Mobilização foi iniciada após doação ao governo do Estado de área para o Centro Integrado da Perícia Técnica
Ramon Oliveira Gomes, produtor cultural e integrante do Conselho de Cultura de Cariacica, explica que o local onde o centro de perícia será construído se trata de uma área privilegiada que, ao longo dos últimos 20 anos, tem recebido uma série de eventos culturais. “[O centro de perícia] não é uma necessidade nossa naquela área. Poderia ser construído em outro lugar”, pontua.
Para além desse caso específico, a situação mobilizou os artistas para debater a distribuição do espaço urbano em Cariacica. Na carta, os moradores destacam que a falta de espaços públicos afeta a qualidade de vida das pessoas, contribuindo para o crescimento das taxas de doenças crônicas e psicológicas.
“Cariacica enfrenta estigmas de uma cidade dormitório. Não há espaços livres de qualidade a não ser os de consumo. Lojas, grandes galpões e estabelecimentos automotivos. Existem mais espaços para os carros em nossa cidade do que para as pessoas”, critica o documento.
Ramon, que também cursa Arquitetura e Urbanismo, reforça os problemas dos espaços urbanos na cidade. “Você anda na rua e não tem nem calçada direito para as pessoas. Cariacica é uma cidade que não é construída para pessoas, é construída para os carros. É construída para o consumo”, acrescenta.
A carta também destaca a falta de planejamento para distribuição da área urbanizada, que corresponde a 24% do município. “As áreas centrais, onde estão localizados a maior parte dos serviços municipais, mantêm um crescimento lento, ao contrário das novas áreas afastadas e marginalizadas, que crescem de forma descontrolada”.
Outro ponto levantado é a baixa quantidade de espaços públicos no município, que somam 47, de acordo com uma cartografia feita com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Sistema Integrado de Bases Geoespaciais do Estado do Espírito Santo (Geobases). Enquanto isso, os espaços destinados à área comercial privativa seguem crescendo e são bem mais privilegiados.
“Se dividirmos a população pelo número estimado de habitantes, haverá aproximadamente 8.168 habitantes por praça. Das poucas praças e áreas públicas que existem no município, boa parte dessas áreas não são convidativas e não oferecem a permanência aos habitantes”, enfatiza o documento.
Os artistas ressaltam a importância da luta por uma cidade mais inclusiva, onde todos tenham direito a vivenciar a cidade. Para Ramon, esse é um dos pontos cruciais da manutenção de espaços públicos. “São locais que fomentam a dignidade, a cidadania humana. É onde as pessoas se encontram, desde o mais rico ao mais pobre, além de favorecer diferentes práticas, como as atividades esportivas, culturais e lúdicas”, pontua.
Reivindicação dos peritos
A escritura do terreno onde vai funcionar o Centro Integrado da Perícia Técnica e Científica da Polícia Civil foi entregue ao governador Renato Casagrande (PSB) nessa segunda-feira (25), em solenidade realizada no bairro Jardim América. O projeto era uma reivindicação da categoria, que temia a perda da verba de R$ 40 milhões disponibilizada há 10 anos pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
No evento, o prefeito Euclério Sampaio alegou que as atividades esportivas e culturais realizadas no terreno não seriam prejudicadas, mas realocadas para outros espaços. A área doada ao Governo do Estado é de 8,5 mil metros quadrados, e está situada às margens da BR-262.
A ideia inicial era que o centro de perícia fosse construído em Vitória, em um terreno na Avenida Fernando Ferrari, mas o prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos), voltou atrás e decidiu não ceder o espaço, que agora seria destinado à instalação de uma infraestrutura da Guarda Municipal.