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A Sangrenta História do Metal Satânico Underground – parte VI

“Você não ouviria nada tão extremo quanto o Mayhem naquela época”

No final dos anos 1980, no cenário de rock, ocorre a ascensão do thrash metal, em que figuravam bandas como Metallica e Anthrax, estas dos Estados Unidos, e na Europa bandas como Sodom e Kreator, alemãs, e uma suíça de nome Celtic Frost, que começara seu som com o nome de Hellhammer.

Foi registrada a investida das gravadoras sobre o cenário thrash metal, e o mainstream tornou esse som mais autoindulgente e uma exibição de habilidades técnicas esvaziadas, ao passo que temos o surgimento, em paralelo, das bandas de death metal, que tem como um dos possíveis marcos iniciais do gênero o álbum Seven Churches da banda Possessed, lançado em 1985.

O death metal inovava num cenário em que dominava os vocais agudos e os falsetes do metal mainstream da época. Com vocais guturais e guitarras em afinações graves, o death metal rompia isso, e vinha com temáticas de letras gore e slasher (gênero de filmes sangrentos dos anos 1970 e 1980), que resultaram em canções de assassinatos, desmembramentos, estupros e torturas.

Como um gênero vizinho do death metal há, por sua vez, o grindcore. Segundo o livro Lords Of Chaos, é o “descendente mais direto da política dos pioneiros do anarquismo inglês e do ‘peace punk” como Crass e Rudimentary Peni, que produziu seus próprios grupos extremamente populares, como Extreme Noise Terror, Napalm Death e Carcass”.

E segue o relato do livro: “As duas inesperadas capitais mundiais do death metal foram a cidade de Tampa, na Flórida, e Estocolmo, na Suécia. Desses extremos de fogo e gelo, o gênero produziu seus artistas mais influentes: Entombed, Hypocrisy, Dismember e Unleashed, da Suécia; Morbid Angel, Death, Obituary e Deicide, do submundo pantanoso da Flórida. Outras áreas dos EUA também produziram bandas notórias – os misóginos fãs de gore do Cannibal Corpse do norte do estado de Nova Iorque, o igualmente rude e hostil Autopsy da Califórnia”.

No cenário thrash metal, por sua vez, uma banda que ainda impunha respeito era o Slayer, que ainda tinha uma massa sônica insubmissa, antes de seu flerte com o metal mais moderno a partir de meados dos anos 1990.

O death metal, por sua vez, ganhou o mainstream entre 1989 e 1993. O que se subentende é que, neste bojo, surgiram bandas ruins, aproveitando o influxo das bandas pioneiras. Aqui, o fenômeno clássico do underground é subsumido pelo mainstream para fins comerciais.

Na Noruega, que seria o centro da segunda e mais importante geração do black metal, ainda havia, inicialmente, o som death metal sendo praticado por bandas como Mayhem, Old Funeral e Darkthrone. Logo estas bandas iriam um passo além, recebendo inspiração do Venom e do Bathory, criando um cenário de extremismos sem precedentes na música e no noticiário, seria algo impiedoso e inaudito.

O black metal norueguês envolve, além da sonoridade, a questão da crença e do visual dos músicos. Por sua vez, o papel que teve o Venom como banda fundadora do black metal mundial, ocorreu também com Mayhem com papel pioneiro dentro da Noruega.

Álbuns que escuto desde adolescente, como Deathcrush, para mim, ainda é um som de splatter, com temas gore, evoluindo para o black metal, por fim, no álbum De Mysteriis Dom Sathanas, de 1994.

No relato de Lords Of Chaos: “Embora o Venom tivesse seguidores fiéis na Europa, o black metal ainda estava para desenvolver seu próprio estilo. Nesse período, Metalion (crítico musical, grifo meu) descobriu a existência do Mayhem, na época uma banda extremamente crua e primitiva de death metal, quando ele os conheceu do lado de fora de um show do Motörhead”.

Metalion, por sua vez, descreve o fato: “Eu conheci eles no show e me contaram tudo sobre a banda. Estava vendendo minha revista, então eu pude conhecer eles. Depois de alguns meses a gente teve um contato mais próximo. Na época eles não tinham nem fita demo. Gravaram a primeira no verão de 86 – a demo Pure Fucking Armageddon. Era muito mais extremo que todo o resto; o som era muito, muito primitivo e muito mais brutal. Você não ouviria nada tão extremo quanto o Mayhem naquela época”.

O Mayhem lançou uma segunda demo e depois um miniálbum, Deathcrush, de 1987. A banda fez poucos shows neste período, mas foram shows antológicos, e a lentidão de Aarseth (Euronymous) em lançar material novo vinha de seu controle extremo sobre a banda e por problemas financeiros. Em seguida, Aarseth adotou para o Mayhem o visual que marcaria as bandas de black metal daquela geração noventista, o “corpse paint”.

O corpse paint tem origens difusas, não propriamente um marco inicial, mas pinturas faciais estilizadas já vinham de bandas como Kiss, King Diamond, Alice Cooper, Glen Danzig nos Misfits e a banda Celtic Frost. E Metalion, o crítico musical, coloca a origem na banda brasileira Sarcófago. Uma banda que veio ao conhecimento de Aarseth, que adorou o som e o visual.

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Blog:
http://poesiaeconhecimento.blogspot.com

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