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Comer é Arte: grupo promove degustação sensorial em Vitória

Jantar permeado de sabores, sentidos e intervenções artísticas é a proposta do projeto realizado no Clã Arte Studio

“Comer é arte: degustação sensorial” é o que diz a entrada do Clã Arte Studio, espaço de experimentação e apresentação de arte contemporânea que pode passar desapercebido por quem transita pela Rua Barão de Monjardim, no Centro de Vitória. A atração do momento é um jantar diferenciado, comida e arte, alimentos de corpo e alma, num encontro inicialmente misterioso.

É preciso chegar meia hora mais cedo, para mostrar o passaporte vacinal, receber instruções, responder uma pergunta que fará parte da experiência e aguardar no Macunaíma Merenda e Café, localizado acima, onde se pode não só tomar bebidas e aperitivos, como conhecer a exposição fotográfica Trabalho & Comida de Magda Sirtoli, com imagens cotidianas que abordam justamente cenas urbanas relacionadas com comida e alimentação.

Fotografia da exposição de Magda Sirtoli, que compõe a prévia da degustação sensitiva. Foto: Vitor Taveira

Do convite à entrada, o mistério vai aos poucos se desfazendo. Espera um jantar à doze, número máximo comportado a cada sessão. O menu já é sabido de antemão. Inclui água; kombucha; salada tropical de folhas frescas, tomate e flores com molho agridoce de melado de cana; biscoito de polvilho com óleo de urucum e semente de abóbora; moqueca de legumes com jambu e farofa de maracujá; baião de dois de cogumelos e vegetais; broa de fubá com calda de goiabada e cachaça. Receitas bem brasileiras e livre de ingredientes de origem animal, adquiridos de agricultores familiares que produzem organicamente no Espírito Santo.

Mas a grande diferença é o que tempera o jantar para além do que será servido nos pratos. Comida, insinua o projeto, não é apenas boa para comer, mas também para representar e fazer pensar. Teatro, música, literatura, performance, videoinstalação, luzes e escuridão compõem a experiência de cerca de uma hora dos participantes. Cada prato é um ato. A sobremesa é um epílogo. História da alimentação, ancestralidade, descendência e memórias são elementos que compõem o conteúdo da obra.

A experiência sensorial, como se pode supor, busca exercitar e estimular durante a experiência os cinco sentidos: visão, audição, olfato, tato e, claro, paladar. Ou para os mais desenvolvidos, até o sexto sentido, quem sabe?

O chef é Murilo Góes, idealizador do projeto, que também atua com garçom e ator durante a obra, assim como Paula Ceotto. Gê Viana assina a direção artística e colabora nos bastidores. Uma das inspirações para compor a degustação sensitiva veio do livro Gastrophysics: The New Science of Eating, do psicólogo e professor de Oxford Charles Spence, que fez vários testes para mostrar como a percepção das pessoas sobre os alimentos pode variar dependendo dos estímulos recebidos.

Porém, ao contrário do cientista, que buscava experimentos que trouxessem respostas quantificáveis, a experiência artística busca o resultado em aberto, percepções distintas e ampliadas conforme os participantes, sendo que eles mesmos ajudam a compor a obra Comer é Arte em duas ocasiões, o que torna cada apresentação totalmente única.

“A primeira coisa que pensamos foi o cardápio, como ele poderia determinar a dinâmica dos estímulos a serem projetados. Entendemos o cardápio como aquilo que poderia contar alguma história dentro de uma apresentação que não sabemos bem definir se é uma performance, uma degustação, um teatro, deixamos para que as pessoas deem a definição que acharem”, diz Murilo Góes. “A partir do cardápio escolhemos estímulos e experimentações, e fomos testando na sala. Até que chegamos a um formato. Mas não consideramos que seja uma obra fechada”, explica.

Em sua primeira temporada, a meta é validar se o projeto faz mesmo sentido e avaliar a recepção dos participantes. “Cada sessão é completamente diferente. Cada reação é única, o que estimula a pensar outros trabalhos a partir dessa experiência, buscando expandir esse trabalho em outras linguagens”, revela o idealizador. O boca-a-boca tem sido a principal forma de divulgação e as sessões têm ficado quase sempre cheias nas duas primeiras semanas, com atividades nas sextas-feiras, sábados e domingo.

De acordo com a organização, o próximo fim de semana – 25, 26 e 27 de março – está previsto para ser o último, embora se analise a possibilidade de prorrogar essa primeira temporada. Para participar, é preciso adquirir ingressos antecipadamente pelo site Sympla, onde estão disponíveis também as informações e orientações necessárias.

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