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Capixabas marcam presença na Festa Literária Internacional de Paraty

Mais: Casa Poéticas Negras; lançamentos na Casa Pagã; autoras capixabas na Flip

Durante cinco dias, de 9 a 13 de outubro, a cidade de Paraty, no Rio de Janeiro, “respirou” literatura. Nesse período, foi realizada a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que desde 2003 reúne anualmente os amantes dessa arte em uma programação com atrações como palestras, oficinas, rodas de conversa e lançamentos de livros para um público diverso, vindo de vários estados do Brasil e de outros países. A coluna esteve no evento e saiu à caça dos capixabas que marcaram presença na Flip.

Tânia Rego/agência Brasil

Buscou os autores do Espírito Santo na programação oficial, que teve atividades gratuitas mas era majoritariamente paga, com valores até R$ 130,00, mas principalmente nas famosas casas parceiras, que não fazem parte dessa programação, porém, trazem atrações gratuitas cuja qualidade não deixa nada a desejar se comparadas às oficiais e ainda possibilitam a democratização do acesso à cultura.

Os encontrou por indicação de algumas pessoas; em lugares que já sabia que estariam, como a Casa Pagã, a Casa Poéticas Negras e o estande do Coletivo Escreviventes; e também por acaso, quando, em alguma atividade, se apresentavam como sendo do Espírito Santo. Certamente a coluna não conseguiu ter acesso a todos, e isso é muito bom! Sinal de que os capixabas compareceram em grande número e que a literatura do Espírito Santo foi bem representada na Flip.

Literatura negra, indígena e afroindígena

Elaine Dal Gobbo

A literatura negra, indígena e afroíndigena produzida no Espírito Santo marcou presença na Flip na Casa Poéticas Negras, da qual a editora capixaba Nsoromma participou com as escritoras Noélia Miranda, Geisa Lacerda e Andreia Pereira, de Vitória; Rafaela Camargo, da Serra; e Luciene Francelino, de Cachoeiro de Itapemirim. As autoras, junto com as de outras editoras, protagonizaram a programação com o lançamento de seus livros, como palestrantes nas mesas temáticas e como mediadoras.

Literatura negra, indígena e afroindígena II

Por meio das atividades da Casa Poéticas Negras, o Espírito Santo foi apresentado aos participantes, já que as autoras trazem em seus livros muito da cultura capixaba com “afroencantamento”, como diz Noélia Miranda, coordenadora da Nsoromma. “Na narrativa da Geisa, por exemplo, veio a panela modelada no barro, que trouxe a história de Goiabeiras. Do lado dessa história, vem a Rafaela Camargo trazendo a do congo por meio do livro As aventuras de Alica, protagonista que conta a história do congo no município da Serra. Aí vem a Luciene com uma princesa negra narrando uma história de cuidado com o meio ambiente, então as histórias vão se entrelaçando”, diz.

Ilustração

Elaine Dal Gobbo

Além das autoras, quem participou das atividades da Casa Poéticas Negras pôde conhecer o trabalho do ilustrador Gió, de Vitória, que destacou a importância da ilustração para a literatura infantil, trazendo o “encantamento” para as crianças. “Ilustração é texto em outra linguagem. Muitas crianças que ainda não conseguem ler texto escrito compreendem a história através do desenho. Não existe literatura infantil sem desenho, mas existe só com desenho, sem texto escrito”, diz Gió, que também é autor do livro Mirandinha, da Nsoromma, primeiro livro de literatura afrobrasileira capixaba voltado para crianças.

Memórias de Mirim

Elaine Dal Gobbo

Gió foi um dos educadores do Projeto Narrativas Periféricas, realizado pela Ciclo Escola e que findou no primeiro semestre deste ano. Foi por meio dessa iniciativa, que ofertou para adolescentes e jovens aulas gratuitas de desenho, que a escritora linharense Michele Boldrini se sentiu motivada a lançar seu livro, Memórias de Mirim, ilustrado por ela mesma. A escritora marcou presença na Casa Pagã, da qual a editora que lançou sua obra, a Cousa, participou. Memórias de Mirim narra a história de uma mulher que vai até a casa de Tia Mariquinha, uma das griôs da cultura do congo de Regência, em Linhares. Quando chega ao local, sente cheiro de caju, que traz a memória de sua infância com os amigos, outros mestres da cultura popular e as toadas do congo.

Cachaça

Elaine Dal Gobbo

Também na Casa Pagã quem lançou livro foi o escritor João Moraes, que levou ao público Cachaça, seu primeiro romance. A obra traz a história de um rapaz que busca a tranquilidade da roça. É acolhido por um senhor que foi amigo de seu pai. O autor explica que, ao contrário do que muitos podem pensar, a cachaça não é o tema, mas o fio condutor da estória. De acordo com ele, estar na Flip foi um convite da editora Cousa. “Como negar? Estar em Paraty já é muito bom, estar na guerrilha da literatura, da nossa produção, é maravilhoso”, diz.

Oficina e debate

Além de lançamento de livros, os capixabas também protagonizaram oficinas e debates na Casa Pagã. Saulo Ribeiro e Gabriel Nascimento, editores da Cousa, ministraram a oficina Mediação Literária. A escritora Carla Guerson, de Vitória, participou do painel Da procriação à criação literária: maternidade na literatura atual. Carla é autora do livro Todo mundo tem mãe, Catarina, que tem como protagonista Catarina, menina que vive com a avó e não tem mãe. Contudo, na escola, ao dizer que não poderia fazer um desenho para a mãe porque não tinha uma, a professora afirmou: “Todo Mundo Tem Mãe, Catarina”, frase que despertou uma curiosidade que cresceu dentro dela.

Coletivo Escreviventes

Carla Guerson é idealizadora do Coletivo Escreviventes, que surgiu no Espírito Santo e hoje reúne centenas de escritoras de todo o Brasil. O Coletivo teve um estande no chamado “areal”, um espaço com diversas atividades que fez parte da programação oficial da Flip. Além de Carla Guerson, a escritora capixaba Nina Ferrari também esteve no estande, para onde levou seu livro de poesias Quando o espelho pensa duas vezes, da editora Patuá, que foi lançado durante a Flip na Casa Gueto.

Elas Poetas

A literatura feita por mulheres também foi destaque na Casa Caravana com o lançamento da coletânea Elas Poetas, da editora Vira Tempo, resultado de um concurso literário voltado para mulheres de todo o Brasil. Entre as selecionadas, duas capixabas: Amanda Puppim, de Castelo, e Roberta Gomes, de Cachoeiro de Itapemirim. A poesia de autoria de Amanda se chama Anti Amor e trata-se da sua primeira publicação. Fala sobre a insuficiência das relações, “de um momento em que estava findando uma relação, tomada por essa emoção”, diz a escritora. Amanda está em processo de escrita de um livro de poesias, que ainda não tem nome.

Elas Poetas II

Elaine Dal Gobbo

Ao contrário de Amanda, Roberta já tem texto de sua autoria publicado. Suas primeiras publicações foram o conto infantil O som que vem do coração e a crônica Chuvas e Tempestades, também em antologias da Vira Tempo. A autora ainda não tem livro próprio, mas não descarta essa possibilidade e afirma estar feliz com a possibilidade de participar de antologias. “Publicar em antologia significa muita coisa. Quando você consegue publicar, é como se aquilo que está dentro de você saísse e se libertasse. Algo que transborda da gente. É como uma sublimação, uma tristeza ou alegria imensa que está dentro da gente e precisa ir para outros lugares”, diz.

O diário de uma capixabinha

Quando estava em um estande no chamado “areal”, a coluna ouviu uma contadora de história usar o termo capixabinha em sua narração. Chegando mais perto, ouviu também Convento da Penha e Vila Velha. A contadora era Verena Pereira Setúbal. Ela é autora do livro infantil O diário de uma capixabinha, no qual conta a história de uma menina nascida e criada na vila de pescadores de Itapuã, em Vila Velha, e suas aventuras em locais como a Barra do Jucu e o próprio Convento, fazendo da literatura um passeio pela cultura capixaba. Verena lançou seu livro no espaço de lançamento de obras de autores independentes, na programação oficial.

Capixaba de coração

Os chamados capixabas de coração também estiveram na Flip. Esse é o caso de Paula Cavalari. Natural do interior de São Paulo, ela morou 18 anos em Aracruz, local no qual se passa a história de seu livro, Socorro, Jundu, lançado na Casa Escreva, Garota!, que assim como o Coletivo Escreviventes reúne escritoras de todo o Brasil. A personagem principal do livro de Paula Cavalari é a menina Bia, que fica triste quando o mar da praia de Coqueiral de Aracruz destrói o castelo que construiu na areia. A garota, então, constrói o castelo na Jundu, uma vegetação que protege a areia da erosão. Quando a maré sobe novamente, a Jundu segura a areia e o castelo se mantém intacto.

Capixaba de Coração II

Socorro, Jundu é um livro bilingue, em português e guarani, levando em consideração o fato de Aracruz ser a única cidade do Espírito Santo com indígenas aldeados. “Aracruz para mim é um divisor de águas na minha vida. Lá eu aprendi a ser mãe, pois meus filhos nasceram lá, e onde passei a me dedicar a arte”, diz a escritora, que está montando um site nas duas línguas e com uma animação do livro, com áudio também nos dois idiomas.

Personagem capixaba

Na Casa do Cordel não tinha capixaba de nascença nem de coração, mas um cearense que mora há 47 anos na cidade de São Gonçalo, no Rio de Janeiro, e fez de uma capixaba personagem de um dos seus inúmeros livros de literatura de cordel. Zé Salvador é autor de Ilha do Sol, Luz Del Fuego e o naturismo em São Gonçalo. “Luz De Fuego ganhou a Ilha do Sol, em São Gonçalo, e introduziu o naturismo no Brasil. Vinha muita gente até de fora do país para conhecer. Me considero de São Gonçalo, e ela faz parte de nossa história e do Rio de Janeiro, e sua memória não pode ser esquecida”, diz.

Até a próxima coluna!

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