Evento na Serra reuniu programação cultural em monumento da resistência negra
Em celebração ao Dia da Consciência Negra, nessa quarta-feira (20), o Sítio Histórico do Queimado, onde ocorreu a maior insurreição contra a escravidão no Estado, foi palco de um evento cultural que homenageou a luta pela liberdade e fim das opressões. A programação incluiu atividades culturais e educativas, como apresentações de capoeira, congo, uma performance itinerante, um sarau e uma reflexão sobre a história local.
O Coletivo Performances Itinerantes, de Vitória, apresentou a pré-estréia do espetáculo ÀYÒKÁ, em comemoração aos sete anos de trajetória do grupo. A performance faz parte do “Ciclo 7”, um circuito de ações artísticas em celebração ao aniversário do coletivo. “É um trabalho de dança e canto Yorubá que traz em cena as principais manifestações da cultura afro-brasileira no Espírito Santo. Para nós, é importante estar em queimados, para ressignificar e mostra a força e a energia da cultura afro-brasileira dentro do Estado”, destacou o diretor artístico Jadson Titânio.
Monumento da resistência negra capixaba transformado em museu a céu aberto, o sítio arqueológico preserva as ruínas da Igreja de São José, palco da histórica revolta de 1849, e um cemitério restaurado, que narra a trajetória daqueles que lutaram pela liberdade. O espaço oferece visitas guiadas para os visitantes conhecerem mais sobre o contexto da insurreição de 1849 e as descobertas arqueológicas do sítio.
Marco histórico
A Revolta do Queimado, ocorrida em 19 de março de 1849, é um marco histórico da luta contra a escravidão no Espírito Santo. O levante aconteceu na antiga freguesia de São José do Queimado, atual município da Serra, quando cerca de 200 negros escravizados se rebelaram após a quebra da promessa de alforria feita pelo frei Gregório de Bene. O frade capuchinho italiano, responsável pela construção da Igreja de São José, havia assegurado a liberdade dos escravizados caso contribuíssem com a edificação do templo, iniciada em 1845.
Por quase quatro anos, os escravizados trabalharam arduamente, dedicando seus dias de folga e noites de lua cheia à construção. No entanto, ao final da obra, a promessa de liberdade foi frustrada. Liderados por figuras como Chico Prego, João da Viúva e Elisiário, os escravizados organizaram uma insurreição durante a primeira missa da igreja recém-inaugurada. O grito de liberdade dado por Chico Prego marcou o início da rebelião.
A resposta das autoridades foi brutal. A revolta foi sufocada em dois dias, com reforços militares vindos do Rio de Janeiro. Muitos foram mortos, torturados ou perseguidos. Cinco líderes foram condenados à morte; entre eles, Chico Prego e João da Viúva foram executados publicamente. Elisiário conseguiu fugir, desaparecendo nas matas do Mestre Álvaro.
A insurreição tornou-se um dos maiores símbolos de resistência à escravidão no Brasil, perpetuando a memória daqueles que lutaram por liberdade mesmo diante da opressão e violência do regime escravocrata.
O levante do Queimado também foi tema de um dos primeiros livros-reportagem do Brasil. O clássico da literatura capixaba Insurreição do Queimado – Episódio da História da Província do Espírito Santo, escrito por Afonso Cláudio, completa 140 anos neste ano. Considerada uma obra pioneira no segmento que combina literatura e jornalismo, o livro antecede o tradicionalmente reconhecido Os Sertões, de Euclides da Cunha, publicado em 1902.
Dia Nacional da Consciência Negra
O Dia Nacional da Consciência Negra, celebrado oficialmente como feriado nacional neste 20 de novembro, foi instituído pelo presidente Lula em 2023. A data homenageia Zumbi dos Palmares, líder do Quilombo dos Palmares, que foi assassinado em 1695. Zumbi é um símbolo de resistência à escravidão e de luta por justiça e igualdade racial no Brasil. O feriado provoca a reflexão sobre a contribuição da população afro-brasileira na formação da identidade e cultura nacionais, além de reforçar a necessidade de justiça social e enfrentamento o racismo estrutural.