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Charge polêmica ganha ‘versão capixaba’

Assistente social e caricaturista, Mindu desenhou em solidariedade ao artista Aroeira, ameaçado de processo

O pedido do ministro da Justiça, André Luiz Mendonça, para abertura de inquérito com base na Lei de Segurança Nacional contra o chargista Aroeira por conta do trabalho que fez em que associa o presidente Jair Bolsonaro à suástica, símbolo nazista, desatou uma rede de solidariedade ao artista, que veio também do Espírito Santo.

Mindu Zinek. Foto: Facebook

Morador da Serra, o caricaturista Mindu aderiu à campanha #SomosTodosAroeira, no qual vários desenhistas do Brasil e do Mundo adaptaram livremente a charge “Crime Continuado”, de Aroeira, redesenhando o presidente com seus próprios traços e repetindo a crítica à invasão de hospitais sugerida por Bolsonaro como forma de “fiscalização”, o que resultou na questionada comitiva de deputados capixabas no Hospital Dório Silva.

Mais que reproduzir o desenho de Aroeira, Mindu deu um toque extra trazendo para a realidade capixaba: inseriu o deputado estadual Capitão Assumção (Patri), principal apoiador do presidente no Estado, como “capacho” de Bolsonaro, carregando a lata de tinta para que ele pintasse a suástica.

Mindu

Em referência ao nome original da obra de Aroeira, os diversos chargistas intitulam suas adaptações como “Charge Continuada”.

Aroeira reagiu à situação com bom humor: “Eu sou mais um aterrorizado que um terrorista”, disse sobre a possibilidade de ser enquadrado na Lei de Segurança Nacional, embora tenha se afirmado muito preocupado por ser a primeira vez que é processado pelo Estado, o que não ocorreu nem nos tempos da ditadura militar.

“Do ponto de vista político, é um baita tiro no pé”, afirmou em entrevista ao UOL. “Na verdade, deu uma visibilidade à minha charge que eu não poderia imaginar que ela teria”.

Entidades como a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e Associação Brasileira de Jornalistas Investigativos (Abraji) publicaram notas contra a criminalização do artista e o atentado à liberdade de expressão, assim como um grupo de artistas e intelectuais iniciou um abaixo-assinado online destinado ao Ministério da Justiça, que já conta com 50 mil assinaturas.

“Ao dizer que um desenho de humor leva perigo à integridade do Estado, o ministro expressa um delírio fanático e alimenta as fantasias totalitárias dos criminosos que promovem ataques crescentes contra a democracia no Brasil. Não aceitamos mais delírios obscurantistas. Não aceitamos intimidações. Abaixo o autoritarismo”, diz o abaixo-assinado.

Crítica e solidariedade por meio do desenho 

Obra doada por Mindu ao Centro Pop da Serra, que acolhe a população em situação de rua

Assistente social e defensor dos direitos humano, sobretudo em relação à população em situação de rua, Mindu Zinek não se vê ainda como um chargista político, embora tenha iniciado esse tipo de trabalho recentemente, após realizar uma “live” sobre charge e política com o cartunista carioca Carlos Latuff, que teve uma obra sua, em exposição oficial no Congresso Nacional, rasgada por um deputado bolsonarista.

Mindu já havia inclusive feito uma charge sobre a questão da visita dos deputados aos hospitais, representando três dos legisladores integrantes da comitiva, Vandinho Leite (PSDB), Carlos Von (Avante) e Assumção, rodeados de coronavírus. Ironicamente, o militar e deputado apontou estar com suspeita de haver contraído o vírus, podendo tê-lo já durante a visita ao Dório Silva.

Mindu

“Me considero um caricaturista, alguém que expressa o rosto das pessoas de forma exagerada”, diz sobre o trabalho artístico que realiza para além de sua atuação como assistente social. Neste mês ele inclusive iniciou uma campanha solidária de apoio ao Centro Cultural Eliziário Rangel, na Serra, no qual realiza caricaturas no valor de R$ 20 com toda renda destinada ao espaço cultural que encontra dificuldades para se manter após ter que fechar as portas por conta da pandemia do novo coronavírus.

Influenciado pelo Pasquim, jornal da época da ditadura que utilizava a charge política com frequência, ele entende que o formato é importante e questionador. “Na conjuntura em que a gente vive, vemos que a charge pode ter essa força. Se fosse vista só como ferramenta meramente lúdica, não seria alvo de censura e ameaças como foi”, afirma, aludindo tanto aos episódios recentes como os que remontam ao tempo da ditadura. “Alguns cartunistas estão achando que com essa ações pode recrudescer ainda mais a censura às charges política”, lamenta com papel e canetas a postos para o próximo desenho.

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