Com dois álbuns de versões, banda Up Pomerisch agora tem músicas próprias em parceria intergeracional de pavonenses
Uma parceria à distância entre integrantes de diferentes gerações de descendentes de povos pomeranos que migraram para o Espírito Santo está produzindo uma novidade musical. O músico Nicolas Berger, 25 anos, e o pesquisador Jorge Kruster Jabo, ambos nascidos em Vila Pavão, noroeste do Estado, produziram 15 canções conjuntas em apenas de sete meses.
Gravadas de forma caseira, elas ainda precisam ir a estúdio antes de virarem disco, mas já estão tocando em rádios pomeranas do Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Rondônia. As gravações foram feitas na casa de Nicolas na Suécia, onde mora desde 2016, e as letras foram construídas em parceria com Jorge, que é professor, pesquisador e um ferrenho militante da cultura pomerana.
As músicas falam do Brot, o típico pão pomerano, do casamento típico, da dura realidade dos pomeranos que chegaram como imigrantes, da concertina, que é um tipo de acordeão tradicional tocado nas festas pomeranas, entre outros temas. Algumas letras são totalmente em português, outras têm o refrão em língua pomerana, e algumas estão sendo produzidas totalmente em pomerano.
“São quatro momentos. Eu escrevo a música em pomerano, depois envio pra ele a tradução em português, depois leio como se fala em pomerano, e ele pede para sua mãe revisar, porque ela fala pomerano mais que eu”, conta Jorge Kruster.
Nicolas Berger conta que faz parte de uma geração que cresceu ouvindo os pais e avós conversarem em pomerano como língua nativa, mas que não aprenderam a falar fluentemente. Ele começou na música aos 10 anos, tocando violão e trompete no grupo da Igreja Luterana de Vila Pavão, conhecida como Igrejona. Quando estudava no Ensino Médio, criou uma banda de rock com amigos, antes de entrar na banda Up Pomerisch, dedicada à cultura pomerana.
O jovem foi para Vitória estudar música, mas acabou indo morar na Suécia depois da gravidez da esposa. “Vendi todos meus instrumentos no Brasil. No período de gestação dela, fiquei afastado da música. Mas depois comecei a compor sem pretensão nenhuma. Foi uma época produtiva, porque não conhecia muita gente aqui e tenho hábitos muito caseiros. Aí fui compartilhando as composições e comecei com familiares e amigos e receber um feedback positivo”, conta.
Foi aí que sua história musical se reconectou com a sua cidade natal. Foi acionado por amigos, pois buscava-se uma composição para a Pomitafro, a festa anual mais importante da cidade, que celebra os povos pomeranos, italianos e africanos que ajudaram a construir Vila Pavão. O projeto não deu certo naquele ano, mas ergueu pontes que o colocaram em contato com Jorge, que foi desafiado a compor músicas em pomerano. “Eu sou pesquisador. Fazia poesia em pomerano na minha adolescência, mas nunca tinha composto música”, conta Jorge, que aceitou de bom grado o desafio, com o qual também aplica o conhecimento de sua cultura para outra linguagem.
O primeiro sucesso foi a animada canção que fala do Brot, o pão típico que ajuda a sustentar os pomeranos nas lavouras e nas cidades e que foi ressignificado no Brasil, somando novos ingredientes tropicais. Composta no ano passado, a canção chegou a ser gravada e tocada ao vivo pela Up Pomerisch em suas últimas apresentações em diversos municípios. O plano é de que as novas canções autorais fruto da parceria entre Jorge e Nicolas fossem sendo incorporadas no repertório do grupo. Mas a pandemia do coronavírus suspendeu temporariamente as apresentações e as canções, mesmo que em gravação não profissional, foram liberadas pelas redes pomeranas país afora.
A banda Up Pomerisch existe desde 2007 em Vila Pavão, tendo tocado em diversas festividades típicas pelo Estado. A única composição autoral até então era Rato no Coador, que Jorge Kuster conta que surgiu a partir da brincadeira de jovens de um grupo de dança folclórica na volta de uma viagem em que se apresentaram. Acabou virando música e ganhou até um videoclipe com apoio de um edital da Secretaria de Estado da Cultura (Secult) em 2011.
Quando passar a pandemia, a banda já poderá contar com um repertório repleto de músicas autorais que falam de sua cultura. Enquanto isso, Jorge Kruster comanda os esforços para conseguir viabilizar a produção do primeiro disco autoral da banda, que já lançou dois CDs com gravações de suas versões. Várias destas estão disponíveis no site PalcoMP3, junto com algumas das novas músicas.
“Momm glik vaciner”, nos ensina Jorge Kruster. Significa “vem logo, vacina!” em língua pomerana. Para a gente poder curtir o show de lançamento desse disco que promete.