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Artistas são agredidos por policiais militares em evento em Anchieta

Ação truculenta ocorreu no mês em que Hip Hop, tema do evento, foi declarado patrimônio cultural do ES

Divulgação

Colocado como primeiro evento de Hip Hop no município de Anchieta, no litoral sul do Espírito Santo, o Parada Underground teve sua execução afetada por uma ação truculenta da Polícia Militar. Artista participantes foram atingidos por balas de borracha no último sábado (21). O evento aconteceu no mesmo mês em que foi sancionada lei que considera o Hip Hop como patrimônio cultural do Estado, reforçando o combate à discriminação em relação às prática e praticantes das artes ligadas ao movimento.

O ocorrido foi durante a manhã do evento, que durou manhã, tarde e noite na Vila Olímpica, um espaço público e aberto no Centro do município, onde foi instalado um palco e outras estruturas. Um grupo formado por DJs, Bboys e outros artistas que chegaram no início da manhã vindos de outros municípios para participar das atividades se abrigou na única parte coberta da praça, em frente à guarita da Polícia Militar, onde não havia viaturas estacionadas. Ligaram então um som e começaram a ensaiar passos de dança.

“Eles chegaram já com arma em punho. Eu falei: vou lá conversar com eles, pedir para baixar o som. No que eu levantei a mão e falei que o evento é autorizado, eles já atiraram para o alto, não queriam conversa”, diz um dos artistas presentes no local. “Pedi calma. O cara deu dois tiros [de bala de borracha] em mim e falou: ‘sai, sai, sai’. A galera se assustou, uma menina tomou spray de pimenta na cara”, relatou.

“Ali é base da comunitária da polícia, é uma terreno da prefeitura, não é área militar. Ali é uma polícia comunitária, ela tem que estar junto com a comunidade. Tudo tem que ser feito no diálogo, não com uma política agressiva”, reclamou o agredido. 

O evento possuía autorização da prefeitura e a Polícia Militar havia sido avisada antecipadamente sobre o mesmo, embora os policiais alegaram que não foram informados sobre o fato.

Divulgação

O grupo ainda teve uma caixa de som apreendida pela polícia, que só poderá ser retirada na tarde desta segunda-feira (23). Posteriormente, a própria polícia reconheceu o erro e pediu desculpas para o grupo, embora um dos presentes relate que no Boletim de Ocorrência há uma “aliviada” e registrou ” coisas que nem aconteceram”. “Eles não tem nada contra nós todos os crimes foram cometidos por parte dos policiais”, reclama o artista.

Ação prejudicou o evento mas não impediu continuidade

O rapper Pierrer, organizador do Parada Underground, que contou com apoio da Prefeitura Municipal de Anchieta e da Secretaria de Estado da Cultura, contou que a ação logo no início do evento prejudicou a organização do mesmo.

Ele relata que houve artista que presenciou o incidente e ficou abalado, pedindo para cancelar sua apresentação. Chegou a ouvir pedido de policiais para cancelar o evento, o que negou, pois já havia sido feito todo um investimento para que ocorresse, inclusive a mobilização de dinheiro e de pessoas que estavam ali para participar. “Afetou em tudo, as pessoas ficaram oprimidas, não se apresentaram com a mesma empolgação que teriam. Ainda atrasou a programação e shows que durariam de 30 a 40 minutos tivemos que pedir para reduzir a duas músicas para não passar do horário previsto”, relata.

Mesmo assim, ocorreram apresentações de DJs, batalhas de MCs e B-boys, shows musicais, graffiti, realização de tatuagens e tranças afro e conversas sobre questões como consciência negra e diversidade sexual, entre outras atrações. “Foi um evento para levantar a cultura e o nome da cidade, unindo os quatro elementos do Hip Hop e outras atividades. Fizemos isso para valorizar especialmente a galera daqui, os artistas locais, que precisam ter seus espaços”, explica o organizador do evento.

Lei proíbe discriminação

O artigo 5º da lei estadual 11.771, promulgada no dia 3 de janeiro de 2023, é enfático. “Fica proibido qualquer tipo de discriminação ou preconceito, seja de natureza social, racial, cultural ou administrativa contra a cultura Hip Hop ou contra seus integrantes”. A lei e o movimento Hip Hop foram temas da Entrevista do Século, tendo como entrevistados a deputada estadual Iriny Lopes (PT), autora do projeto de lei, Fredone Fone, MC e grafiteiro e Pandora da Luz, produtora cultural e designer de moda.

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