Carmélia Maria de Souza é considerada uma das maiores cronistas do Espírito Santo, sendo conhecida como a cronista do povo. Falecida há 50 anos, a jornalista e escritora será homenageada na próxima sexta-feira (30), na Sexta Lendária, realizada no Instituto Fênix, Centro de Vitória, das 18h às 22h. Quem conduzirá as homenagens será a escritora Kátia Fialho, que de tão admiradora de Carmélia, a tem como sua patronesse na Academia Cariaciquense de Letras (ACL).
A escolha do local para a homenagem não é à toa, já que Carmélia viveu o Centro de Vitória como ninguém. Ali ela exerceu a profissão de jornalista, como na redação do jornal O Diário, e viveu os tempos áureos da boemia vitoriense, sendo presença marcante em estabelecimentos como o famosos Britz Bar. O Centro de Vitória também foi imortalizado em muitas de suas crônicas.
Documentário
Uma das atrações da Sexta Lendária será a exibição do documentário Não se Aproxime: A Vida e Obra de Carmélia Maria de Souza, realizado por Tati Rabelo e Rodrigo Linhales. A produção audiovisual foi feita em parceria com a Galpão Produções. Por ausência de registros da época, o documentário usou os textos de Carmélia para fazer encenações, entrevistas de pessoas que conviveram com ela e historiadores.
Memórias
Uma das pessoas que conviveram com Carmélia foi o escritor José do Amaral, cuja presença esta confirmada na Sexta Lendária. Ele irá compartilhar suas memórias das experiências que compartilhou com a escritora. As preferências musicais da cronista também serão lembradas por meio de um pocket show com músicas de Maysa Monjardim, uma das cantoras preferidas de Carmélia. Além disso, haverá uma intervenção artística de Irineu Cruzeiro.
Moção, indicação e PL
As homenagens vão além da programação da Sexta Lendária. Kátia informa que o vereador Leonardo Monjardim (Novo) fez uma indicação ao Executivo para construção de uma escultura de Carmélia nas proximidades da Praça Ubaldo Ramalhete. Ele também protocolou um projeto de lei para criação da Comenda Carmélia Maria de Souza, para homenagear escritoras capixabas. Além disso, o vereador fará uma Moção de Aplauso in Memorian para a escritora.
Biografia e Midiateca Capixaba
Kátia Fialho, que é autora do livro infantil Minha Cariacica, está escrevendo a biografia de Carmélia, ainda sem previsão de data para lançamento. No processo de pesquisa, acabou tendo acesso a materiais como documentos datilografados e manuscritos pela biografada. Kátia informa que irá entregar o material para a Midiateca Capixaba, plataforma on-line e gratuita desenvolvida pela Secretaria de Cultura do Estado (Secult), em parceria com o Laboratório de Inteligência de Redes da Universidade de Brasília (UnB), que reúne um acervo diverso de documentos, fotografias, vídeos, matérias de jornal, músicas, artes gráficas, livros, obras de arte e filmes produzidos no Estado.
Referência
Questionada sobre o que Carmélia significa em sua vida, Kátia Fialho a define de forma ampla, mas ao mesmo tempo, sucinta: “Carmélia para mim é tudo”. A resposta é porque a cronista foi uma grande referência para ela, dando origem ao desejo de também ser escritora. Kátia recorda que conheceu Carmélia há cerca de 30 anos, quando leu um fascículo de Vento Sul, livro da cronista, que veio no jornal A Gazeta, e se encantou com a forma como ela falava “do amor, de Vitória, dos amigos”.
Visibilidade
A data da homenagem, informa Kátia, foi escolhida por ocasião do Dia da Visibilidade Lésbica, uma vez que Carmélia era lésbica. O resgate da memória da cronista é ainda mais importante por causa desse fato e também por ela ter sido negra. Invisibilizar talentos das comunidades LGBTQIA+ e negra é uma prática recorrente em uma sociedade LGBTfóbica e racista, que quando não consegue apagar as memórias por completo, provoca um processo de branqueamento. Sugiro perguntar a quem já ouviu falar de Carmélia se sabem que ela era uma mulher negra. A maioria vai dizer que não.
Rio Jucu
Estreia no dia 1º de setembro, o curta-metragem Corpo-Rio, às 17h, no Café e Bistrô Andorinhas, na Barra do Jucu, em Vila Velha. A produção audiovisual aborda a presença do Rio Jucu, principal curso d’água da região metropolitana de Vitória, responsável pelo abastecimento de 25% do Estado. Sua bacia hidrográfica está situada nos municípios de Domingos Martins e Marechal Floriano e parte dos municípios de Viana, Vila Velha, Cariacica e Guarapari. O rio é pano de fundo e principal personagem do curta, sendo tratado como um ser ancestral. A entrada do evento é gratuita.
Carambolas
Neste sábado (24), estreia o espetáculo Carambolas – Algumas Verdades em Memória de Dona Santa. A peça será apresentada às 20h, gratuitamente, no espaço cultural Má Companhia, no Centro de Vitória. Também haverá apresentações gratuitas no domingo (25), às 18h, e na sexta-feira (30), às 20h. No sábado (31), às 20h, e no domingo (1º), às 18h, as apresentações serão pagas, com o valor de R$ 30,00 a inteira e R$ 15,00 a meia. Todas apresentações serão na Má Companhia.
Carambolas II
Carambolas, cuja apresentação de um trecho já havia sido feita em julho último, é uma peça inspirada na vida e morte de Dona Santa, mãe de uma das dramaturgas, Thalia Peçanha. O espetáculo se passa em uma cidade à sombra de uma fábrica de papel, em uma ocupação popular, destacando a narrativa dos moradores, como uma se entrelaça a outra, as relações de poder, as múltiplas violências vividas, como elas se dão nos corpos pretos, nas identidades masculinas e femininas. Trata-se da primeira dramaturgia de Thalia Peçanha, portanto, o despontar de uma novo nome do teatro capixaba, que com sua “pegada” mais crítica, social, tem tudo para contribuir para uma arte que, além de entretenimento, é política.
Até a próxima coluna!
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