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Análise: Histórias que Só Existem

O mundo é preexistente a nossa percepção ou se forma somente no momento em que nos damos conta dele? 
O mundo é preexistente a nossa percepção ou se forma somente no momento em que nos damos conta dele? Segundo alguns filósofos, a partir de nossa compreensão do mundo moldamos a forma como o percebemos, transformando assim o que vemos baseados em nós mesmos, e não em percepções externas. 
 
A nossa subjetividade teria pois o poder de  captar e remontar a significação de cada elemento em nossa mente. Dessa forma, cada um teria uma visão distinta do mundo.

A partir do momento em que marcamos nossa presença, inscrevemos nossa subjetividade e forma de viver que constrói outra visão do mundo. Se entretanto não existe ninguém para ver isso, tudo desaparecerá.

 
Partindo dessa premissa, Histórias que Só Existem Quando Lembradas busca imprimir estas vivências que correm o risco de se apagar no tempo.
 
Numa cidadezinha esquecida no mapa, no Norte do Paraíba, vivem cerca de 10 idosos, que levam sua rotina de forma contínua e sem alteração, até que um dia uma forasteira (Lisa Fávero) chega à cidade e com suas máquinas fotográficas busca imprimir o tempo da localidade atemporal.
 
A rotina tem seu encanto, e no decorrer de dezenas de anos se fez perfeita na adaptação dos costumes à melhor forma de realizá-los. Cada um entretanto pensa desta forma, e a eterna teimosia dos principais idosos mostra que a continuidade muitas vezes não é sinônimo de perfeição  e pode ser uma tortura.
 
Para uma geração criada sob a égide da internet e da atualização constante, a mesmice é coisa inimaginável e assustadora, mas quando se acostuma à falta de novidades, até tem um charme. 
 
A fotógrafa Rita é da mesma opinião, e parecendo haver nascido em outra época, dedica-se a recuperar o imaginário da vila, onde a morte já não assusta, como parecendo que os velhos esquecem até da morte (ou afugentam-na trancando o portão do cemitério).
 
O ritmo lento e repetitivo às vezes cansa, e demora-se um pouco a entrar na trama e nas imagens quase estáticas de velhinhos demorando-se nos planos ou querendo atravessá-los a mínima velocidade. 
 
Com um tempo tão grande em cada quadro é inaceitável problemas de estruturação compositiva e sobretudo problemas de foco. Mas com a entrada da jovem fotógrafa passamos a admirar mais os detalhes e até mesmo pequenos desfoques que criam uma subjetividade tão fantasmática ao lugar.
 
Da mesma forma que a genial utilização de pinholes (câmeras fotográficas artesanais, produzidas com um pequeno orifício) que insere seus habitantes às paredes do lugar, como marcas de vivências já existentes somente em espectro. 
 
A ampla utilização de closes dos rostos mostra marcas de uma vivência, que contam várias histórias mesmo sem dizer nenhuma palavra sob o receio dos forâneos (temos o mesmo papel da fotógrafa, como voyeurs dentro do cinema, desvendando a vida privada do povoado).
 
Uma bela trilha sonora embala a trama, que se deixa levar pelo contraste da juventude/novidade velhice/tradição.
 
Serviço
Histórias que Só Existem Quando Lembradas (Idem, Brasil, 2011, 98 minutos, 10 anos) 
 
Cine Jardins – Shopping Jardins: Sala 1. 21h.

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