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Bacurau traz o Brasil que sempre existiu’, diz Silvero Pereira

Fotos: Facebook

Ator, diretor e dramaturgo, o cearense Silvero Pereira vem brilhando nas telas de cinema do Brasil e do mundo em sua interpretação como Lunga, um justiceiro na pequena cidade de Bacurau, que dá nome ao filme brasileiro que é sensação no momento e segue em cartaz em Vitória, no Cine Metrópolis. Ele também é fundador do Coletivo Artístico As Travestidas, que reúne atores e atrizes transexuais, travestis e transformistas, e chegou a desfilar travestido pelo tapete vermelho do Festival de Cannes, onde Bacurau conquistou o Prêmio do Júri.

Silvero está em Vitória, onde ministra a oficina “Interpretação: Estado e Criação em Cena”, que acontece dentro da programação do Festival de Cinema de Vitória. No intervalo das aulas, ele conversou com o Século Diário.

– Como está sendo a repercussão de Bacurau?

Estou muito feliz com Bacurau, acho que é um filme que tem chegado em grandes camadas populares, ainda mais se pensar na obra de Kleber [Mendonça Filho, um dos diretores do filme], com outras obras que as pessoas tentam encaixar em lugares mais cults, mais artísticos. Eu discordo um pouco disso, acho que O Som Ao Redor tem essa sofisticação, mas Aquarius já não tem isso. E Bacurau vem de uma maneira ainda mais popular mas sem perder a qualidade artística, que é a trajetória do trabalho de Kléber. Ele e Juliano [Dornelles, co-diretor de Bacurau], através do roteiro e da linguagem, conseguem fazer com que esse filme se torne popular. Isso tem acontecido. As salas de cinema têm estado lotadas, a gente vai para a quinta semana em cartaz agora, é um feito muito grande para o cinema nacional. Estamos quase virando os 500 mil expectadores, passamos a barreira de R$ 2 milhões arrecadados. É um feito muito grande que só nos dá orgulho de fato.

– Como ator, o que te marcou ao fazer o personagem Lunga no filme?

O que mais me chamou atenção foi ter vivido naquela comunidade com aquelas pessoas e ter contracenado com elas. Não eram atores profissionais, até tinha elenco de atores profissionais, mas contracenar com atores não profissionais foi especial para mim. Aprendi muito com aquelas pessoas e a relação que ficou depois ainda existe. Então o mais especial que eu tenho de Bacurau, com Lunga e com o processo, foi ter ido àquela comunidade. 

– Por quanto tempo estiveram lá?

Foram dois meses de filmagem.

– O que acha que o filme traz de interessante para pensar o Brasil hoje?

O que o filme traz é o Brasil de sempre, não é o Brasil de hoje, não é o Brasil de amanhã. É o Brasil que sempre existiu. Se as pessoas vão para o cinema e se identificam com o Brasil de hoje não é culpa do filme, é porque elas já sabem que o Brasil está assim há um tempo e elas estão buscando enxergar esse Brasil em todo e qualquer lugar. Não acho que o filme vem para dizer uma mensagem direta. Tem um roteiro de dez anos atrás, foi filmado antes das candidaturas das eleições acontecerem. Se nós tivéssemos um resultado nas urnas diferente, ele provavelmente não faria tanto sentido como está fazendo. Se o filme faz sentido agora, é porque as pessoas estão querendo esse sentido. Então essa ficção, essa arte, se torna importante exatamente por isso, para dizer o quanto a arte é importante, porque as pessoas veem a arte como lugar de resistência, de identificação e de catarse.

– Como está sendo sua passagem por Vitória e a participação no Festival de Cinema?

Eu já vim outras duas vezes, em 2004 e 2017, mas com teatro é a primeira vez que venho ao Festival de Cinema. Esse festival é muito importante para apresentar a mostra nacional mas também a mostra local, capixaba, de mulheres, de negritude, de meio ambiente, LGBT, a ida das crianças pro cinema, o retorno para aquele espaço do Sesc Glória lotado, e o espaço de convivência também com uma tenda que faz com que as pessoas celebrem, estejam juntas, vejam olho no olho quem são os produtores e como a gente tá trabalhando e tentando construir ainda a história do cinema no Brasil

– Na sua carreira, o que está trabalhando agora?

Estou fazendo só teatro. Nesse momento estou só produzindo teatro, circulando com minhas peças de teatro, nada em televisão, nada em cinema. Estou com a peça BR Trans que circula pelo Brasil.

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