Registro pode ajudar na produção e comercialização da iguaria e seria primeiro do tipo em território quilombola no país
Um alimento que representa muito de uma cultura. O beiju, feito com base na mandioca, é uma iguaria marcante para quem visita o norte do Espírito Santo, sobretudo na região do Sapê do Norte, que inclui diversos quilombos nos municípios de São Mateus e Conceição da Barra. Recentemente, com apoio do Sebrae, os beijus dessas localidades começaram um processo para conseguir um selo de Indicação Geográfica (IG), visto como uma forma de valorizar o produto e ampliar seu reconhecimento e comercialização.
Para isso, o do Beiju do Sapê do Norte precisa de ser aprovado pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), o que demanda uma série de procedimentos, para os quais a consultoria do Sebrae contribuirá com um plano de trabalho que incluirá uma série de reuniões, oficinas, palestras, workshops e atividades contínuas junto às comunidades detentoras do saber e fazer relacionado com o alimento ancestral. Segundo Clébia Pettene, Gerente regional do Sebrae/ES, seria o primeiro selo de IG em território quilombola no Brasil.
Ela considera que entre os benefícios pretendidos com o projeto estão o maior acesso a mercados e o reconhecimento do produto, sua legitimação e visibilidade para ganhar mercado e gerar emprego e renda para esse público-alvo que são os quilombolas.
“É um alimento muito forte nessa região e identificamos que é possível fazer um trabalho para apoiar pequenos empresários e pequenos negócios, o que é a missão do Sebrae”, conta Clébia Enquanto se prepara a inscrição no INPI, vão sendo realizadas atividades para apoiar as comunidades e produtores de beiju. Foi criada uma marca provisória para apresentar a campanha em torno da criação do selo, que pode ser mantida ou modificada, conforme a avaliação das comunidades.
“Eu acredito que a Indicação Geográfica possa trazer uma contribuição muito grande para a valorização do nosso beiju. Pode contribuir para o reconhecimento e para a geração de renda. Além de ser importante para a reprodução e sustentabilidade de nossas comunidades, o beiju traz uma afirmação de nossa identidade”, diz Josileia dos Santos, do quilombo de São Cristóvão, em São Mateus.
“Quando se fala de tradição como a do beiju, que queremos preservar, estamos falando de cultura e agricultura, que são dois alimentos que estão na nossa mesa. Nunca se deveria separar cultura e agricultura, uma depende da outra”, indica Gessi Cassiano, da comunidade de Linharinho, em Conceição da Barra.
Josileia explica que o processo de produção do beiju se inicia na agricultura. Para a plantação da mandioca, as comunidades costumam aguardar a lua mais propícia para plantio e o período de chuva ou de maior umidade, o que contribui para melhor desenvolvimento das plantas. É só depois de um período entre seis meses e um ano na terra que a mandioca é colhida, sendo que nesse período de espera os agricultores fazem o roçado e manejo das plantas até o momento de colheita.
“Não tem como falar da produção de beiju sem falar do que nossos ancestrais passaram para manter essa produção viva dentro de nossos territórios. Foi e é um produto fundamental para permanência do conhecimento ancestral entre nós”, afirma Josileia. A casa de farinha, explica, também sempre foi um espaço de encontro, socialização e cantigas nos quilombos, local onde as famílias se juntam para apoiar umas os trabalhos das outras.
No Espírito Santo, já possuem selo de Identificação Geográfica as Panelas de Barro de Goiabeiras, o Mármore de Cachoeiro de Itapemirim, o Cacau de Linhares, o Inhame de São Bento de Urânia (Alfredo Chaves), o Socol de Venda Nova do Imigrante, o Café do Caparaó, o Café das Montanhas do Espírito Santo e o Café Conilon do Espírito Santo. Além disso, estão em curso os pedidos de certificação para a Pimenta Rosa de São Mateus, Pimenta do Reino do Espírito Santo, Granitos Noroeste e Carne de Sol de Montanha, lista à qual se soma agora o Beiju do Sapê do Norte.