Universo Tabula estreia em novembro e vai produzir híbridos entre jogos físicos e virtuais
Você está numa ilha distante em meio a uma intensa tempestade tropical. Para sobreviver precisará encontrar armas, equipamentos, se esconder, e caçar seus oponentes. Esse cenário tão adverso como desafiador dá o pontapé inicial para o Run Hide Kill (RHK), um jogo de cartas que incorpora elementos das battle royales típicas dos jogos eletrônicos. Este jogo, que será lançado em novembro, marca a estreia do Universo Tabula, um coletivo multidisciplinar surgido no Espírito Santo, que quer expandir a atuação do Estado no mundo dos jogos.
Idealizado por Cassiano da Silva, o Universo Tabula possui uma equipe de game designers e storytellers – que elaboram as histórias e desenhos – que também incluem Karen Valentim, Rafael Milagres e Valdir Júnior. “Queremos transformar o cenário de jogos de tabuleiro, miniaturas e cardgames no Brasil através de pesquisas e inovação tecnológica”, diz Karen, que aposta na força da cultura em torno desses jogos e no potencial de crescimento do setor nos próximos cinco anos. “Mais que um mercado lucrativo, os jogos de tabuleiro, miniatura e cardgames são poderosas ferramentas culturais capazes de ampliar as percepções, trabalhar aspectos cognitivos, estimulando a criatividade, o pensamento lógico e em muitos casos o trabalho em grupo”, defende.
A grande aposta inovadora do Universo Tabula é na hibridização entre conteúdos físicos e virtuais, por meio de um tabuleiro inteligente, que integra o jogo analógico com um aplicativo com funcionalidades para expansão da experiência do usuário, seja em jogos de cartas, tabuleiros ou miniaturas. Uma das funcionalidades pensadas para ser incluída é a Realidade Aumentada, que promete elevar a experiência com funções como “criação de animações que sobrepostas as peças irão adicionar um grau de imersão profundo e poderoso”, como define em sua apresentação.
Nesse sentido, a proposta do coletivo capixaba é de pesquisa permanente em torno dessa e outras tecnologias, para avançar e inovar a cada jogo lançado. A produção de miniaturas de personagens também é uma meta, por meio da utilização de avançadas impressoras 3D e uso de resinas especiais.
O Brasil é hoje considerado o nono mercado consumidor desse tipo de jogos no mundo, com lucro anual de cerca de R$ 625 milhões e uma previsão de crescimento significativa: aumento de 42% até 2022.
Porém, esse mercado ainda é muito dependente de produtos externos, com uma produção nacional incipiente, mas que vem ganhando força, inclusive no Espírito Santo, onde existem iniciativas como a Ludo Thinking e Mesa Secreta. O universo “geek”, formado por pessoas interessadas por questões tecnológicas, ficção científica e jogos eletrônicos e de tabuleiro, forma um nicho de pessoas com interesses comuns, que se reúnem presencialmente ou virtualmente com frequência, movimentando ideias e economias.
No Estado também há algumas lojas e espaços para jogos que ajudam a fortalecer essa rede de pessoas com interesse comum, como a Taberna Geek, o Nerds e a Boards4u. Karen explica que se trata de um grupo muito variado, com homens e mulheres de diversas faixas etárias, tendo mais participação de pessoas entre 16 e 40 anos de idade. Segundo pesquisas, o público é majoritariamente masculino (79%), com ensino superior completo, sendo que 60% investe mais de R$ 100 mensais em jogos, sendo que 18% chegam a investir mais de R$ 300.
A ideia do Universo Tabula, que deve vir à tona materialmente em novembro, surgiu em 2016 por iniciativa de Cassiano, ao idealizar uma junção dos avanços tecnológicos com o boom dos jogos de tabuleiro. Há um ano e meio o projeto começou a ganhar maturidade e passou por diversos testes, reuniões e partidas protótipos para o jogo, com revisão constante das regras, do design, da história e dos personagens. “Há pouco mais de dois meses iniciamos o processo final de produção do jogo para comercialização, contando com um apoio de investimento inicial e a parceria da LudensLab, uma fábrica de jogos especializada na produção de jogos de tabuleiro e cardgames”, conta Karen Valentim.
Já bate o frio na barriga de ver o retorno do público com o lançamento, que pode ajudar também a ressignificar os jogos lançados para novas versões. “À princípio nosso foco está voltando para jogos casuais e de estratégia. Como o primeiro jogo que será lançado, chamado RHK, que trabalha a temática do battle royale – um jogo de estratégia, gerenciamento de recursos e sobrevivência”. No RHK cada partida é única, pois as decisões tomadas pelos jogadores mudam o rumo do jogo, que mistura jogo de tabuleiro com cartas, no qual cada jogador assume um dos 12 personagens existentes em sua batalha pela sobrevivência.
Além do RHK, já há outros três jogos em desenvolvimento pelo Universo Tabula, que quer também ampliar o escopo para jogos de colaboração junto a comunidades com interesses específicos mas que ainda estão distante do mundo geek.