Expor as experiências com o aborto, com o estupro, com as clínicas clandestinas de aborto, com a repressão da sociedade para com a interrupção da gestação. Estas são algumas das questões que o documentário Clandestinas levanta e apresenta ao público. A obra conta com apoio da organização SOF e da International Women's Health Coalition, e apresenta histórias de mulheres que abortaram ilegalmente no Brasil.
São apenas 24 minutos de documentário. Contudo, a intensidade da obra, composta unicamente pelos depoimentos fortes, dá a Clandestinas a sensação de ser mais longo. Os depoimentos ora são apresentados pelas próprias mulheres que viveram tais experiências, ora são relatos de anônimas interpretados por outras mulheres – fato que diz muito sobre o aborto no Brasil e a criminalização da mulher que o pratica.
De acordo com o Guttmacher Institute (organização norte-americana voltada para direitos sexuais e reprodutivos), 97% das mulheres latino-americanas vivem em países onde o aborto é proibido. E ainda de acordo com a pesquisa, todos os países com restrições apresentam altos índices de mortalidade materna, além de impactos na saúde reprodutiva das mulheres devido aos abortos ilegais. Em números, o instituto mostra que 6,5 milhões de abortos induzidos são realizados na America Latina e no Caribe. É diante desse cenário que o tema aborto passa a ter cada vez mais a necessidade de discussão em sociedade.
Aqui no Estado, o Coletivo Feministas de Quinta, levanta tal discussão a partir da exibição de Clandestinas no evento Precisamos Falar sobre Aborto. A proposta é apresentar o documentário e, em seguida, realizar um momento de discussão entre convidadas e público acerca dos assuntos levantados no filme que rodeiam o tema do aborto e da saúde pública. A sessão cineclubista será realizada na quinta-feira (30), ás 20h, no Cine Metrópolis da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em Vitória. A entrada é livre.
Dados sobre o aborto no Brasil
Desde 1984, o aborto em território nacional é considerado crime contra a vida, punindo a mulher que cometê-lo. Apenas não é qualificado crime quando o aborto é realizado devido ao risco de vida à mulher causado pela gravidez; nos casos em que a gravidez é resultante de um estupro; ou ainda se o feto for anencéfalo. Entretanto, um estudo realizado pelos pesquisadores Alberto Pereira Madeiro e Debora Diniz mostra que no Brasil, 14% dos serviços cadastrados no sistema de aborto legal exigem boletim de ocorrência e 8% só o fazem com ordem judicial, sendo que em nenhum dos casos é obrigatório comprovar que houve um estupro, de acordo com o Ministério da Saúde.
Dados e estatísticas como essas acima revelam o quão conservador é o Brasil em relação ao aborto. Em Clandestinas, dirigido por Fádhia Salomão, os depoimentos problematizam tais dados apenas com os fatos relatados acerca da agressão ao corpo da mulher com o aborto clandestino.
Serviço
A sessão Precisamos Falar sobre Aborto, promovida pelo Coletivo Feministas de Quinta, será realizada na quinta-feira (30), das 20h às 22h, no Cine Metrópolis – avenida Fernando Ferrari, 514, Goiabeiras, Vitória. A entrada é livre.