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Descer a Rua 7 é percorrer história do samba capixaba

Já é uma tradição: na semana antes do desfile oficial, a Unidos da Piedade realiza como último ensaio a famosa descida da Rua Sete, no Centro de Vitória. O evento que ocorre há cerca de 30 anos, acontece nesta terça-feira (30), a partir das 20h. 
 
Da praça que serve para ensaios, localizada no pé do morro, a escola de samba, sua bateria e seguidores descem pela Rua Sete, chegando até a Praça Costa Pereira e subindo novamente pela Rua Graciano Neves. Esse trajeto, que liga morros da Fonte Grande e Piedade e o Centro de Vitória traz a marca da história do surgimento do samba e do desenvolvimento do carnaval no Espírito Santo.
 
O povoamento dos morros da Piedade e da Fonte Grande datam do final do século XIX, junto ao período de proclamação da República e Abolição da Escravidão. Nesse processo é predominante a presença da população negra, formada na época por ex-escravizados e seus descendentes, algo evidente até hoje. No início do século 20, aumenta ainda mais o fluxo de moradores.
 
A Fonte Grande é assim chamada por abrigar as diversas nascentes que servem como fonte de água para a cidade de Vitória. Ali se estabeleceram lavadeiras, empregadas, domésticas, costureiras, portuários e outros trabalhadores que viviam de bico ou outras profissões.
 
Se desciam o morro para servir à aristocracia, voltavam para fazer o samba. Passado o tempo, é esse caminho que a escola refaz no evento desta terça-feira.
 
No início do século 20, quanto as elites culminavam seus carnavais nos clubes e salões privados com inspiração europeia, o samba e o carnaval iam florescendo nos morros capixabas. É entre a Fonte Grande e a Piedade que se formam os primeiros blocos e batucadas, como o Amarra o Burro, o Chapéu do Lado e a Mocidade da Fonte Grande.
 
Nos anos 50, alguns dos jovens que participavam desses blocos iam servir ao exército no Rio de Janeiro e voltavam entusiasmado com o movimento do carnaval carioca, que tinha como ritmo o samba. Um deles era Rominho, que comprou e trouxe de lá os instrumentos para criar a primeira escola de samba do Espírito Santo, da qual seria presidente. A Unidos da Piedade é então fundada em 15 de janeiro de 1955. Inicialmente participa do carnaval como a única escola a desfilar. 
 
A partir de 1958, com o surgimento de outras escolas, o desfile passa a ser competitivo, e a Piedade vence as cinco primeiras edições. Até hoje, a escola é de longe a maior vencedora, com 13 títulos. Porém, o jejum é longo: o último título foi em 1986. “Estamos muito confiantes no título esse ano. O trabalho está sendo feito para isso”, diz confiante Edvaldo Teixeira, o presidente da escola que no ano passado ficou com o terceiro lugar.
 
A relação entre morro e Centro é uma constante na história. Rominho, por exemplo, que tinha um bar- ainda existente- na Rua Maria Saraiva, é apontado como importante figura para articulação com outros grupos sociais para além do morro. Para arrecadar fundos para o desfile, era preciso passar o “Livro de Ouro”, coletando doações dos comerciantes do Centro da Cidade.
 
E é uma constante ainda hoje, ao se falar do samba capixaba, pois é nesse percurso que estão presentes além da escola mais antiga, apelidada como “A Mais Querida”, o Bar da Zilda e a Rua Sete, onde acontece o tradicional Samba da Xepa.
 
Depois da descida da Rua Sete, os instrumentos da Unidos da Piedade são recolhidos para os últimos ajustes. E só voltam a soar novamente no sábado (3)no Sambão do Povo, durante o desfile oficial da escola.
 
Então, para quem quer aquecer, a hora é essa! Mas é bom chegar com respeito. Alguém me avisou pra pisar nesse chão devagarinho…

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