Competições de poesia falada surgem como um espaço de reivindicações para a juventude periférica
“Eu decidi entrar porque me falaram que eu podia ser ouvido”, conta Jhenis do Carmo Nazaré, de 23 anos. O morador de Viana é um dos jovens capixabas praticantes do Slam, competição de poesia falada que surgiu nos Estados Unidos e chegou ao Brasil em 2008. No Espírito Santo, as disputas têm ganhado força e se tornado um espaço de reivindicação para a juventude negra e periférica, apesar de ainda buscar incentivo do poder público.
Para Do Carmo, nome levado por Jhenis para as batalhas, o Slam é um espaço de manifestação de resistência. O morador de Viana entrou para as batalhas há cerca de um ano e fala sobre o papel das competições. “Existe o sarau, que é uma apresentação de poesias e existe o Slam que é uma batalha de poesia, mas ainda assim eu consigo ver o Slam como uma manifestação de resistência, de pessoas que resistiram em algum momento da vida delas e aí conseguiram transpassar aquilo através de poesia e estão lá recitando os versos”, descreve.
Do Carmo acredita também que o Slam devolve a jovens pretos e periféricos uma voz silenciada de diversas formas ao longo da vida. “O sistema que eu falo é tanto a polícia, quanto a mídia, quanto a própria sociedade, que impõe nas costas que o jovem com 18 anos ele tem que estar na faculdade, o jovem com 24 anos ele tem que estar formado da faculdade, o jovem com 26 anos já tem que ter uma família. Eu acredito que todas essas cobranças pro jovem negro e periférico vêm muito maior que o normal”, conta.
A possibilidade de expressão livre também foi o que levou Eduarda Barreto, de 19 anos, a entrar no Slam. Ela é moradora da Serra e Slammaster [nome dado ao mestre de cerimônia que conduz a competição de slam] do Slam Quariterê, realizado mensalmente de forma itinerante. No Espírito Santo, também são destaques competições como o “Slam Botocudos”, o “Slam de Cria” e o “Slam Chamego”.
Eduarda acredita que a cena do Slam no Espírito Santo está muito ativa e a tendência é que cresça ainda mais. “Tem uma galera nova chegando (…) Todo slam que a gente faz sempre aparecem dois, três poetas que falam que é a primeira vez. E a gente sempre acaba trombando com eles de novo em outras competições”, relata.
Em novembro, o Coletivo de Slam Nísia chegou a participar de uma cerimônia do governo do Estado, em referência ao Dia Nacional da Cultura, mas Eduarda sente falta de incentivo público principalmente na organização das competições, que ainda é totalmente feita pelos próprios slamers e pessoas ligadas à cultura.
“É um impasse. Pela poesia do Slam ser uma forma de protesto, de falar a verdade na cara, nem sempre o poder público aprova (…) Existem mais coisas que podem ser feitas. Mais apoio, mais divulgação, porque a divulgação que acaba acontecendo é entre a gente mesmo, a galera que participa”, aponta.
Apesar dos impasses, a modalidade têm alcançado mais municípios capixabas. No dia 30 de janeiro, será realizado o I Campeonato de Poesia Falada da cidade de Viana. A competição é uma iniciativa do Coletivo Cultura Bethânia e terá início às 14h, no Teatro Municipal de Viana.
O projeto foi selecionado pela Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc, por meio da Secretaria Municipal de Esportes, Cultura e Turismo de Viana e contará com 16 competidores.