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Ateliê promoverá arte e cultura em Feu Rosa

Comandada por Rodrigo Borges, Ateliê Maloka em Desencanto terá produção artística e eventos no bairro mais populoso Serra

Bairro mais populoso do município mais populoso do Espírito Santo, Feu Rosa, na Serra, tem nos muros a arte do graffiti. E a partir da próxima semana, ganhará um novo espaço para a arte e cultura. Trata-se do Ateliê Maloka em Desencanto, espaço de produção do artista Rodrigo Borges, que também receberá eventos culturais. A inauguração simbólica será neste sábado (14), contando com uma live com apresentações artísticas a partir das 18h, pelo Instagram.

“Uma das propostas principais do ateliê é a produção de arte dentro da periferia, aproximando a arte dos moradores da comunidade e democratizando e desmistificando a arte o quanto for possível”, conta Rodrigo Borges, que criou a iniciativa com a ideia de poder trabalhar em um espaço em que também houvesse vivências coletivas em diversas linguagens artísticas.

O local conta com dois espaços de produção: um estúdio de desenho e pintura e outro de escultura e trabalhos que envolvem materiais tóxicos ou que gerem resíduos. A proposta é que o ateliê também sirva como suporte para reuniões, discussão de projetos, realização de lives e eventos que podem se estender pela rua lateral do prédio onde fica o estúdio.

O nome, Maloka em Desencanto, faz referência aos ensinamentos da polêmica “cultura racional”, encontrados na coleção de livros intitulada Universo em Desencanto, que ficou muito conhecida no Brasil depois de divulgada pelo cantor Tim Maia. Segundo Rodrigo, dentro dos conceitos da cultura racional, a palavra desencanto significa a desmistificação da existência do ser humano. Quando alguém alcança o desencanto, todos os mistérios da vida são revelados, dando fim a todas as dúvidas, misticismos e estigmas”, explica o idealizador do espaço.

Nesse sentido, ele revela que um dos propósitos da iniciativa é desmistificar a arte e acabar com o estigma incutido no consciente coletivo da sociedade de que a periferia é um lugar “insalubre, violento e miserável”.

“A essência da periferia não é essa. Na nossa visão, é a criatividade, a fraternidade, o amor e as amizades. Sendo assim, o intuito de nossas iniciativas será mostrar na prática que a periferia é capaz de desenvolver cultura a partir dos artistas locais, desmistificando e democratizando a arte através de sua inserção no cotidiano dos moradores da comunidade”, relata ele, que cresceu e mora em Feu Rosa.

Entre as articulações já em curso estão um grupo de pesquisa de aquarela e técnicas mistas e a formação de um coletivo multicultural de intervenção urbana, que utilizará o ateliê como sede e espaço de produção e realização de oficinas, debates, workshops e exposições com foco nos jovens da comunidade e na atuação junto às escolas do bairro.

Rodrigo Borges lembra com saudades de eventos como o Origraffes, um dos maiores encontros de grafiteiros do país, que teve origem em Feu Rosa, deixando vários trabalhos pelas ruas e muros da região. “As edições foram um grande gesto de democratização da arte e inserção dela na vida dos moradores, deixando uma herança cultural muito forte espalhada pelos muros da comunidade”, comenta.

A ideia do Ateliê é continuar promovendo arte para o cotidiano dos moradores de Feu Rosa e também realizar iniciativas em outros bairros da Serra, quando possível. Rodrigo aponta uma carência de oferta cultural e de lazer do município e lamenta a falta de instrumentos de financiamento de projetos culturais, como a Lei Chico Prego, paralisada há anos.

Apesar da deficiência nas políticas públicas, os agentes culturais seguem produzindo no município. E exemplo disso são os convidados que participam da live de inauguração do Ateliê Maloka em Desencanto.

Tendo iniciado nas artes por meio do rap, Dasilva, que também é escritor e educador social, lança o zine Meia Noite, sua terceira publicação, depois de Poesia de Quintal e Terra Preta. “São poesias exclusivas que fiz no dia a dia, dentro dos coletivos, vendo e conversando com pessoas, pegando experiências”, conta. A noite, a população em situação de rua, sua trajetória de vida, sua ligação religiosa com a umbanda são algumas das questões que permeiam a obra ainda inédita.

Já Lis Felix é produtora cultural e apresenta a música Feeling, recém-lançada nas redes. “A música nasceu da visão do cotidiano, da sensação boa que a noite traz. Sobre a importância do aprendizado que a cidade estimula, também da forma de expressar que o amor é livre e que não somos dependentes desse amor e da aceitação do outro, não só no sentido romântico. E que um abraço sincero e real cura”, conta.

Além dela, participam da programação musical Sebastião Câncio e Alex Matos.

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