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Livro Lords Of Chaos aponta a personalidade exata de Varg: vivia da polêmica para entrar na pauta midiática

Os acontecimentos macabros de queima de igrejas, acrescentados o suicídio do Dead e o homicídio cometido por Bard Eithung, ainda estavam repercutindo quando o fato mais fatídico da cena black metal norueguesa ainda estava por vir. Toda uma conjunção se formava e a polêmica em torno da cena agora seria gerada em seu centro nervoso, que era a relação entre Euronymous, do Mayhem, e Varg Vikernes, do Burzum.

No livro Lords Of Chaos, é relatado: “Oystein também havia conseguido, com ajuda financeira de Varg Vikernes, lançar o primeiro CD do Burzum pela DSP. A segunda empreitada do Burzum, Aske foi lançada no início de 1993, alguns meses após a queima da igreja de Fantoft. Foi por volta dessa época, nos primeiros meses do ano, que um clima ruim começou a surgir entre Vikernes e Aarseth. Suas desavenças parecem ter surgido no mesmo período em que Aarseth também brigava com membros da cena sueca, o que fez surgir uma animosidade geral entre fãs de black metal dos dois países vizinhos”.

E segue: “Havia um certo grau de cooperação entre os dois grupos, mas as recentes fricções haviam sido fortes o bastante para que, quando Oystein Aarseth foi encontrado mutilado na escadaria de seu prédio em 10 de agosto de 1993, as suspeitas iniciais de muitos recaíssem sobre os suecos. A morte de Euronymous chacoalhou a cena black metal por inteiro. Até aquele momento, muitos sentiam que conseguiriam se safar incólumes das repercussões de seus feitos – que a essa altura já constituíam uma verdadeira lista de compras que incluía incêndio em igrejas, homicídio, roubo, ameaças de morte, violação de túmulos e vandalismo”.

Portanto, é registrado aqui uma mudança radical de rumo para toda a cena black metal norueguesa e, em certa medida, também sueca, quanto aos crimes que ocorriam, pois agora algo mais sério eclodia, uma ruptura no centro desta cena, envolvendo um dos principais investidores na Noruega, que tinha contatos com bandas de outros países e empreendera pelo selo Deathlike Silence. Euronymous agora estava morto por assassinato.

Quando se pensava que não faltava uma grande coisa para acontecer na cena, isto fora do universo da composição musical, havia agora algo que superava tudo e era sem precedentes, nada mais estava páreo ao que ocorrera. Toda aquela esparrela folclórica da fotografia de Dead com a cabeça explodida era só a introdução macabra desta trama, seu clímax estava no assassinato de Euronymous, colocando a banda Mayhem em torno de uma aura sinistra.

As investigações em torno do crime começaram e logo chegaram a Varg Vikernes. Em Lords of Chaos, é descrito: “Nos dias que sucederam o fatídico assassinato noturno em Oslo, a polícia iniciou uma investigação sobre a morte de Oystein Aarseth, entrevistando várias personalidades da cena black metal, que ele havia fundado praticamente sozinho. Vikernes supostamente falou para a polícia que o homicídio havia sido certamente o trabalho de pseudosatanistas suecos, que invejavam a ideologia mais hardcore do black metal norueguês”.

Diz ainda: “Não demorou muito para que a polícia juntasse as peças sobre o que de fato havia ocorrido. Muitos na cena sabiam que havia uma briga entre Vikernes e Aarseth, mas não suspeitavam que podia ter atingido proporções tão intensas. Alguns eram mais cínicos, e presumiram que o assassino teria de ser alguém de ‘dentro’ da cena, e havia algumas possibilidades sobre quem poderia ser”.

Lords of Chaos acrescenta: “Ihsahn, do Emperor, ouviu sobre o assunto primeiramente no noticiário noturno: ‘Eu liguei a TV em casa, e ouvi as palavras ‘Oystein Aarseth’, e pensei – o que ele está fazendo na TV? Ô merda, o Grishnackh matou ele, eu pensei. Aí liguei pro Samoth e falei: ‘Eu acho que o Grishnackh matou o Euronymous’. A gente sabia que eles não eram mais amigos e se odiavam, mas o Samoth não achou que era o caso. Eu fiquei meio chocado, porque eu conhecia ele até bem na época. Mas não mudou nada na minha vida, o Euronymous morrer”.

Alguns meses antes, Aarseth havia fechado a lendária loja Helvete, pois a mídia e a polícia estavam com uma atenção especial sobre a cena depois dos eventos de queima de igrejas. Agora a polícia estava atrás do assassino dele. “Após apenas quatro dias de trabalho investigativo a partir da entrevista com Ilsa (uma garota sueca de 16 anos que havia vivido por um breve período com Aarseth), a polícia havia coletado provas e testemunhas o bastante para agir com confiança contra o assassino de Oystein Aarseth. Em 19 de agosto de 1993, eles prenderam Varg Vikernes em Bergen. No desenrolar do caso, eles conseguiriam acusá-lo de muito mais do que só o assassinato”, conta Lords of Chaos.

“Há infinitas especulações sobre as motivações para o assassinato de Aarseth. Certamente as relações entre ele e Vikernes haviam azedado. Oystein devia a Varg uma soma significativa de royalties pelos lançamentos do Burzum pela Deathlike Silence, apesar de que, dada a incompetência na administração do selo, isso dificilmente era incomum ou inesperado. Vikernes nega que tenha havido qualquer motivação monetária por detrás de suas ações”.

A partir deste assassinato, que muitos negaram que tivesse sido uma disputa pela liderança da cena na Noruega, pois Varg se projetava com os crimes de incêndio de igrejas, e Euronymous tinha a sua liderança com a loja e o selo e sua importância por ter praticamente fundado a cena, vem a descrição de suas consequências, em Lords of Chaos, pelas palavras de Samoth, da banda Emperor : “Não foi um choque, mesmo. Eu esperava que não tivesse sido o Vikernes o culpado, porque eu sabia que isso ia dar muita merda. Mas o Vikernes foi preso logo depois, e então foi ladeira abaixo. A polícia começou uma gigantesca investigação na cena inteira, tanto na Noruega quanto na Suécia. O fato de o Euronymous ter morrido não me afetou muito pessoalmente. Mas, por causa do assassinato dele, a coisa toda entrou em colapso, e nós todos fomos presos e acabamos na cadeia”,

Bard Eithun, também do Emperor, afirma em Lords of Chaos, quanto à especulação de que Euronymous queria matar Varg: “Eu não sei, porque estava na Inglaterra na época com a minha banda, o Emperor. Eu ouvi que o Oystein ligou pro Mortiis (baixista do Emperor na época) e falava sobre como ele queria matar o Vikernes, mas ouvi isso depois do assassinato”. Sobre a tese de legítima defesa, Bard diz: “Isso é besteira. Não tinha nenhum motivo pro Oystein atacar o Vikernes logo após acordar, ainda de cueca. Ele não faria isso. Mas eu consigo entender, porque o Vikernes queria se safar de uma sentença de 21 anos de cadeia por homicídio doloso premeditado. É o natural a se fazer – foi a mesma coisa comigo no tribunal, eu tentei me safar alegando legítima defesa. Mas não é fácil se safar desse tipo de coisa na Noruega”.

Sobre ter tido contato com Varg depois do assassinato, Bard dá um bom panorama da personalidade questionável de Varg: “Absolutamente nenhum. Ele foi preso após o assassinato e eu fui preso duas semanas depois. A gente estava em prisões diferentes e eu não tinha nenhum interesse em escrever pra ele, porque ele tinha matado o Oystein, que era um cara que eu conhecia há seis anos e eu gostava mais dele do que do Vikernes na época. O Vikernes começou a ficar com o ego muito grande, depois que ele começou a aparecer no noticiário o tempo todo, e ele achava que ele era importante. O Oystein era mais pé-no-chão. O Vikernes sempre era cheio de planos para todo tipo de merda. Uma noite eram planos de matar diferentes pessoas, outra noite era de queimar coisas, e aí mudava de novo. Ele estava sempre falando sobre queimar igrejas. Não era muito realista”.

Aqui se segue a descrição da cena black metal e toda a repercussão do assassinato de Euronymous. Este último relato aponta a noção exata da personalidade de Varg, que vivia da polêmica para entrar na pauta midiática. Isso se torna evidente a cada relato de fatos e de seu ego. Sua perspectiva lunática, no entanto, não é a de alguém alienado num sanatório, mas de uma ideação perversa e onipotente, e que foi às vias de fato, como um terrorista e assassino, e no caso de Euronymous, o verdadeiro líder da cena, este fica para trás com a própria morte, com a cena se estendendo para além desta fonte, como diz Samoth, que era mestre de si mesmo, quanto ao questionamento sobre a influência de Euronymous na cena. A história toda continua, mas este crime é um marco macabro, superando tudo que já aconteceu em toda a cena, pois envolveu duas figuras de proa da Noruega. Na próxima parte deste textos sobre o livro Lords of Chaos, iniciarei com a versão do próprio Varg Vikernes sobre o crime.

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Blog
: http://poesiaeconhecimento.blogspot.com

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