Fotos: Divulgação
Nascido em Nova Venécia, Jhon Bermond viveu no no Espírito Santo até os 10 anos, quando se mudou com os pais para o Rio de Janeiro. Sempre teve uma ligação com a pintura. “Desde criança, já pintava as paredes de casa com carvão”, ri.
Mas a vida tem caminhos às vezes tortos. Foi em 2013, cansado da vida estressante na cidade, que o já adulto Jhon retomaria sua trajetória com a pintura, quando pediu demissão do trabalho que tinha e foi passar um tempo numa ecovila El Nagual, no Estado do Rio de Janeiro, onde conheceu a proposta da Permacultura. “Foi onde me reconectei com a natureza e com os estudos na pintura natural. Foi o momento de unir a natureza com a arte que me fez seguir adiante”, conta.
Participou de vivências com indígenas xavantes no Mato Grosso, onde praticou e aprendeu mais sobre bioconstrução e pintura natural, e passou a buscar aprender mais. Em sua apresentação nas redes sociais, fala de sua relação com a pintura. “Não tenho formação acadêmica em artes. Ela simplesmente surgiu em minha vida e, com o passar do tempo, experiências e dedicação, mais aprendo e me apaixono pelas formas, traços e cores. A inspiração vem da natureza, misturada com sentimentos, sonhos e intuição”.
Foram os estudos, experimentos e intuições que deram origem a seu trabalho artístico, muito focado em retratar paisagens e aspectos das culturas populares e tradicionais, com pinturas que podem ser encontradas em sua página oficial na internet. Entretanto, toda pesquisa desenvolvida não lhe rendeu apenas obras por ele pintadas, mas também a um pequeno caderno digital gratuito chamado “Apostila Intuitiva de Pigmentos Naturais“, assinado por seu projeto Arte da Terra, que ganhou grande difusão por todo país na internet. Nela, o autor conta um pouco sobre os pigmentos naturais, usados de forma ancestral há milhares de anos.
Em seguida ensina como obter diferentes cores a partir de alimentos e também de minerais, como o carvão que utilizava na infância para pintar as paredes. Outros elementos naturais servem como fixadores e conservantes, garantindo maior qualidade e durabilidade para os pigmentos.
“Tinta natural” é uma palavra bastante recente. Antes era somente 'tinta”, aponta o artista, já que tudo era natural. Mas a indústria criou e promoveu as tintas a partir de materiais tóxicos, hoje bastante populares, práticos e fáceis de encontrar. Mas por que caminhar no sentido inverso desse suposto “progresso” da humanidade?
“Meu serviço envolve esse cuidado em trabalhar com e não contra a natureza. Respeitando a pessoas, quando se envolve com a cultura tradicional e utiliza a arte que não agride nosso corpo. Cuidando da terra, a utilizar um pigmento orgânico que utilizado e descartado na natureza não trará problemas e partilha justa, levando o conhecimento para todos”, afirma, lembrando dos princípios da permacultura, que tem como pilares o cuidado com as pessoas e com a terra e o partilhar do conhecimento.
E não só com a cartilha Jhon Bermond partilha esse conhecimento que ajuda a cuidar do planeta. Também realiza oficinas de pintura intuitiva com tintas naturais, tendo passado por todas as regiões do Brasil. Em cada local, conforme as características de solo e da flora, mudam os elementos usados, já que a ideia é aproveitar o que está no entorno.
“As tintas naturais estão no nosso cotidiano. Na terra que pisamos, nas cozinha, no quintal, nas refeições. Basta a gente parar para observar as cores da vida”, aponta. Açafrão, urucum, café, carvão, argila, terra, couve, beterraba, casca de cebola e jabuticaba são alguns dos elementos que servem de base para obter as colorações. Para obter as tintas, são feitos processos como cocção, maceração, infusão, fricção e liquidificação.
A pesquisa não é fácil. “O processo de preparação é milenar, envolve diversas técnicas e muitos estudos. Pesquisar e resgatar a pintura ancestral tradicional é sempre um desafio. Em diversas regiões do Brasil, comunidades já deixaram de utilizar as tintas naturais e fazem a opção das industrializadas. A relação com as cores e a natureza se dá principalmente com o respeito à identidade dos povos que tingiam somente com as cores naturais”.
Jhon Bermond já levou suas oficinas para Roraima, Amazonas, Pará, Maranhão, Piauí, Goiás, Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Rio de Janeiro. Mas ainda não realizou atividade em seu estado natal. Até tentou trazê-la para Vitória recentemente, mas não houve “quórum” para completar uma turma e viabilizar a atividade. “E como na natureza tudo tem o seu tempo, respeitamos e deixamos a semente germinar para uma próxima colheita”, considera.
Atualmente, entre pinturas, vivências, oficinas e outras atividades, o artista prepara seu primeiro livro sobre plantas e tintas naturais, com previsão de ser publicado no próximo ano.