Experimento imagético e sonoro de Tati Rabelo e Rod Linhales parte de depoimentos de artistas capixabas
“Provocar uma expurgação, uma catarse, um deboche morfológico, utilizando com bom humor e estética onírica”. Assim se define o objetivo de Bestiário Invisível, videoarte recém-lançado pela dupla Tati Rabelo e Rod Linhales. A obra une relatos de seis pessoas LGBTQIA+ sobre dificuldades e preconceitos encontrados em suas trajetórias por conta de sua orientação sexual.
As falas aparecem junto às imagens das pessoas que fazem as declarações, Amanda Brommonschenkel, Icaro Goulart, Lorena Bonna, Caic Goulart, Max Uranio e Graziella Real, todos artistas do Espírito Santo e ativistas LGBTQIA+, porém, suas figuras são sobrepostas por meio diversos elementos artísticos, sobretudo utilizando figuras de monstros, frutos de uma pesquisa feita pelos realizadores com desenhos antigos. O vídeo de 12 minutos pode ser assistido gratuitamente abaixo.
A ironia é usar os monstros construídos a partir das próprias mentes preconceituosas como elemento estético e de desconstrução. “As lâminas representam as camadas de preconceito e a construção da figura bestial, que se desnuda dos preconceitos à medida que o vídeo se desenvolve. O resultado disso é que as camadas desaparecem conforme a câmera avança, uma alegoria também sobre a passagem de tempo e os avanços sociopolíticos, até o final desejado, onde se enxerga o humano em si, um semelhante, apenas uma figura humanizada e real”.
Tati Rabelo explica que o Bestiário Invisível busca proporcionar por meio da linguagem da videoarte uma experiência de aprendizado e inclusão social. “O imaginário dito convencional teima em colocar o universo LGBTQIA+ em ‘caixas’, geralmente em contexto hiper sexualizado, cômico ou bestial. A construção da identidade para um indivíduo da nossa comunidade perpassa rupturas inimagináveis para os heteronormativos. Além de ter que lidar com a autoaceitação, temos que lidar com a construção de uma imagem de nós mesmo imposta de forma coercitiva pelos instrumentos midiáticos, detentores da disseminação de padrões cisgêneros normativos”, questiona.
Esses conflitos são fortemente presentes na obra de Rod e Tati, explicitando as questões pessoais que os membros da comunidade LGBTQIA+ encontram em seus cotidianos. A produção sonora do filme foi feita por Gabriela Brown, mixando camadas de ruídos orgânicos e paisagens sonoras urbana, além de recursos técnicos como efeitos, reverberações e repetições na fala de cada personagem.
“Acreditamos que o processo de pesquisa e produção também é um instrumento empoderador, na medida em que o resultado promove um local de fala próprio, um território despido de pré-conceitos e arquétipos impostos”, explica Tati.
Sobre os participantes
Caic Goulart (Brisa)
Brisa não se define, é fluidez que se transforma e envolve quem está a sua volta. É leve como um vento e imponente como um tornado. É pura performance!Intitulada como artista visual, ela reina nas pick ups,é queridinha dos clubs capixabas há mais de 4 anos.Com seu toque artístico promete te levar para uma experiência única, uma vibe que será difícil de esquecer. Atividades: maquiagem, styling, artista visual, Dragdj, modelo, performance, publicidade.
Ícaro Goulart (A Úrsula)
A Ursula é ativista da causa LGBTQIA+ , DJ residente do Bekoo das Pretas e entre suas inúmeras atividades: é artista visual, DragDj, modelo e artista performática.
Amanda Brommonschenkel
Amanda é ilustradora, artista, comunicadora e educadora social. Atuante na comunidade lésbica é uma das organizadoras do Festival Origraffes, Festival Nacional com principal eixo temático o Graffiti, envolvendo os demais elementos da Cultura Hip Hop, que ocorre desde 2016 Feu Rosa, na Serra. Também organizadora do Festival Prata da Casa.
Lorena Bonna
Lorena Bonna é ilustradora e designer gráfica, Sua persona musical atual é a Roberta de Razão, cantora e instrumentista da Laja Records, seus mais novos lançamentos autorais estão em todas plataformas digitais.
Graziella Real
Grazi é uma transfeminina, atuante na comunidade LGBTQIA+ Conhecida pelas performances como ‘Barbie Capixaba”, é modelo, apresentadora de TV e uma potente voz da comunidade transexual.
Max Uranio
Transexual masculino, artista visual, performer e poeta. Max foi personagem do documentário Transvivo, de Tati Franklin, onde relatou sua transição e segue atuante na militância LGBTQIA+ e na produção de novas obras performáticas