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Centros culturais se reinventam diante da pandemia da Covid-19

Aulas de teatro, dança, pilates, literatura e outras atividades têm acontecido pela internet

Como tantos setores, os centros culturais independentes existentes no Espírito Santo também estão sofrendo impactos do isolamento social. Muitos deles estão impossibilitados de realizar atividades. Outros, embora de forma reduzida, têm se esforçado para manter ações permanentes na modalidade virtual.

Um deles é o Cine Teatro Ribalta. Funcionando há quase um ano, o projeto sofreu um baque com o novo coronavírus. “Logo que as medidas de isolamento começaram a acontecer, a gente nem imaginava que ia continuar”, conta Lilian Casotti, uma das coordenadoras do espaço que tem sede em Jardim Camburi, Vitória.

Algumas atividades, como a temporada do cineclube Cine Chaplin, teve que ser suspensa. Materiais de divulgação já impressos tiveram que ficar guardados com a suspensão das aglomerações. Outras ações, porém, acabaram podendo ser remanejadas, não sem grande esforço, para uma modalidade virtual por enquanto. Lilian, que dá aulas de teatro, conta que alguns dos alunos não responderam, outros alegaram dificuldades de continuar pelas condições financeiras ou de acesso à internet, mas uma parte deles aceitou o desafio de continuar as aulas de teatro e dança, que acontecem semanalmente.

Inicialmente foram feitas por meio de vídeos gravados com exercícios e orientações das professoras. Na última semana começaram a testar aulas ao vivo, que permitem ter o encontro do grupo, o sentimento de turma. Se funcionar bem, a ideia é alternar as aulas a cada semana entre gravado e ao vivo, já que cada uma tem suas vantagens e desvantagens, segundo a professora.

De acordo com ela, o desafio de fazer as aulas à distância tem levado ao desafio de repensar a metodologia. Trabalhando com público adulto e infantil, uma das questões era pensar como criar atividades mais lúdicas para as crianças, já que algumas têm tido exposição excessiva às telas de computador por conta de videoaulas.

Lilian experimentou estimular a produção de brinquedos com material reciclável disponível na casa de cada um e, a partir deles, praticar a criação de personagens, tendo como tema narrar a experiência da quarentena. Usa ainda mímica, contação de histórias, exercícios corporais e outras técnicas. Nas aulas de ballet, também se busca uma técnica mais livre, aberta à criação dos alunos.

Foto: Divulgação

“É difícil trabalhar com o distanciamento, já que no teatro o contato olho no olho é muito constante. Mas temos recebido retornos muito positivos, às vezes as próprias crianças nos enviam vídeos que nos emocionam muito”, relata a professora.

No isolamento social, também cresce a demanda das pessoas se exercitarem e fazerem atividades culturais, de modo que o Ribalta tem recebido novos interessados em participar de suas turmas à distância. Para maio, comemorando um ano de aniversário, o centro cultural faz uma promoção na qual quem se matricular em um curso ganha outro de graça, podendo realizar duas modalidades semanais entre teatro, ballet e sapateado.

“Estamos nos virando como podemos e sendo muito desafiadas a criar e sair de nossa zona de conforto. Também enxergamos potência nesse novo modo de fazer, que ainda pode ser utilizado mesmo depois que tudo se normalize”, indica Lilian.

Zumba, pilates e literatura no Eliziário Rangel

O Centro Cultural Eliziário Rangel (CCER), em São Diogo, Serra, que estima uma circulação mensal de cerca de quatro mil pessoas em seu espaço, fechou as portas para atividades no dia 17 de março.

Das 13 oficinas permanentes que eram realizadas, apenas duas mantiveram atividades à distância, as de zumba e pilates, com transmissão ao vivo dos professores feita na estrutura do espaço cultural. As de pilates acontecem em transmissões ao vivo e gratuitas pelas redes sociais do centro cultural, enquanto as de zumba acontecem numa plataforma própria especializada na área de fit dance. Ambas acontecem às segundas e quartas, com pilates às 19h e zumba às 20h.

Haviam três novas oficinas previstas para começar antes que tivesse início a crise da Covid-19. Destas, umas delas iniciará com atividades on-line em maio, sobre Literatura Afrobrasileira. Além das atividades permanentes, o espaço também vem promovendo debates políticos e culturais por meio do projeto Live #CCER.

Um deles foi sobre a situação da população em situação de rua diante do novo coronavírus e outro sobre espaços culturais nos tempos de pandemia, em diálogo com o Centro Cultural Tita Merello, da Argentina. Nesta sexta-feira (24), às 21h, o tema será “A caricatura como ferramenta política”, com participação dos chargistas Carlos Latuff e Mindu Zinek.

O baque sofrido é grande, tanto em termos culturais como financeiros. O Eliziários vem mantendo com dificuldades o pagamento de profissionais de limpeza e segurança e os custos de manutenção do espaço, que apesar de fechado para atividades, tem servido de ponto para recebimento de doações e preparação de cestas de alimentação e higiene para pessoas em situação de rua. Na próxima semana, o Centro Cultural deve iniciar uma campanha de doações para apoiadores que possam ajudar na manutenção financeira do espaço enquanto não pode realizar a maioria de suas atividades.

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