Mensagem política e pan-africanista marcam trajetória do grupo que lança primeiro show online nesta segunda-feira
Rearranjando músicas do antigo grupo e produzindo novos sons, o Tēgwa busca “resgatar e manter viva toda sabedoria e tradições da cultura afrobrasileira e indígena ao qual tivemos acesso desde a infância e que são importantes como ferramentas mantenedoras da identidade de povos tradicionais dentro da sociedade brasileira”, conta Fabiano, que define o reggae raiz, estilo preconizado pela banda, como música e origens e tradições africanas, tendo sua base estrutural, política e espiritual na Jamaica. O país caribenho é formado predominantemente por povos como os fanti e ashanti, fontes importantes para manter a identidade africana dos que viveram a “diáspora negra” nas Américas, forçada pela colonização europeia e sua sociedade escravocrata.
“A música afro é criadora de tendências por natureza e o Reggae Raiz é a junção de estilos e ritmos afroamericano e caribenhos, como o mento, o calipso, tambores etíopes (Nyabinghi), blues, jazz, funk e soul”, resume. As letras da banda, assim como de muitas outras do gênero, trazem cunho político que denuncia as mazelas e explorações dos países do chamado Primeiro Mundo. Assim como o blues, diz o líder do grupo, o reggae raiz também traz algo de lamento, ao mesmo tempo em que serve como espécie de mantra espiritual voltado ao Rastafarianismo.
O grupo não esquece a cena da Terça Reggae, que ocorria na Curva da Jurema no final dos anos 90 e início dos 2000 e provocou um boom do gênero no Estado. “A cena reggae cresceu muito. Nesta época se contavam 36 bandas ativas em toda Grande Vitória. Com o apoio de programas de rádio, muitas bandas locais tiveram oportunidades de ascensão estadual e nacional. O cenário se fortaleceu porque na época Vitória tinha festivais e eventos importantes acontecendo durante todo o ano”, lembra o vocalista.
Seguiram-se depois anos de enfraquecimento da cena, ainda mais agravado pela pandemia. Agora, Fabiano Jesus enxerga um novo fortalecimento do gênero, que encontrava novo momento de encontro às terças-feiras na Praça do Papa, onde várias bandas que estiveram paradas estão voltando a tocar a cada semana, como foi o caso do Tēgwa, que se apresentou no final de fevereiro no evento Viva Praça do Papa.
“Ainda estamos na pandemia e o setor artístico e cultural ainda não se normalizou, ainda não tem tantos eventos pras bandas se apresentarem, porém tem muitos editais que estão proporcionando uma outra forma de ocupar os espaços usando a internet e acompanhando desenvolvimento desta nova década através de uma forma diferente de produzir cultura”, diz.
Além da pesquisa e resgate cultural afro e também indígena, o grupo está produzindo e desenvolvendo eventos e ações culturais e sociais em comunidades de periferia da Serra e de outros municípios da Grande Vitória, levando sua mensagem também a comunidades quilombolas, indígenas e espaços do movimento negro e de religiões de matriz africana. “São projetos relacionados à divulgação e afirmação do pan-africanismo como resposta e proposta de inclusão do afrodescendente em todos os espaços políticos, econômicos e sociais”.