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Carnaval de Congo une fé, dança, resistência e música popular em Roda d’Água

Missa congueira foi um grito de basta ao racismo, à LGBTfobia, à transfobia, à desigualdade social e ao genocídio indígena

Os congos mais conhecidos da tradição capixaba voltaram a ecoar ao som dos tambores e das casacas no Campo do América, onde aconteceu, nesta segunda (25), o Carnaval de Congo de Roda d’Água. A programação uniu fé, dança, resistência e música popular, reunindo milhares de pessoas de diversos lugares para homenagear a padroeira do Estado, Nossa Senhora da Penha, e manter viva uma tradição que começou nos tempos da escravidão e que é aguardada com ansiedade ano após ano.

A festa começou com um momento celebrativo. A missa congueira, como é chamada, teve início após uma procissão com a imagem de Nossa Senhora da Penha. Em um evento cuja origem está na resistência do povo negro escravizado, o padre Carlos Antônio da Conceição, da Paróquia Bom Jesus, em Cariacica, foi assertivo em sua homilia, que foi um grito de basta ao racismo, à LGBTfobia, à transfobia, à desigualdade social e ao genocídio indígena, lembrando os excluídos. “É inadmissível que essas esquisitices continuem acontecendo em nosso meio”, destacou. 

Claudio Postay/PMC

Para mandar o recado, o sacerdote utilizou até mesmo linguagem inclusa. “Que entendamos de forma definitiva que o que tu queres, ó, mãe, para nosso Brasil, é uma nação unida, integrada. Que possamos sentir que é possível conviver com as diversidades, que é possível o diálogo religioso, interreligioso, que é possível a convivência pacífica com as demais religiões, que é possível deixar de lado as diferenças, tudo que desune, e abraçar o que nos une, em prol da construção de uma nação na qual seus filhos, filhas, todos, todas, todes, tenham vida digna, sejam respeitados”, disse.

Claudio Postay/PMC

O sacerdote clamou ainda para que tenha fim “a fome que assola, que dizima, que mata tantas vidas”, além do “desemprego neste país tão rico e diverso”. Após a missa, o Campo do América ficou tomado pelas bandas de congo de Roda d’Água e outros municípios.

A dançarina da banda São Benedito de Piranema, do bairro Piranema, em Cariacica, Maria Aparecida Gomes de Araújo, relatou a emoção de retornar ao Carnaval de Congo de forma presencial depois de dois anos no formato virtual em decorrência da pandemia do coronavírus. “O coração não cabe no peito. A alegria é enorme, imensa. Foram dois anos fazendo vídeo para não deixar essa cultura morrer. Hoje está tudo lindo. Os tambores falam por si, não sei nem como mensurar a emoção deste momento”, diz.

Mestre Dorinho, da Banda de Congo Piapitangui, de Viana, acredita que o evento é uma prova da união entre as bandas. “O carnaval é muito importante. A cultura do congo é de grande amizade. O evento em Roda d’Água foi um sucesso, eles estando felizes, as outras bandas também estão”, destaca.

Claudio Postay/PMC

A festa se encerrou às 18h, com a Ave Maria, acompanhada de tambores de congo e show pirotécnico. A região de Roda d’Água conta com as seguintes bandas de congo: Mestre Tagibe, São Sebastião de Taquaruçu, Santa Izabel, São Benedito de Boa Vista, Unidos de Boa Vista e São Benedito de Piranema, além da banda de congo mirim do Mestre Tagibe. Também participaram do evento bandas dos municípios de Vitória, Viana, Vila Velha, Serra e Fundão, na região metropolitana; e Fundão e Aracruz, no norte.

Claudio Postay/PMC

A festa é tradicional na região e conta com um personagem que existe somente nessa localidade, o João Bananeira. Com o rosto coberto por uma máscara e o corpo por folhas de bananeira, pessoas da comunidade encarnam o personagem e acompanham os cortejos e todo o restante da programação. Conta-se que João Bananeira surgiu na época da escravidão, quando os negros usavam esse artefato para não serem identificados durante as festividades em homenagem à padroeira do Espírito Santo.

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