Obra sobre manifestação artística de Cachoeiro de Itapemirim será lançada no próximo dia 13, com distribuição gratuita
Há cerca de 70 anos, uma promessa deu origem à Charola de São Sebastião, no município de Cachoeiro de Itapemirim, sul do Estado. Essa tradição, que se mantém viva ainda hoje, foi registrada no livro As Flechas de São Sebastião, que será lançando no próximo domingo (13), às 13h30, na Casa de Oração São Sebastião, na comunidade cachoeirense de Jacu, ponto de partida da Charola, e também de chegada. Haverá ainda lançamento em Marataízes, no sul, às 19h, na Pousada dos Hibiscos. A distribuição dos exemplares será gratuita.
Um dos autores do livro e coordenador da Associação de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial Cachoeirense, Genildo Coelho Hautequestt Filho, explica que, por meio da Charola, é narrada a vida e o martírio de São Sebastião. O grupo é composto por cerca de 16 pessoas da família Quirino, entre elas, homens que tocam os instrumentos, cantores, bandeireira e dançarinas, que peregrinam pelas comunidades da região de Burarama entre os dias 6 e 20 de janeiro, este último, dia do santo.
A manifestação artística, segundo Genildo, se assemelha à Folia de Reis, pois também passa de casa em casa abençoando quem a recebe. Com o passar do tempo, afirma, a Charola sofreu algumas alterações. Uma delas é o fato de que a peregrinação não é feita todos os dias no período entre 6 e 20 de janeiro, mas sim, aos finais de semana. A outra, a necessidade de ajustar a data do encerramento ao domingo mais próximo da data em que se homenageia o santo.
O encerramento é marcado pela chegada do grupo em um cortejo, sendo o ponto alto da festa, segundo Genildo, o momento em que os homens entregam os instrumentos no altar em forma de agradecimento. O autor do livro conta que eles fazem isso um de cada vez. Assim, a cada entrega, um instrumento para de tocar até chegar um momento em que todos cessem. O encerramento também é marcado por um almoço comunitário e pela apresentação de outros grupos da região, como os de Folia de Reis, Caxambu e Bate Flechas.
Genildo conta que, no cristianismo tradicional, São Sebastião foi um soldado romano morto a mando do imperador Deocleciano, enciumado por causa da popularidade de sua vítima. Porém, São Sebastião ressuscitou, mas foi morto novamente, a flechadas, em uma oliveira. Há outras versões, como a de que era um caboclo morto a flechadas por índios de sua própria tribo na laranjeira. Na Umbanda, São Sebastião é o Caboclo Flecheiro.
Três mestres da Charola são reconhecidos como patrimônio vivo de Cachoeiro, por meio da lei municipal João Inácio: Izaias Quirino, Adélio Quirino e Erotildes Pereira da Silva. Com essa iniciativa, o munícipio reconhece mestres da cultura popular com Patrimônio Vivo e concede a eles, anualmente, o valor de cerca de R$ 5 mil para que possam dar prosseguimento às atividades culturais, repassando-as para novas gerações e, assim, mantendo vivas diversas tradições populares.
Livro
Genildo, responsável pela pesquisa que deu origem ao livro, não é seu único autor. Juntos com ele nessa empreitada estão Rosângela Venturi Barros, que o escreveu, e Luan Faitanin Volpato, fotógrafo. O livro é organizado pela Associação de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial Cachoeirense e foi possível por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura Rubem Braga, de Cachoeiro. Além do lançamento do dia 13 de novembro, às 13h30, na Casa de Oração São Sebastião, na comunidade cachoeirense de Jacu, haverá um no dia 18 do mesmo mês, às 19h, na Pousada dos Hibiscos, em Marataízes, no sul.
Genildo relata que o livro é uma das iniciativas que a associação tem feito nas últimas duas décadas para “difundir e fortalecer a cultura imaterial de Cachoeiro”. A Charola de São Sebastião já foi destaque em outras atividades da entidade, como em dois CDs de toadas e no documentário Filhos da Fé, disponível no YouTube. Também foi tema de um livro infantil, que abordou a Charola, mas não especificamente a de Cachoeiro, como no livro que será lançado agora.
Em ambos os lançamentos o livro será distribuído gratuitamente. Parte dos exemplares será destinada para escolas de Cachoeiro e para a Biblioteca Pública do Espírito Santo, que irá repassar para todas bibliotecas municipais. Haverá, ainda, a versão e-book, disponível no site da Associação. A ideia, segundo Genildo, é escrever um livro para cada um dos grupos que fazem parte da entidade. O próximo, que já está na editora, será sobre o Caxambu Santa Cruz, da comunidade quilombola de Monte Alegre.