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Cadê, Maria?: mulheres querem ganhar espaço no samba

Rua Maria Saraiva. As ruas com nomes de mulher são exceção na cidade de Vitória e tantas outras. Localizada no Centro de Vitória, entre a Rua Sete de Setembro e a Graciano Neves, é uma pequeno acesso para carros, que por vezes acaba fechada pela população que lota o tradicional samba. 

Ali estão o Bar da Zilda, comandado por uma mulher, e o Bar do Rominho, onde se reúne o grupo Cadê Maria?, formado apenas por sambistas mulheres. No Rominho, há um painel de homenagem com nome de vários sambistas do Espírito Santo. É preciso procurar muito para encontrar nomes femininos. 

Mas quando chega o Cadê Maria?, uma nova faixa rosa é colocada por ali, com os nomes de Anne, Bruna, Carla, Cristina, Crystal, Fernanda, Karina, Kátia, Nayara, Vanessa, Verônica e Priscilla, integrantes do grupo, formado inicialmente por algumas integrantes do BatuQdellas, um bloco de carnaval de mulheres, e logo acolhendo outras cantoras e instrumentistas. Cadê Maria? e BatuQdellas são projetos irmãos, embora diferentes. Mas no próximo sábado (26), farão um encontrão a partir das 15h no Samba do Outubro Rosa, no mesmo “batlocal”, a Rua Maria Saraiva.

Foto: Karina Loyola

Aliás, a partir do projeto surgiu o interesse de saber quem seria essa Maria que deu nome a uma rua em pleno Centro da cidade. “Descobrimos que Maria Saraiva era uma mulher negra, doceira, que não era nobre. Vendia doces de tabuleiro e era conhecida na região do Centro. Mas há algum mistério, encontramos pouco material sobre ela e ainda gostaríamos de ter mais informações”, diz Vanessa Labuto, uma das integrantes do grupo de samba, que traz em seu nome uma dupla referência, à mulher que da nome à rua e à falta de espaço para mulheres no samba.

A intenção é que as mulheres se assumam como ritmistas e não apenas como vozes intérpretes de samba. Na banda, elas estão na linha de frente em todos espaços, desde instrumentos e canto até produção e divulgação. “Tudo acontece de forma muito tranquila, muito leve. Com tanta mulher junta, a gente tem que saber receber todo tipo de ativismo, com respeito, para que as coisas aconteçam de forma leve”, conta Vanessa, que toca caixa e tan tan, destacando a diversidade dentro do grupo.

“A gente começou de forma bem despretensiosa, como uma válvula de escape, de ter um encontro extra, sem ser ensaio do BatuQdellas. Depois outras meninas se somaram, a gente viu que deu certo e vem tocando, até nos dias frios e de chuva as pessoas têm acompanhado”, conta Vanessa. Os encontros do Cadê Maria? Acontecem a cada duas semanas nas sextas-feiras, sempre às 21h no Bar do Rominho, sem hora exata para terminar, podendo se alongar por vezes até 2h30 ou 3h.

Foto: Karina Loyola

Para isso, claro, são necessários muitos ensaios para a construção de um repertório que conta com quase 60 canções, que vão do samba ao pagode e axé, com temas variados que vão do romântico à crítica social. O grupo busca dar destaque a músicas de compositoras consagradas como Leci Brandão, Beth Carvalho e outras. O sucesso das rodas de samba do Cadê Maria? tem sido grande e proporcionado novos convites, de maneira que o grupo resolveu abrir possibilidade de contratação para apresentações externas, o que ajuda a profissionalizar o trabalho.

Além do Cadê Maria, outros grupos de mulheres vêm trabalhando para fortalecer a participação feminina no samba capixaba. Projetos como Sambatom, Samba Pras Moças e Olhar de Sedução estarão juntos no dia 9 de novembro, de 14h às 19h, quando acontece uma etapa local do Encontro Nacional Mulheres na Roda de Samba, no Mercado de São Sebastião, em Jucutuquara, Vitória.

Os projetos têm contribuído para a formação musical das mulheres. Vanessa Labuto, que também é coordenadora na área de caixas no BatuQdellas, conta que o grupo já soma 17 mulheres, sendo que 85% delas não sabiam tocar os instrumentos quando ingressaram no projeto.

AGENDA CULTURAL

Samba do Outubro Rosa, com Cadê Maria? e BatuQdellas

Quando: Sábado, 26 de outubro, 15h

Onde: Rua Maria Saraiva, 44.

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