui, que era muito atraente neste ponto de vista, servindo até como locação para filmes de época, afetado hoje por esse descuido.

Retornando às festividades do encontro, a própria tradição dos cortejos mudou. O que os antigos sinalizavam é de que hoje se tem um desfile sem competição. Mas qual competição seria essa? A partir de Dirceu Cardoso e mantida por muito tempo, era mantida uma disputa entre grupos com prêmios para o melhor palhaço – ou melhores, já que são sempre dois em cada grupo –, para o melhor conjunto musical. Que agora desapareceu.

Então aquele público que sempre acompanhou e costumava ir para torcer pelo grupo de sua comunidade ficou à deriva. Apesar disso, algumas situações foram preservadas, reforçando a importância da manifestação folclórica.

Um desses momentos acontece após o desfile pelas ruas da cidade, quando o cortejo chega ao seu momento final na bela Igreja Matriz, onde todos entram, menos os palhaços – porque a Igreja Católica os tem como demoníacos, restando a eles entrarem sem a máscara ou ficarem do lado de fora. Mas alguns preferem ficar mascarados para não serem identificados, deixando a curiosidade sobre a identidade do palhaço.

Quase sempre a final da apresentação termina em convite de moradores para os grupos se apresentarem em suas residências, o que também se perdeu um pouco com o fim da competição.

Do encontro deste ano, fica a preocupação para que os órgãos de cultura consigam trazer de volta os grupos que deixaram de ir por falta de recursos. Na hora que você tem menos de metade dos grupos, isso se torna relativamente temerário. Esse ano foram 51, mas amanhã esse número poderá ser menor.

Um dos sinais desse esvaziamento é de que o encontro que se inicia nas primeiras horas da manhã e terminava altas horas da noite, passando até da meia-noite, desta vez, mal caia a noite e todos já iam para casa.

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