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Diretores revelam os bastidores do desafiador processo de produção

 
A produção audiovisual capixaba vem crescendo cada vez mais. Seja com apoio de edital ou por iniciativas livres, os longas metragens estão ganhando espaço e se destacando pela qualidade, mas ainda falta muito para que haja uma produção cinematográfica significativa no Espírito Santo. Para o diretor Rodrigo Oliveira, que esta finalizando seu segundo longa, Teobaldo morto, Romeu Exilado, as maiores dificuldades dos produtores audiovisuais capixabas estão relacionadas à finalização, visto que não há uma política no Estado que incentive a distribuição e divulgação dos filmes.
 
O filme foi realizado por meio do edital da Secretaria de Estado da Cultura (Secult) para produção de longa-metragem. Rodrigo conseguiu completar quase todas as etapas de pós-produção do seu longa no Estado, apenas a correção da cor será feita em São Paulo. Logo depois de filmado, o filme já participou do Fórum Huelva de coprodução na Espanha e também foi escolhido por alguns curadores da Ancine para ser assistido. Rodrigo espera que a partir dessas exibições apareça um convite para participar de alguns festivais europeus.  
 
Teobaldo morto, Romeu Exilado foi todo filmado em Burarama, distrito de Cachoeiro de Itapemirim, e a população local se envolveu na gravação, que durou quase dois meses. “Burarama é a razão pela qual a história existe, eu escrevi a história a partir da minha relação com o vilarejo. Então foi importante para mim utilizar as pessoas do local no elenco, além da mão de obra e dos produtos dos moradores. Já que o filme foi financiado com dinheiro público, também foi uma forma de fazer esse dinheiro retornar para a comunidade”, diz Rodrigo. 
 
Para Rodrigo, o edital de longa-metragem com certeza foi importante para o incentivo de produção no Estado, mas ainda é muito pouco para a quantidade de pessoas que querem produzir. Outra questão que para ele aumentou a produção foi o curso de audiovisual da Ufes, onde são produzidos de 6 a 8 curtas por semestre. “Ainda somos muito dependentes de editais porque a produção independente é muito difícil e incipiente. Acredito que quanto maior o volume de produções de livres iniciativas, mais cedo o poder público vai perceber que precisa investir mais, seja em editais de produção ou de finalização”, diz Rodrigo.
 
Rodrigo espera que a sua próxima produção seja independente de edital e para isso vai precisar reduzir bastante os custos. , “Não dá para esperar o edital, que contempla apenas um longa por ano, queremos produzir mais”.
 
Edson Ferreira, que também está finalizando o seu longa Entreturnos, segue trabalhando na edição de som e de cor da película, mas pretende lançar o filme no Vitória Cine Vídeo deste ano. Ele está em contato com distribuidoras para que seu filme entre no circuito comercial de cinemas, para ele este momento da pós-produção e divulgação é o mais difícil. “Você acaba se sentindo sozinho. Essa ainda é uma realidade do cinema nacional, muitos filmes são produzidos, mas não chegam ao grande público”.   
 
O filme Entreturnos também foi contemplado pelo edital de longa-metragem da Secult, mas ele buscou outras formas de financiamento para conseguir arcar com todos os custos. Entretanto, sua maior dificuldade foi o diálogo com as empresas privadas. “O empresariado ainda não compreende o patrocínio a produção de filmes como uma parcerias, eles pensam que estão fazendo uma doação ou uma caridade. Não há uma responsabilidade cultural ou uma visão dos lucros e ações que esse apoio pode gerar” explica Edson. 
 
 
Esse é o mesmo problema de Luíza Lubiana, diretora e roteirista de Punhal, longa metragem que ela realizou sem apoio de edital. A forma de financiamento que ela trabalhou foi por meio da troca de bônus da Lei de Audiovisual da Ancine. Mesmo com a isenção fiscal, ela teve que batalhar muito para conseguir o investimento. “Não há interesse da iniciativa privada em investir em cultura. Nós, os realizadores, nos sentimos marginais, precisamos a todo momento provar quem nós somos e a qualidade do nosso trabalho, me sinto desrespeitada por isso”, desabafa.
 
Para Luiza, muitas multinacionais que poluem o Estado deveriam ter no mínimo editais específicos de cultura para financiarem espetáculos e produções de livros e filmes com o próprio dinheiro. “Os editais não deveriam ser só uma obrigação do governo, mas sim das empresas também, principalmente as poluidoras, que deveriam ter a obrigação de reverter esse prejuízo para a população”. 
 
Para produzir o longa Punhal, ela também contou com apoio de outras instituições como a Ufes, a Lei Rubem Braga, entre outros. Luíza também encontrou dificuldades na finalização, seu filme foi todo rodado em 35 mm. Não há esse tipo de finalização no Estado, portanto, o filme também teve que ser mandado para São Paulo. Ela conta que escolheu esse formato, por que trabalha com muitas paisagens longas. “A película abraça melhor o tipo de universo que quero criar, além disso há na granulação uma poética que eu não enxergo no formato digital”, explica.
 
Punhal foi rodado no Mosteiro Zen Budista de Ibiraçu, Trol e Casa de Pedra, em Jacaraípe. O filme trabalha com realismo fantástico e uma mitologia própria. O longa narra a lenda do povo que vive na província do Monte da Nuvem Branca. Eles acreditam que os espíritos quando morrem andam, sentem fome e desejos. Punhal será distribuído internacionalmente pela AMERICNE, mas Luíza também está em contato com uma distribuidora nacional e espera que o filme seja lançado ainda este ano. 
 
Outro exemplo de produção independente é o cineasta Rodrigo Aragão, que recentemente completou sua trilogia de terror com Mar Negro (2014). O trailer contou com um orçamento um pouco maior que os filmes anteriores – Mangue Negro (2008) e A Noite dos Chupacabras (2011) -, foram R$ 250 mil. Considerado um valor modesto mesmo para o chamado cinema de baixo orçamento.
 
Atualmente, Rodrigo está trabalhando na antologia Fábulas Negras, que reuniu alguns realizadores independentes do Brasil na direção dos quatro curtas que compõem o projeto. Rodrigo Aragão será o responsável pela direção de Crônicas do Esgoto, enquanto Petter Baiestorf, de Santa Catarina, fará o Pampa Feroz e o paulista Joel Caetano dirige A Loira do Banheiro. Para completar esse time, José Mojica Marins, o Zé do Caixão, será o responsável por O Saci. 
 
Reconhecido internacionalmente pela sua originalidade e ousadia, Rodrigo Aragão conseguiu levar o Mar Negro para mais de 30 festivais pelo mundo. No Espírito Santo, os filmes de Rodrigo Aragão participaram de alguns festivais e apenas o Mar Negro entrou em cartaz nos cinemas comerciais, mas ficou por apenas uma semana. 
 
“Infelizmente o Brasil não dá valor ao cinema de gênero, e se um país quer fazer um cinema de qualidade ele precisa ter pluralidade”, defende o diretor. Rodrigo sempre produziu seus filmes sem incentivo fiscal porque acredita que os editais do governo não valorizam esse tipo de filme. Entretanto, ele conta que recentemente escreveu o longa Mata Negra no Edital de Produção de Longa-Metragem de Ficção da Secult. Mata Negra é uma continuação do Mar Negro e ele aguarda o resultado para poder aumentar o nível da produção com esse dinheiro. 
 
“Espero que essa boa repercussão dos meus filmes fora do Brasil me faça ter mais visibilidade dentro do país. Porque conquistando novos espaços, posso tornar a vida da nova geração de realizadores independentes mais fácil”, acredita.

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