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Coletivo Das Mina leva arte para os espaços urbanos

 
Para alguns, o graffiti é arte digna de galerias, para outros a manifestação social que deve continuar nas ruas. Definições não faltam, o único fato que é inegável é que a arte urbana já invadiu de forma surpreendente e positiva muros, prédios, paredes, túneis, viadutos e tudo mais que a cidade pode oferecer. “O graffiti para mim é um grito escrito”, define muito bem a artista Naiara Carvalho. Já para Kika Carvalho, a arte urbana pode ser tanto arte como manifestação social e, além disso, uma forma de expurgação também.  
 
As duas fazem parte do coletivo Das Mina, que reúne grafiteiras com a ideia de promover encontros, oficinas e eventos. A formação atual do Coletivo conta com sete meninas que trabalham diversos estilos e linguagens. Kika explica que o coletivo nasceu de uma necessidade. Para ela, “a cena do graffiti em Vitória é muito pequena em relação às mulheres. Diferente dos outros estados da região Sudeste que têm uma representatividade feminina mais forte.”
 
Tudo começou quando Kika encontrou por acaso outras meninas pintando um painel durante o evento de graffti Mutirão Ao Vivo e a Cores, “uma situação inédita”, ela conta. Além de Kika, fazem parte do coletivo Das Mina Paula Renata, Raisa Dantas, Reannie Caetano, Heloiza Alves Reis, Jéssyka dos Santos e Naiara, a mais recente no grupo, que conheceu o coletivo por meio de uma oficina no Centro de Referência da Juventude (CRJ). 
 
 
Juntas já participaram de diversas ações. O coletivo colaborou com a primeira “Reviravolta Coletiva”, ministrando uma oficina sobre lambe-lambe – pôsteres artísticos de tamanhos variados que são colados em espaços públicos. As meninas também participaram de uma intervenção junto ao catraieiros da baia de Vitória e do Metting Of Favela, o Mof, um dos maiores eventos de graffiti da América Latina. 
 
No final de 2012, grupo o realizou o projeto 16 dias de ativismo pelo fim da violência contra as mulheres. Nessa ação, o coletivo, juntamente com outros grafiteiros, expôs, nos terminais de ônibus da Grande Vitória, pinturas sobre a violência contra a mulher e mensagens pela garantia dos direitos humanos das mulheres.
 
Apesar de ser um grupo apenas de mulheres, a grande bandeira do coletivo não é o feminismo. “Somos pessoas que tínhamos a mesma necessidade: fazer intervenção urbana”. Kika ainda explica que não há uma linguagem comum ao grupo, cada artista tem a sua individualidade e se juntaram apenas para fortalecer a cena. Na arte do grupo percebe-se uma predominância de figuras femininas, mas é apenas uma coincidência, “eu, por exemplo, só consigo desenhar meninos”, ri Naiara. 
 
 
Em relação ao preconceito masculino, Kika fala que às vezes rola um pouco de “orgulho ferido por ver meninas desenhando melhor e com mais bomber e assinaturas pelas cidades do que alguns homens”. Mas o preconceito maior mesmo vem das pessoas de fora do graffiti, que valorizam mais o trabalho dos homens e menosprezam o das mulheres.
 
O grupo já se reuniu algumas vezes para dar um “role” pela cidade e grafitar alguns muros. Entretanto, além do medo da repressão policial, Kika conta que também há o medo de ser assediada por estar sozinha na rua. A artista possui um trabalho autoral fora do coletivo também e conta que quando vai para rua procura estar sempre acompanhada, “infelizmente, vivemos em uma sociedade machista que acha que uma mulher sozinha de noite na rua está disponível”.   
 
Sobre o seu trabalho, Kika diz que sempre se preocupa em passar uma mensagem e que trabalhar apenas a beleza estética não lhe interessa muito. Entretanto, ela confessa que há um certo conforto em embelezar uma área periférica, “porque você está trazendo a arte para pessoas que não vão a museus, que por mais seja um ambiente gratuito ainda seleciona muito o seu público e muitos não se sente a vontade nesses espaços”, completa Kika.
 
O grupo reserva muitos planos para o futuro, Naiara pretende investir mais no Silk – estampa -, que é a linguagem que ela domina. “Eu vejo as Mina além das ruas com nosso nome sendo levado a outros lugares, seja por botons, camisas, que são coisas que podem viajar com a nossa arte”, diz. Kika também pensa em produzir um Zine, um material barato e de linguagem simples para ser distribuídos e fazer com que mais gente conheça o coletivo. Além disso, elas querem continuar fazendo oficinas de intervenção urbana para mulheres.  
 
“Às vezes as mulheres não se dão conta que elas podem fazer as coisas. Nós somos limitadas em tantos parâmetros pela sociedade que algumas acabam se conformando com essa situação”, diz Kika. Para a artista, a linguagem da rua pode ser uma forma de denuncia, um grito de alerta. “O muro fala mais comigo do que qualquer outra coisa”, completa Naiara. 

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