Última reunião foi em dezembro. Situação gera incerteza entre os blocos
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Falta apenas um mês para o Carnaval 2025, e a gestão de Lorenzo Pazolini (Republicanos) ainda não dialogou de fato com blocos do Centro de Vitória, aponta a Liga dos Blocos, o Blocão. Até o momento foram feitas apenas duas reuniões, uma em outubro e outra em dezembro, embora a Prefeitura de Vitória tenha se comprometido a realizar uma outra na primeira quinzena de janeiro.
“Não houve continuidade do diálogo com a gestão. É complicado. A gente fica em uma situação de incerteza. Se não há resposta, a gente se pergunta: vai ter Carnaval? A sensação é de que estamos sendo ‘cozinhados’ pela prefeitura”, diz Douglas Santhos, integrante do bloco AfroKizomba, que integra o Blocão.
A administração municipal publicou, no Diário Oficial do dia 2 de janeiro, o Decreto nº 24.550, que estabelece normas e critérios para o desfile dos blocos de rua na cidade. Entre as determinações, estão o desfile dos blocos entre 8h e 19h; a permissão de, no máximo, dois blocos a cada dia, desde que sejam em diferentes regiões administrativas da cidade – com exceção aos dias do Carnaval oficial, quando acontecem exclusivamente no Centro de Vitória.
A programação dos blocos, segundo o decreto, contempla as datas de 25 de janeiro até o último final de semana de março. Já para os blocos que vão desfilar apenas no Centro da cidade, a programação é voltada para os dias 1º a 5 de março.
No dia 15 de janeiro, foi encaminhado para o então secretário de Desenvolvimento da Cidade e Habitação (Sedec), Luciano Forrechi, um ofício solicitando diálogo com a gestão, mas não houve resposta. No ofício, o Blocão afirma enxergar como positivo o “reconhecimento do papel da Administração Pública na garantia do direito à cidade, à cultura e ao lazer, assumindo responsabilidades relacionadas à limpeza urbana, à oferta de serviços médicos de urgência, à oferta de sanitários e água potável, à promoção de melhor mobilidade urbana e à segurança pública”.
Contudo, aponta necessidade de melhorias, como a ampliação da quantidade de manifestações carnavalescas de rua por bairro/região administrativa; ampliação dos horários em que as manifestações carnavalescas de rua acontecem no período oficial de Carnaval, prevendo o desfile de blocos noturnos no período fora do Carnaval oficial. Um dos blocos que tradicionalmente desfilam fora desse período é o PelaDonas do Centro, que vai às ruas na quarta-feira antes do Carnaval.
Douglas recorda que, no ano passado, apesar de o decreto ter essa restrição, o PelaDonas foi às ruas, mas, destaca, é necessária a garantia de que não haverá impossibilidade em vez de depender “da boa vontade da prefeitura”.
O Blocão reivindica, ainda, a possibilidade de blocos de Carnaval parados, como o Vai que Gama, que acontece todo ano na rua Gama Rosa; “a exclusão da previsão genérica e por demais ampla de responsabilização dos blocos de Carnaval de rua por danos de qualquer natureza no uso do espaço público”; e a inclusão de representantes dos blocos de Carnaval do Centro na Comissão de Desfiles de Blocos.
Amacentro
Ao contrário do Blocão, a Associação de Moradores do Centro (Amacentro) afirma que tem encontrado diálogo com a prefeitura no que diz respeito ao Carnaval. O presidente da entidade, Walace Bonicenha, informa que, nesta quinta-feira (6), houve reunião da Associação com a Sedec. De acordo com ele, não foi apresentado, ainda, nada de concreto no que diz respeito às solicitações feitas pela entidade, mas que a gestão parece estar empenhada no diálogo entre as secretarias para garantir.
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A Amacentro encaminhou para a prefeitura, no dia 2 de janeiro, um ofício com reivindicações nas áreas de segurança, limpeza urbana, comerciantes de rua e ambulantes, comunicação visual e informativo, tráfego e acessibilidade, sonorização, dispersão, inclusão, saúde, e planejamento e estratégia. Como o que foi solicitado ultrapassa as atribuições da prefeitura, a Amacentro já se reuniu também com a Secretaria Estadual de Justiça (Sejus), Casa Militar e Corpo de Bombeiros, e irá se reunir com a Secretaria Estadual de Cultura (Secult).
Reivindicações
No quesito segurança, algumas das reivindicações são posto de policiamento na Praça Costa Pereira e no cruzamento da rua Sete de Setembro com a Coronel Monjardim, em parceria com a Polícia Militar (PM); implantação de posto da Policia Civil (PC) em parceira com Secretária Estadual de Segurança Pública e Defesa Social (Sesp); policiamento volante nas principais áreas do Centro no decorrer dos eventos; presença “efetiva e orientadora” da Guarda de Trânsito nas principais vias da região do Centro; e realização de blitz da Lei Seca no território.
Entre as de limpeza urbana, estão a criação de uma central de coleta de materiais recicláveis, como latas de alumínio para os coletores realizarem suas vendas e ou depósitos; instalação de contentores e lixeiras extras de lixo em locais estratégicos do bairro; lavagem das ruas e praças além do circuito oficial, incluindo escadarias e ruas históricas; cumprimento da legislação em relação à quantidade de banheiros com acessibilidade; e campanha educativa sobre descarte correto de resíduos.
Sobre os comerciantes de rua e ambulantes, a Amacentro solicita organização desses trabalhadores, com cadastro e formação; elaboração de “praça de alimentação humanizada” na Praça Costa Pereira; proibição da venda de bebidas em garrafas de vidro e campanhas educativas sobre os riscos; restrições para ambulantes com carros automotivos e com sonorização eletrônica no interior do bairro, principalmente nas ruas Sete de Setembro, Coronel Monjardim e Graciano Neves; e criação de uma cartilha educativa e formação para ambulantes.
No que diz respeito à comunicação visual e informativo, algumas das reivindicações são desenvolvimento de materiais gráficos e digitais, como QR Codes, cards e redes sociais, para divulgar informações como localização de serviços e programação do Carnaval; indicação e sinalizações visíveis para banheiros, ambulâncias, pontos de segurança e pontos de ônibus e seus respectivos horários; uso de painéis eletrônicos para campanhas educativas com temas como combate ao racismo, respeito ao patrimônio histórico, assédio e violência.
Restrições para circulação de veículos no núcleo histórico durante o Carnaval, com permissão apenas para moradores; interdição para automóveis das ruas Sete de Setembro e Professor Baltazar; e proibição de trios elétricos de médio e grande porte nas ruas internas e ampliação da frota e horário de ônibus do sistema Transcol para permitir uma melhor dispersão de pessoas após os términos dos blocos são algumas das reivindicações no quesito tráfego e acessibilidade.
Na sonorização, algumas são proibição do uso de caixas de som portáteis em portarias e nas proximidades de edifícios e casas residências sem previa autorização dos moradores locais; aumento de efetivo e ampliação dos serviços do Disque Silêncio; ação preventiva em relação ao uso de caixas de som móveis. Na questão da dispersão, a Amacentro demanda que a prefeitura promova, apoie e amplie a divulgação de eventos para além do circuito de Carnaval, com outras possibilidades de música, como rap, funk e trance em horários posteriores à apresentação dos blocos, em território próximos, como a Cidade do Samba e Tancredão, além da ampliação da frota e horário de ônibus do sistema Transcol, “para permitir uma melhor dispersão de pessoas após os términos dos blocos”.
Para promover inclusão, a Amacentro sugere garantia da instalação de banheiros acessíveis e realização de bailes inclusivos para crianças, idosos e juventude, em locais como Fafi, Mercado da Capixaba e Parque Moscoso. Na área da saúde, as reivindicações são instalação de pontos de hidratação e bebedouros de água públicos; instalação de ambulância nas mediações da Rua Sete de Setembro, próxima a Coronel Monjardim; e campanhas de conscientização sobre o uso de preservativos e uso de drogas lícitas e ilícitas.
Por fim, em planejamento e estratégia, reivindica-se desenvolvimento de um fórum permanente de construção e acompanhamento do Carnaval, com representação das equipes das secretarias da prefeitura, Associação de Moradores, Blocão, PM, parlamentares “e outros envolvidos no evento”.