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Ainda a Rádio Cachoeiro

A primeira emissora de Cachoeiro era abençoada a partir das 18h. A Ave Maria, lida por Evandro Martins, bancário e irmão de Antonio Martins, este também locutor. Antonio fazia a locução noturna e aprendia a tocar piano ao mesmo tempo. Repetia aqueles tons incansavelmente, pacientemente. Este piano ficava no palco do auditório da emissora. Hoje mora na Praia do Canto, em Vitória, e se aposentou pela Vale.
Foi neste mesmo auditório que Roberto Carlos cantava ainda menino. O programa era do comerciante e apresentador Cesar Misse. Sempre aos domingos pela manhã. O pequeno auditório enchia. Lembro de uma vez meu futuro sogro conversando com a futura sogra no auditório lotado. “Seo” Geraldo Sobroza e dona Ely Souza.
Depois, muito tempo depois, Zé Nanico, também funcionário da emissora (e bom vendedor), apresentava um programa sertanejo (que não me recordo o nome). Enchia de violeiros que vinham da região.
No intervalo, entre a Ave Maria e o programa de esportes das 18h30, apresentava-se diariamente o Regional de Mozart Cerqueira. Lembro-me de Zé Nogueira em um dos violões.
Chegou a ocasião que passei a fazer um programa de variedades entre às 9h as 11h30 na ZYL-9. Pensando em ser diferente, uma vez disse que o ouvinte havia “arremessado” uma carta ao invés de dizer “mandou”.
Foi o bastante para os amigos e conhecidos ligarem para a rádio me zoando”. Lembro que foi o Bruno Torres Paraíso, intelectual da cidade, além de Baé Casotti, e outros.
A rádio ficava no segundo andar de um prédio de três andares à beira rio, como já frisei. Tinha um varandão com duas janelas e uma porta que davam do auditório para a referida varanda. “Seo” Raul era o administrativo, cão de guarda do proprietário Idalécio Carone, de boa memória. Uma vez, chegando à emissora, vi o velho na porta de seu escritório, provavelmente vigiando meus passos. Foi quando pulei a janela e cai no varandão. Ele pensou que eu tivesse me atirado na rua. Foi o caos.
A equipe de esportes da rádio (Jose Américo, Sabra Abdala, Solimar Cagnin, Oswaldo Amorim, Luis Carlos Santana, Hélio Carlos Manhães) transmitia via LP telefônica, de Sumaré, os jogos do Estrela, sem problemas. Mas transmitir os jogos do Cachoeiro Futebol Clube em Arariguaba era um transtorno. Nessa época, havia uma rivalidade incontida entre Cachoeiro e Estrela.
A LP era cedida pela ex-Estrada de Ferro Itapemirim (Cachoeiro-Marataízes), através de seus telefones. Então, durante a partida, ninguém da Estrada de Ferro podia tocar em qualquer telefone da ferrovia, senão saia no ar. Certa feita, jogavam Cachoeiro e Castelo, 2 a 2, e o Cachoeiro tinha o melhor meio de campo do Estado, Aroldo e Matias. Pênalti a favor do Cachoeiro, Matias pega a bola para bater…silêncio no Estádio e na grande audiência, Matias bate e ….perde. Um funcionário da Estrada, torcedor do Cachoeiro, que estava na Estação no centro da cidade, precisamente na Praça Dr. Pedro Cuevas, pega o telefone e diz: Matias seu FDP!!! Pronto, escândalo na transmissão!
Depois de um tempo, soube que o meio de campo, Aroldo, foi para Rio e que comandava a famosa Falange Vermelha. Matias continuou a ser funcionário da Estrada de Ferro Itapemirim, como meu outro tio, o Roberto Mignone. Depois, o governo estadual deu um fim na estrada de ferro.
Idalécio Carone Filho saiu de Vila Velha e foi ficar com o pai em Cachoeiro. Idalecinho Carone (proprietário da Rede TV de Vila Velha) ficava na rádio. Era novo, devia ter uns 19 anos. Gostava de futebol e andou fazendo umas partidas no Estrela. Afinal, era pertencente ao grupo que tinha Mala Velha, figura querida de Cachoeiro, que morreu precocemente, e Kiko, craque do Estrela na época. Um dia coincidiu da ZYL-9 transmitir um jogo em que Idalecinho atuava. Sabra Abdala, repórter de campo, só para sacanear, finalizou a narrativa do lance dizendo: “Foi um bonito gol do filho do meu patrão”.
Ito Coelho foi um Cachoeirense que venceu no Rio como repórter esportivo. Trabalhou em grandes emissoras do Rio nos anos 50 e 60, como Nacional, Tamoio, etc. No fim de 1969, ele voltou a Cachoeiro e foi trabalhar na ZYL-9. A rádio tinha um jornal falado pela manhã e eu tive o privilégio de trabalhar ao seu lado.
Na sua quase totalidade, o jornal era feito de gilete-press, ou seja, a notícia era recortada direto do jornal impresso e levada para o estúdio. Eu e ele revezávamos na leitura das informações. Chegou a minha vez e a nota era sobre o foguete russo Soyuz. Sem ler antes, comecei a ler no ar, e dizia a nota do jornal impresso: “A Rússia lançou ontem o foguete Soyuz (pronuncia-se Sayoz)…”. Dei essa mancada no ar. Nunca esqueci a gafe.
Cultura
Devido à proximidade com o Rio de Janeiro, Cachoeiro usufruía de certas regalias antes de Vitoria. Os jornais do Rio chegam antes das 8hs do mesmo dia em Cachoeiro. Os suplementos musicais das gravadoras (hoje não existem mais) estavam religiosamente na emissora a cada mês, com os lançamentos nacionais e internacionais. Isso facilitava o trabalho de todos. E isso não é um dado “bairrista”, era pela geografia mesmo. Um dos incentivadores para que eu lesse os jornais, principalmente o Caderno B, do JB, foi Paulinho Domingues, que era locutor da rádio. Paulinho é pai da Camila Domingues (TV Gazeta).
A Praça Jerônimo Monteiro era ponto de reunião dos chamados “intelectuais”, bem em frente ao busto de Newton Braga, o criador da famosa Festa de Cachoeiro (e do Cachoeirense Ausente), também em frente ao não menos famoso “point”, o Bar Alaska e do Salão de Sinuca dos Nemers. E tem mais, Newton Braga foi um dos diretores da Rádio Cachoeiro em tempos idos.
É neste busto que li uma das coisas mais bonitas de todas que me tocaram, um poema dele em placa de bronze, que em um trecho diz:
“…esta sensibilidade, que é uma antena delicadíssima,
captando pedaços de todas as dores do mundo,
e que me fará morrer de dores que não são minhas”.
Nunca esqueci essas palavras, desde então. 
Orgulho-me de ser de Cachoeiro de Itapemirim. Afinal, sempre brinco que sou o mais cachoeirense de todos, simplesmente por ter nascido no sobrado da família, que ficava na esquina da rua Capitão Deslandes com Sete de Setembro, no coração da cidade.
Em paralelo a Capitão Deslandes, na parte de baixo, ficava a Rua Siqueira Lima, onde moravam grandes e bons vizinhos, Os Meireles, os Vivacquas, os Tanures, os Portas, os Lemgruber, os Reinz.  Além da famosa Agência Ford, tinha também a lendária “Pensão dos Inocentes” e a alfaiataria do Atílio (pé de ferro).
Tiro de Guerra
Foi nessa época que fizemos o Tiro de Guerra 220 de Cachoeiro. Cabeça raspada e tudo mais. Colegas como Lelei Dessaune, João Patricio, Marcelo Chaquibe, Helio Goiaba, Átila Miranda, Lino, Sergio Garschagen, Meneghelli e tantos outros.
Boas lembranças
“Quem não faz nada de prático, tem sempre grandes soluções teóricas. Isto é: quem nada faz, tem tempo para ficar pensando”. Peter Drucker

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