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De quilombo em quilombo, um mercado que vende memórias

Toda sexta-feira, a Feira Tradicional da Praça São Pedro, em Conceição da Barra, norte do Estado, é um espaço rico de cores, cheiros, sabores e saberes. Por ali passaram e passam parte da história e resistência do povo negro e quilombola do Espírito Santo. É remontando esse cenário que se constrói o espetáculo Memórias à Venda, realizado pelo Instituto Cultural Tambor de Raiz. Nesta semana, a obra circula por cinco regiões de quilombos de norte a sul do Estado.

Depois de passar por São Cristovão (São Mateus) e São Pedro (Ibiraçu) no último final de semana, o espetáculo será apresentado na próxima quinta-feira (8) no quilombo de Monte Alegre (Cachoeiro de Itapemirim), sexta-feira em Pedra Branca (Vargem Alta) e sábado (10) em São Benedito (Vitória), onde houve uma grande migração de quilombolas expulsos dos territórios do norte capixaba com a chegada do monocultivo de eucalipto.

Na obra, entre falas, cantorias, vestimentas e elementos da cultura popular e tradição oral, contracenam com o público dois comerciantes que estão naquela feira há muito tempo, ouvindo e contando histórias. Vendem não os produtos que levam nas bancas, mas a memória que eles trazem.

A farinha que sustentou a existência e resistência nos quilombos, o beiju que é uma iguaria única que conquista os paladares, as garrafadas que eram usadas para curar diversas doenças, a espada da apresentação folclórica do Ticumbi, transferida de pai para filho. Tudo isso baseado em conversas e pesquisas feitas com os próprios feirantes locais descendentes da cultura quilombola.

“É um espetáculo muito divertido, mas ao mesmo tempo é nossa forma de sermos resistentes. A peça fala dessa liberdade tão sonhada, que ainda está sendo conquistada diariamente”, diz Didito Camillo, ator, dramaturgo e idealizador da obra, dirigida por Nieve Matos.

Em Memórias à Venda, Didito contracena com sua prima Fabíola Guimarães. Ambos são netos de Pedro de Aurora (1902-1985), um dos mais reconhecidos cantadores populares do Espírito Santo. “Gostaria de deixar um legado neste sentido, levando à frente a obra deixada por meu avô, para valorizar a cultura popular e negra do Espírito Santo”, afirma o neto.

Para ele a farinha, por exemplo, não é um simples alimento, mas um produto que tem um valor agregado de resistência. “Como atores vemos que cada objeto tem uma história. Como pesquisadores a gente bate na tecla de que a história de cada pessoa é muito interessante, só precisa ser bem contada. A história dos negros do norte não é muito ensinada nas escolas, queremos contar para que não acabe no esquecimento. Se eu ouvi é porque alguém me contou. Se alguém contou é porque ouviu de alguém, então é minha obrigação passar adiante”, destaca.

Depois de se apresentar nos quilombos de Conceição da Barra, a nova etapa consiste em levar as histórias “de quilombo para quilombo”. Sobre o resultado, Didito lembra com carinho do relato de Miúda, liderança história do quilombo de Linharinho, em Conceição da Barra. “Após a apresentação, ela pediu a palavra e falou que era muito bom me ver com a Fabíola fazendo aquilo que meu avô sempre fazia, que era cantar e contar histórias pelas comunidades. Estamos dando continuidade a isso”.

AGENDA CULTURAL

Espetáculo Memórias à Venda

Onde e quando: 

8/11 – Monte Alegre (Cachoeiro de Itapemirim) – 18h

9/11 – Pedra Branca (Vargem Alta) -19h

10/11 – São Benedito (Vitória) – 18h – Espaço de Convivência Oasis de São Benedito.

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